sábado, 15 de junho de 2013

Jeremias II



Maldito seja o dia em que nasci!
Maldito seja o médico que não foi capaz de convencer a minha mãe a abortar!
Maldito seja o dia quinze de junho!

Mais vinte anos e poderei morrer
Mas a minha alma anseia pela morte antes que o tempo se cumpra.
Não suporto a minha existência
Fardo pesado que carrego.
Fardo doloroso que arrasto como grilhões preso aos meus pés.

Ente amaldiçoado é o que sou
Ente por todos desprezado
Que Deus abandonou
Com as costas sobrecarregadas...

Maldito seja o dia em que vim ao mundo
Maldito seja o médico que felicitou meu pai dizendo: Nasceu um menino!
Por que me fizeram vir a este mundo?
Por que não me mataram?
Por que permitiram tal barbárie?

Dia do esquecimento
Alma desfigurada
Dia de escuridão
Espírito constrangido.

Dia sem sol
Noite sem estrelas
Dia de dor
Dia de sofrimento

Nasci como erro
Nasci como fracasso
Nasci como peso
Peso insuportável para todos.

Nasci e este é o grande erro
Nasci e este é o meu pecado
Nasci e anseio pela morte todos os dias.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Encanto

Teu sorriso me encanta no encanto da sua alegria,
Tua beleza me encanta ela não é apenas contorno harmonioso,
Tua Beleza me encanta porque é beleza da alma exprimida em harmonia.
Um sorriso encantador e uma beleza harmoniosa.

Encantar verbo que poderia significar estar repleto de canção.
“Em cantar” Simplesmente no canto, na harmonia, no arranjo perfeito.
Entre o sorriso e o olhar entre palavras e a transcendência te descubro em meus pensamentos.

Não é privilégio de uma musa, uma deusa, mas de uma mortal.
O encanto é como está cheio de alegria e está cheio de alegria lembra Spinoza é está cheio de amor.

Teu sorriso me encanta me perdi nele quando o vi.
Tua beleza me desconcerta e não sei o que fazer.
Sorriso pra encher os olhos.
E beleza para me tirar as palavras.

Encanto silencioso da alma, da tua alma
Encantamento silencioso da minha
Repleta de alegria por saber que existe algo de tão simples, mas tão belo
Que posso contemplar no íntimo da minha alma reconhecendo que até mesmo
No que é efêmero o belo se torna imortal.

Música

Minha alma chora como a sinfonia triste do violino
Minha alma dança ao som da flauta
Dança sem saber dançar
Dança descompassado sem ritmo
Minha alma se agita entre acordes e melodias.

Minha alma se alegra como o som estridente do tambor
Minha alma aguda pula e saltitante de surdez sonora.
Dança uma dança misteriosa
Dança ao ritmo das ventanias
Dança a dança das tempestades espetáculos da grande natureza.

Minha alma é como a música
Em sua complexidade possui um toque de beleza
Um toque de terror
Um toque de alegria
Minha alma é como a música
Harmonia matemática traduzia em sons
As vezes inaudíveis
Outras vezes falantes por demais.

Minha alma é como a música
Ela faz dançar
Faz cantar
Relaxa, estica, distende e atende.

Minha alma é como o som da flauta
Triste ou alegre
Melancólica ou entusiasmada
Não importa...
Importa é que a minha alma
É sensibilidade para as coisas da inteligência e para as coisas do coração

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Jeremias


Se entre lágrimas eu anúncio a destruição
Se entre lágrimas sou obrigado a me esconder!
Perseguição sofrida pelas palavras proferidas.

Só digo o que me pedes!
Só proclamo o que me ordenas!
Se hesito o meu peito incedeia
Por que a tua voz é braseiro no meu coração.

Minhas lágrimas frutos do meu sofrimento
Por dizer coisas terríveis!
Para anunciar tua justiça
Teu braço forte
Tua compaixão.

Me escolhestes
Me seduzistes
Me deixei seduzir
Me deixei escolher.

E cá estou lamentando o exílio
Lamentando a perseguição
Porque meus irmãos não me acreditaram
Me jogaram no fosso
Por que o peso da verdade é doloroso demais.

Dois Corações


Havia dois corações
Um estraçalhado
O outro partido
Um em pedaços
O outro dividido.

Dois corações
Entre desejos e vontades
Entre amores
Dois corações
Em silêncio
Duas distâncias tão próximas

Havia dois corações
Duas almas
Dois espíritos
Fragmentados
Anulados
Repartidos pelo destino

Havia dois corações
Eram dois destinos
Dois caminhos
Duas liberdades
Duas verdades
Dois amores
Um símbolo
Uma unidade.

Brener Alexandre 12/06/2013

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Pequena Reflexão sobre o namoro como instituição: A escolha de Hypparchia

Hoje dou continuidade a esta pequena reflexão que tem se tornado grande, chegando a sua terceira parte.
Depois de desconstruir o amor romântico fiquei de tentar responder sobre como seria possível uma relação pautada pela comunidade e por uma forma de amor que assimila, portanto, a ideia de cuidado e interesse uma forma talvez mais intensa de amizade movida pelo desejo sim, mas um desejo de construir e partilhar a vida.


Para apresentar uma possível resposta, apresento uma parte do relato que chegou até nós da filósofa cínica Hypparchia. Primeiro apresentarei a tradução do texto de Diógenes Laertios no qual encontramos o relato da escolha de Hypparchia e depois através de uma reflexão mais filológica apresentar através do vocabulário empregado o modo como o namoro como instituição se dá como comunidade de menor porte que começa com duas pessoas em uma adesão de vida comum e se estende através e sobretudo com o casamento e com a geração dos filhos. Vejamos então o relato da escolha da filósofa.


Diógenes Laertios nos conta que: “A irmã de Metrócles, Hypparchia, também foi capturada pelos discursos de Crátes. Ela amava os discursos e o modo de vida de Crátes, e não dava atenção aos seus pretendentes, nem a riqueza, o bom nascimento e nem a beleza deles lhe chamava a atenção. Pois Crátes era tudo para ela. Ela ameaçava seus familiares dizendo que tiraria a própria vida se não fosse dada à Crátes em casamento. Então, Crátes foi chamado pelos pais da moça e fez de tudo, mas por fim não conseguiu convencê-la, então ele se levantou e tirando as suas vestes diante dela disse: ‘ Este é o noivo e os seus bens, portanto, toma a tua decisão, pois não poderá ser a minha companheira a menos que tu partilhe comigo o meu modo de viver. ’ A moça escolheu, e adotando as mesmas roupas passou a andar com ele(..)” DL VI, 7, 96-97.


Antes que se pense que Hypparchia se apaixonou por Crátes como se fosse um amor à primeira vista eu devo dizer que a irmã de Metrócles já o conhecia, primeiro porque Crátes já era relativamente conhecido como filósofo e segundo porque Crátes já havia estado na casa de Hypparchia para ajudar Metrócles quando este pensou em se matar porque teve vergonha de um peido que pode ser visto aqui:Uma anedota cínica: O encontro de Metrócles e Crátes.
Portanto, não se trata de amor à primeira vista, mas há implícito na narrativa através de palavras bem específicas do vocabulário grego que examinaremos agora elementos que mostram um pouco do modo de vida de Crátes, isto é, a vida filosófica, mais especificamente da vida do filósofo cínico como também a relação íntima que há entre persuasão e amor se assim me é possível dizer.

 No início do relato Diógenes Laertios nos diz que Hypparchia foi “capturada” pelos discursos do filósofo cínico, e ele poderia dizer que foi seduzida, que foi encantada, mas não ela foi capturada. O verbo empregado é therao que significa: caçar, capturar, prender uma presa, laçar etc. Levando em conta que a escola cínica é associada aos cães (Por isso, Diógenes de Sínope é também chamado de “o cão” kynikós em grego) não me admira que Hypparchia fosse capturada, veja que o vocabulário do relato está ao menos na teoria e acordo com as bases fundamentais do modo de vida proposto pela escola filosófica apresentada (Na obra “vidas e doutrinas dos filósofos ilustres” obra da qual extraímos esta anedota sobre Hypparchia em cada livro Diógenes Laertios agrupa os principais filósofos das principais escolas do mundo antigo o sexto livro é dedicado aos cínicos e cada capitulo trata da vida de um filósofo. O capitulo sétimo do livro sexto apresenta a biografia de Hypparchia aqui traduzida). Mas isso pode ser explicado quando entendemos que os discursos de Crátes não são apenas palavras, mas um modo coerente que une as palavras com o modo de viver e é por isso que logo em seguida Diógenes Laertios escreve: “Ela amava os discursos e o modo de vida de Crátes”, Eros que é o termo mais usual para designar o amor no mundo grego expressa mais do que afeição o desejo, em outras palavras, não é apenas achar os discursos e o modo de vida de Crátes “bonito”, mas de desejar viver como ele vive. (O mito de Eros imortalizado no diálogo banquete escrito por Platão nos revela em detalhes a natureza de Eros ligada diretamente ao impulso de ser ou ter o que ainda não é, pois, Eros seria uma espécie de divindade intermediaria entre os homens e os deuses, sendo filho da Abundância (Poros) e da miséria (Pênia), é carente de tudo e ao mesmo tempo possui todos os recursos para atingir seus objetivos. No diálogo Platão coloca Eros como verdadeiro filósofo pois embora saiba alguma coisa está sempre carente de saber e por isso sempre deseja saber mais, por outro lado a natureza desejante de Eros implica necessariamente o interesse de se aproximar, de seguir de perto algo ou alguém, o amor é um querer assumir o outro para si.)  Eu traduzo por “modo de vida” a palavra grega bíos, bíos é, com efeito, tudo aquilo que está relacionado às condições do viver, diferente de zao (viver) que é a vida entendida como movimento, ação no sentido mais fundamental, por exemplo: dizemos que algo está vivo porque respira ou porque o coração está batendo. Bíos, por outro lado, carrega um sentido mais profundo, pois se refere às condições de existência, tanto éticas como ecológicas (quando aplicada a biologia, por exemplo). 

Portanto, o amor de Hypparchia não era um tipo de admiração passiva por alguém “brilhante” (Diógenes Laertios relata que Crátes era feio de rosto e que quando se exercitava na palestra fazendo ginástica provocava o riso Cf. DL VI, 5,91), mas uma inclinação para imitar ou seguir aquele modo de existir. E principalmente amar os discursos e o modo de vida significa em certo sentido amar a pessoa toda de Crátes para ser como ele, e ser um com ele. E  é preciso notar ainda que o desejo de ser como Crátes e de estar com ele era tão forte que mesmo Hypparchia sendo uma mulher atraente e ter do ponto de vista social bons pretendentes elas sequer lhes dava atenção ao contrário ela “Não dava atenção aos seus pretendentes, nem a riqueza, nem ao bom nascimento, nem a beleza dos mesmos” Estes três itens citados são importantes para a tradição cultural do grego antigo, digamos que seja ainda hoje. Os antigos gregos acreditavam que um homem feliz de fato era aquele que era rico, bem nascido (de boa família, ou família nobre) e belo (bonito, pinta etc.) No entanto, o cinismo despreza tudo isso, por considerar que todas estas coisas vêm e vão, importa para os cínicos e depois para os estóicos que são devedores do cinismo apenas a virtude, pois a virtude está acima da inveja, da vaidade e, é o que realmente faz do homem um homem.


Quando Hypparchia ameaça se matar e seus pais chamam Crátes para convencê-la a não se casar com ele temos outro dado interessante, porque os discursos que capturaram a jovem não a fez desistir?
Como, pois um filósofo tão eloqüente não foi capaz de dissuadir a jovem? Depois de “pant’epoíei”, de fazer de tudo, usar todos os meios que dispunha para fazê-la desistir, ele por fim percebe que não a persuadiu (peíthon) e tenta um último recurso, faz o seu último lance, vai para o tudo ou nada, ele tira a roupa na frente dela e diz que aquele manto surrado é tudo o que ele tem e que se ela realmente quer ser sua companheira (koinonón) ela vai ter que compartilhar (epitédeumáton) a maneira de viver. Vejam que para o grego ser companheiro é ter em comum, a própria phília (amizade) nos remete a ideia do “ter tudo em comum”.
Portanto, a ressalva feita por Crátes ao ver que não tinha como persuadi-la era essa, se quiser tudo bem, mas você vai ter que ser capaz de viver como eu vivo.
No fim, Hypparchia escolhe por Crátes e adota seu modo de viver usando apenas um vestido e seguindo-o aonde quer que fosse.


A escolha de Hypparchia é a escolha pela comunidade, por um amor que transcende toda a superficialidade que a atração física, a beleza ou o bom nascimento poderiam trazer ao primeiro olhar, ela viu além nos discursos do filósofo, viu certamente um modo de vida que mesmo difícil trazia consigo a semente da felicidade e desejando construir esta felicidade através da prática da virtude que é a causa de ser do cinismo, Hypparchia abraça um modo de vida compartilhado com seu marido.


Hypparchia não conheceu a banda americana Turtles, mas certamente repetiria o adágio: “Imagine me and you, I do (...) so happy together” (Imagine você e eu, Eu imagino tão felizes juntos).
Tendo tratado da escolha de Hypparchia e apresentado o quanto a sua escolha reforça que o namoro ou o casamento deve ser sempre uma comunidade que parte da atitude livre das duas pessoas tratarei na sequência da vida celibatária, isto é, da vida de solteiro distinguindo primeiramente o sentido ordinário e exercitado no mundo antigo e pagão do celibato adotado no cristianismo.

Pelo momento não há mais nada a dizer.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Inverno

O inverno se aproxima o inverno já vem
O frio do clima desvio na minha alma
O frio na minha alma é o anúncio da morte.

O inverno se aproxima,
Por que tu ó, sol se pôs para mim!
Por que tu, ó Lua escondestes entre as nuvens a sua face iluminada!
O inverno se aproxima e com ele a tua alma gelada
O inverno se aproxima e com ele os ventos do esquecimento

Ansiedade e medo duas palavras que traduzem o que sinto
São sinônimos da minha tristeza e traduzem a arritmia que me acossa.
O inverno nem chegou para mim dura uma eternidade
O inverno ainda não veio, mas é como se todo o frio me perseguisse.
Manhã sem sol e noite sem lua...
Manhã gelada de desespero
E noite fria de ventanias tempestuosas...

O inverno se aproxima e nos distanciamos
O inverno que ainda não chegou anuncia a sua partida
O frio pálido
As noites longas

O inverno chegou e eu não tinha reparado
São as noites em claro
Os dias sem vida

E a ansiedade de uma primavera longínqua...

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Recordação

Já não sinto o teu perfume
Já não vejo o brilho dos teus olhos
Mas ainda me lembro do aroma que saia dos teus cabelos
Das duas amêndoas que reluziam diante de mim.

Oque me resta é uma memória pálida
Uma imagem sem vida uma foto amarelada...
Oque me sobrou foi apenas o que volta ao meu coração
Sua imagem longínqua e distante...

Ah, se eu pudesse sentir o teu perfume mais uma vez!
Ah, se eu pudesse tocar a tua pele macia como o pêssego fresco
Olho para ti sem te ver
Sinto sua respiração sem te abraçar
Porque a imagem amarelada ganhou vida em minha memória quando se aproximou do meu coração.
No verão você é o sorriso do sol
Na primavera você é a flor que desabrocha
No outono você é suave como a brisa que se aproxima...
Mas é o inverno que se aproxima e nele o que você seria?
No inverno você é o calor que me falta
O fogo que me impulsiona
O sol que se esconde

A semente da esperança...

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Silêncio III

Volta o silêncio tagarela
Volta o som surdo no vazio
Meus olhos encontraram os teus
Minha boca nada podia exprimir

Volta o silêncio tagarela
Volta o som surdo no vazio
Meus olhos te viram
E minha boca nada conseguia exprimir

Ó silêncio! Perturbador da minha paz!
Ó silêncio! Sintoma da minha dor
Minha voz não quer sair
Minhas palavras ensurdeceram diante da violência do mundo!
O ruído tímido pode ser ouvido
É o gemido calado da minha alma

O meu coração foi silenciado
Meu espirito não tem voz não pode mais falar
Minha alma está muda de dor!

Ó silencio! Me traga paz! Não sofrimento!
Seja a cura e não a doença!
Ó silencio!
Ó silêncio
Só nas palavras escritas entre reticencias e aspas me é possível gritar...
Só nas palavras não ditas é que expresso a minha dor
Silêncio, maldição dos que são chamados a ser porta-voz...
Silêncio, ensurdecimento, opressão da palavra

Silêncio... palavra nadificada.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

O Cântico

Fui visto na rua a cantar
Não era um cântico de alegria
Não era um cântico de felicidade
Fui visto na rua a cantar
Um cântico e nada mais.

Eu canto para espantar a tristeza
Canto para que a minha voz seja a minha companheira
Andar sozinho exige o cântico
Andar sozinho exige coragem.

Fui visto na rua a cantar
Cantar a minha tristeza
Cantar o meu sofrimento
Fui visto na rua cantar
As noites mal dormidas
A dores incompreendidas
A solidão que me acolhe

Fui visto na rua a cantar e pensaram que eu estava alegre
Enganados pela harmonia do som não viram meus olhos tristes
Não viram minhas mãos tremulas de medo e nem o pânico no fundo dos meus olhos
Não viram que sou covarde ante a vida
E que tenho medo de existir, pois a existência é deveras dolorosa.

Um cântico foi ouvido
Um cântico triste e medonho
Sou o pássaro solitário
Que canta um canto de tristeza
Que canta o canto do pavor
Que canta o canto do abandono

Que canta o canto da solidão

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Sol

Ah, Sol! Luz da manhã para onde vai?
Vem trazer teu calor em forma de sorriso! Teu calor em forma de alegria!
Dissipa o frio da madrugada!
Seca as gotas geladas de orvalho que a noite outrora me trouxera.

Vem luz da manhã!
Venha iluminar a minha alma!
Encher o meu espírito!

Para que eu tal como a lua reflita a tua luz transmutada em beleza!