domingo, 28 de julho de 2013

Sarjeta



Desci até o inferno
Desci até as prisões do Hades
Não havia dia, mas havia luzes
Não havia noite, mas a escuridão reinava.

Um beijo e estou perdido
Como o grão de romã que capturou Cora
Um olhar e estou condenado
E como Perséfone minha alma se torna prisioneira.

Fui para a sarjeta
Minha alma estava perdida
Minha alma que te desejava
Minha alma que te tem por querida.

Fui à sarjeta
Desci o mais fundo
Me sujei
Me manchei
Mergulhado nos erros
Solidão como paga de um purgatório sem fim.


Desci até o inferno
Levado por beijos e carícias
Desci ao inferno seguindo o ritmo do som caótico
Desci até o inferno
Escuridão plena, solidão absoluta.
Desci ao inferno e minha consciência fui destruída.
Desci até o inferno
Sarjeta para alma e engodo para o espírito.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Eclipse da Lua


Noite vazia
Noite solitária
Sem estrelas
Sem nuvens
Havia um brilho
Havia uma luz
Que a penumbra engoliu
Que a penumbra escondeu.

Tudo é escuridão sem o brilho da lua cheia
Cheia de alegria, cheia de sorriso
O brilho refletido do sol oculto pelo ocaso
Brilho reflexo do espirito que segue a luz do sol.

Tudo é escuridão quando a penumbra engole a luz
Tudo é noite, são trevas...
Ó, Lua! Onde tu estás? Se escondestes de mim?
Tu foste a minha amada!
Aquela que desejo contemplar
Porque te contemplar me faz feliz
Ao ver o brilho do sol que tu reflete
Descubro as maravilhas ocultas no universo.

Ó, Lua! Não me abandone também!
Deixa-me ver o teu brilho mais uma vez
Pois é com os olhos que acaricio tua face
E é com ternura que vislumbro suas fases.

Ó, Lua! Clamo a ti! Suplico-lhe
Deixa tua luz entrar pela minha janela
Pelas janelas da minha alma
Penetra fundo a minha alma
Cura o meu espirito quebrado!
Ó, Lua! Estou perdido porque eu também fui engolido pela penumbra
Estou mergulhado na sombra densa da noite escura.
Não vejo nada, não sinto nada
Apenas medo
Apenas pânico
Nem as estrelas permaneceram para me fazer companhia.

Ó, Lua! Ainda mais um pouco e te procuro...
Ainda mais um pouco te desejo...
Ainda mais um pouco me lembro de como a tua luz me foi agradável.



quarta-feira, 17 de julho de 2013

Cicatriz em forma de Cruz II

Carrego uma cruz em forma de chaga
Carrego uma chaga em forma de cruz
Impressa na alma ela sangra e me vaza
Encrustada no ser ela me marca.

Transporto-a como a minha vida
Arrastada, pesada e dolorida.
Transporto-a e não quero transportar
Transporto-a e dela me é impossível se livrar.

Carrego uma cicatriz em forma de cruz
Dois cortes na alma entrecruzados
Carrego uma cruz-cicatriz
Uma marca de dor
Carrego uma cicatriz
Lembrança do que me fizeram
Carrego uma cruz
Suplício dos amaldiçoados.

Tenho uma ferida sangrenta
Sangra quando há conflito
Sangra quando não há remédio
Ferida entrecortada, cruzada.


Carrego uma ferida em forma de suplício
Carrego uma chaga em forma de lembrança
Carrego uma cicatriz em forma de condenação

Transporto meu sofrimento estampado na alma.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Duas Parabolas

O Rádio fora de frequência

Uma alma perturbada, isto é, sem tranquilidade, confusa é semelhante a um aparelho de rádio fora de frequência.
Ora, o seu oposto, ou seja, uma alma tranquila é como um rádio bem ajustado. Mas imagine uma situação em que tentamos ajustar o rádio para que o som fique limpo e ao tentar ajustar a frequência o desajustamos, o rádio não é um rádio digital, mas um modelo mais antigo que exige paciência para ser ajustado.
Ao tentar ajustar a frequência para obter o som limpo qualquer movimento mínimo pode fazer com que percamos a estação sintonizada e no mais das vezes não é fácil resintonizar a estação perdida.
A alma, com efeito, é semelhante a um rádio analógico, o qual muitas vezes perde a sintonia, ou quando tentamos ajustar sua sintonia para melhorar a qualidade da frequência acaba por sair da estação sintonizada. E como é difícil recobrar a harmonia, perder os ruídos e tornar a ouvir um som inteligível.

O animal maltratado


Qual é a reação natural de um animal vítima de maus tratos?
Tal animal seria capaz de confiar em qualquer um que se aproxime dele?
Não terá medo de ser maltratado? De que possam atentar contra sua existência?
Não fugirá da dor de reviver os maus tratos de outrora?
O animal maltratado é movido pela natureza a se proteger de qualquer um que se aproxime. Ele fica encolhido para criar um ambiente seguro para si. O animal maltratado se esconde para não ser encontrado, não quer ser visto porque tem medo, não há segurança em qualquer lugar, e os riscos de confiar sua integridade a quem se aproxima é demasiado alto para ser feito.

Quem quer ter a confiança do animal maltratado deve ir devagar. Não pode parecer uma ameaça. Precisa ser paciente saber que suas investidas nem sempre trarão resultado imediato até que por fim pode se colher os frutos. Se houver perseverança e paciência e verdadeiro interesse em fazer o bem.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Alegoria do brinquedo quebrado ou com defeito

Que criança podendo escolher brincaria com um brinquedo quebrado?
Qual a utilidade do brinquedo quebrado?

Uma criança só brinca com um brinquedo quebrado quando não dispõe de um brinquedo em perfeitas condições.
 Afinal, é muito mais legal brincar com um carrinho com rodinhas do que sem rodinhas, uma boneca com braços e pernas e cabeça do que sem estas partes do corpo.
Portanto, leia atentamente esta pequena parábola:
Havia duas crianças, uma que nunca teve um brinquedo na vida e outra que tinha muitos brinquedos todos inteiros bem conservados; acontece que a criança que nunca tivera um brinquedo encontrou um carrinho sem rodinhas e brincou muito com ele.
Até que um dia ganhou uma caixa com uma frota de carrinhos novos, todos com rodinhas carrinhos de todo o tipo. Qual então foi o destino daquele carrinho sem rodinhas? Provavelmente foi esquecido em algum lugar da casa, ou mesmo jogado ao Lixo.

A outra criança, que tinha muitos brinquedos bons, certa vez notou que as asas de um aviãozinho havia se quebrado e como havia outros aviõezinhos e tantos outros brinquedos simplesmente o deixou de lado pegando pó, pois porque haveria de consertá-lo? Se havia tantos outros brinquedos que poderiam substituí-lo?
Tantos outros brinquedos que lhe proporcionariam momentos de alegria e descanso, em que ele não teria que se preocupar em tentar consertar o brinquedo, sem saber se daria certo. Por que me preocupar? – se perguntaria a criança, pois se está quebrado, é porque está velho e obsoleto, porque eu perderia o meu tempo tentando arrumá-lo? Ou pediria a alguém que o fizesse? Se tenho tantos brinquedos este não me fará falta. Seria assim, mesmo que chorasse no primeiro instante, mesmo que cogitasse de arrumá-lo, se conformaria e o abandonaria em função de ter outros brinquedos em melhor estado de conservação.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Lucidez

Eu sei que já impressionei mais de uma pessoa com a minha lucidez.
A Lucidez é por certo uma espada de dois gumes, digo isso pelo simples fato de que por meio da lucidez me torno extremamente forte, às vezes não o suficiente para vencer, mas para parafrasear o personagem Rocky Balboa: “aguentar apanhar muito”. Uma força que me faz resistir, mas que me faz sofrer o suficiente para implorar pela morte.

De fato, se por um lado, resisto lúcido sabendo tudo o que me acontece, de outro lado, sofro duplamente seja pelo desespero de tentar resistir o quanto posso e resolver o problema, quanto, o de saber que no mais das vezes a dor, sintoma de um mal é o reflexo de uma doença, de uma ferida incurável já há bastante tempo.

Entretanto, sucumbo a dor, caio tentando resistir consciente, grito em meu interior de desespero, sinto-me abandonado, inquieto e inseguro. Mas caio com a consciência de que tentei me manter livre e de preservar a liberdade dos outros quando necessário.

A lucidez tão louvada é como disse um grande poeta da nossa música: “um holofote que cega mais que ilumina” e que, portanto, sua luz no mais das vezes nos faz mergulhar na mais profunda escuridão.
Tenho gritado de dor e sei que ninguém ouviu, entre pesadelos e memórias do passado que pensava já ter superado, mas que as ironias da minha vida insistem em trazer à tona como instrumento de tortura. Esta é a causa da minha doença e do meu sofrimento, as sequelas, feridas que se abrem.

Minhas noites escuras, noites escuras da alma em que tal como Jesus eu gritei: “Por que me abandonastes?” Achei que não viveria de novo esta experiência nada agradável do abandono.
Noites escuras, em que a minha lucidez nem sempre pode clarear com esperança, ainda que eu o quisesse... E aí me veio uma definição de fé. Fé é crer na esperança. No fim, juntei duas virtudes teologais, não porque ignore a caridade, mas ainda sou demasiado imperfeito para me sentir caridoso. Gosto do que Madre Teresa de Calcutá nos ensina sobre esta virtude teologal: “a caridade é amar até doer”. É verdade, quem ama sabe que o amor dói. Porque quem ama se doa inteiro e no se doar por inteiro é paciente, isto é, passível de receber tudo.

Agora vocês sabem que porque eu sofri muito eu fui capaz de amar mais ainda, mesmo sendo tão imperfeito tão miserável. Já há algum tempo que me sinto inepto para a vida cristã, todas essas provações e esse modo de amar tão peculiar que é bem verdade me ajudaram a ser um ser humano melhor (não tão melhor quanto deveria, mas melhor), também é causa de muita dor, dor para qual não há remédio. Como aqueles judeus depois de ouvir Jesus, tenho eu também vontade de partir porque suas palavras “são duras demais” (Jo 6,60) mas, “para onde irei? Só tu tens palavras de vida eterna.” (Jo 6,68).

E assim, como posso tenho tentado não sem fracasso fazer o melhor que posso para resistir e proteger a herança que me foi confiada e ser o melhor que posso, embora saiba que tenha desapontado a muitos pelas vezes que cai e demorei para me levantar.
Esta lucidez, única arma que possuo para combater, único remédio que disponho para lidar com todas essas dores, me mostrou que a dor não deve ser simplesmente julgada, porque quem a sente sente e dói. Ouvi não poucas vezes que outras pessoas tem “problemas maiores” que o meu. Isso é verdade, mas também é verdade que para quem tem uma cólica ou gastrite, ou ulcera, ou cefaleia, a dor não é a mesma, mas é dor.
Mas quem é capaz de medir a dor que tantos maus tratos do passado pode incutir na alma de um ser humano?
Como medir a agonia de um ser humano que emudece contra a sua vontade diante das pessoas que ele quer bem? Trêmulo, quase sem respirar, suas pernas enfraquecem, tem vertigens, tomado pela agonia de resistir e se comunicar sem sucesso.
A este só restava a reclusão, pois se sofre sozinho, o sofrimento é triplicado quando não pode comunicar o que sente a quem ama.

Lúcido, eu ás vezes desejei a anestesia para que tal dor não me acossasse, para que tanta tristeza não me fizesse chorar a noite e que o meu silêncio não fosse interpretado como ressentimento e ódio.
Muitas pessoas não sabem, mas é horrível ficar incomunicável, tomado pelo pânico e angustiado fazer o movimento hercúleo para a fuga.
Pesadelos e ataques de ansiedade tem se tornado rotina nas últimas semanas. Quase não sei o que é sorrir mais...

Uma das minhas maiores frustrações é ter a consciência da minha estafa que me impede de fazer o que mais amo, filosofar, impossibilitado de estudar e de dar continuidade aos meus projetos profissionais. O meu aniversário foi outra decepção.
O últimos dias tem sido difíceis, tenho recorrido ao meu padroeiro Santo Antônio, São João da Cruz e a florzinha do Carmelo (Santa Teresinha do menino Jesus e da sagrada face) que com suas experiências de fé e vida tem sido como que um complexo vitamínico para que eu possa resistir até o dia derradeiro. Ainda espero contar com o reforço de outra Santa do Carmelo, Santa Teresa de Jesus ou D’Avila para que eu possa aguentar apanhar muito ainda e quem sabe bater.

Que fique claro, que estou ciente das minhas fraquezas, ciente das minhas misérias, ciente de que feri quem amo na inteireza do meu ser e que desculpa nenhuma me torna digno de perdão. Mas que fique claro também o quanto tenho sofrido e que só agora um pouco anestesiado, posso por ironia falar da lucidez que me acompanha desde a muito tempo e que sempre foi a arma que me conduziu à vitória nestes combates apoiado pelo escudo da fé.
Tudo quanto escrevi recentemente são os meus gritos de dor, são as minhas lágrimas sem consolo, vindos de um homem que contemplou e contempla seus medos, que é perseguido pelo pânico mesmo que educado para a auto-suficiência, uma vez que, nunca teve a quem recorrer. O que de certa forma torna o meu mal ainda mais grave.

Falei bastante da Lucidez, mas não deixei a imagem clara do que ela é depois de contar como tenho me sentido e me sinto e o que tenho tentado fazer para suportar. Quem já viu o filme “Coração valente” com Mel Gibson vai se lembrar da última cena, quando Willian Wallace é preso e condenado a morte dolorosa e agonizante, sua amada, lhe oferece um remédio para que ele não sofresse e ele se recusa. A lucidez é exatamente esta recusa, é deixar-se deitar na mesa de torturas para que antes do último suspiro se possa gritar “liberdade”. Mas digo mais Lucidez é a consciência de tudo o que se passa, dor, frustração, agonia, angustia, medo. Fiz e faço o que posso para não me entregar, às vezes não é o suficiente e quero desistir, mas não desisto.

Deus sabe o que tenho passado nas ultimas semanas, ainda que eu não tenha sentido sua presença paternal junto de mim. “Ele que sonda os rins e o coração” conhece todas as minhas misérias e minha pequenez, minhas vaidades e minha mesquinhez.

E agora, vocês também o sabem ainda que de modo superficial o que tenho passado, achei que deveria escrever, já que não me é possível falar a quem gostaria, para que soubessem que não me sinto bem, que tenho medo e que não sei o que vai ser de mim.

Não busco redenção, isto é apenas um desabafo, de alguém cansado da tensão a que tem sido exposto por muitos dias, sendo obrigado a beber doses mortais do passado que rasgam e dilaceram o espirito. Quero acreditar que isto tudo vai acabar logo, esta é a minha esperança e tenho fé, pouca, mas tenho!
Portanto, estas eram as palavras que por vezes queria dizer e não consegui e que agora tomado de ânimo e força escrevo para que quem as ler saiba como tenho me sentido lutando em silêncio para suportar o meu existir.


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Eclipse do Sol II

Ó Sol! Onde estás?
Onde estás tua luz? Teu brilho e teu calor?
Porque já não vejo tua luz, mas deixado nas trevas
Na escuridão em que me encontro!

Como prosseguirei?
Para onde irei? Se a esperança é uma crença sem resposta
Se só me resta tormento e agonia, angustia e sofrimento.

Como posso caminhar na escuridão se não enxergo o caminho!
Ó sol! Quebra a parede de nuvens, não se esconda atrás da lua!
Ó sol! Ilumina o meu caminho, para que eu possa desfrutar do descanso e do regozijo.

Outro eclipse me assola, outra dor que me atormenta
Escuridão sem fim
Noite escura da minha alma
Penumbra em meu ser...
Onde está tu, ó luz!?
Por que me abandonastes?
Por que me deixastes no abismo?
Dá-me outra vez uma centelha do seu fogo, uma chama de esperança.
Ampara-me em minhas misérias e socorre-me no desespero..
Pois tenho medo das tempestades, tenho pesadelos quando estou só!

Não se esconda de mim, não me deixe sozinho à noite...

Gramática do Amor

Amar infinitivo da dor
Amado substantivo do desejo
Passado lascivo
Passado cobiçado

Amante particípio do sofrimento
Sujeito de desejos
Sujeitado pelas ilusões

Amor sinônimo de ferida
Antônimo chagado da inimizade
Amor verbo intransitivo intransitável
Por vezes intratável.

Amor adjetivo da beleza
Cúmplice do terror
E vítima dos próprios medos
Amor advérbio ou pronome
Palavra viva ou
Letra morta

Amor amar
Amante amado
Amada amante
Amor sujeito sem predicado.


Brener Alexandre 01/07/2013