sábado, 22 de agosto de 2015

Lado escuro da lua

Só ontem me dei conta de que só viam o lado escuro da lua.
O lado escuro da alma, lado oculto do espírito.
Só ontem me dei conta da escuridão escondida
Da penumbra que existia.

Um lado escuro que nem eu mesmo via, embora soubesse que existia.
Um lado oculto que todos veem, embora escondido, ofuscado, embora em segredo, manifestado.
Só ontem percebi o lado oculto esburacado, ferido e chagado.
Escuro e frio nunca iluminado e sempre escondido é o lado obscuro apercebido.

Só ontem percebi o lado escuro da lua,
O lado escuro do espírito, lado escondido da alma.
Só ontem tomei nota da escuridão que me aturdia
Da penumbra que existia.

Um lado escuro que eu via, porém fingia que não existia.
Um lado oculto que assusta e todos veem, manifestado como um eclipse.
Uma penumbra que ofusca o brilho refletido.
Uma sombra projetada pelo destino.

Só ontem me dei conta do que vi, o lado oculto da lua.
O lado escuro da alma, lado obscuro do espírito.
Só ontem notei a escuridão velada
As feridas provocadas engolidas pelo breu.
A penumbra que cobre o lado oculto,
A escuridão que gela a alma,
Obscuro caminho de dor,
Segredos da alma que sofre,
Lado nunca iluminado,
Sempre escondido da luz,
De costas é açoitado
Pelas dores soturnas da alma,
Pela falta da luz do coração.


terça-feira, 18 de agosto de 2015

Só sorrio para ti.

Só sorrio para ti, um sorriso em segredo.
Espontâneo e sincero sorrio sempre que lhe vejo.
Pessoalmente, ou na mente, em fotografias e arremedos.

Só sorrio para ti, entre tantos rostos conhecidos.
Natural e franco é a oferta do meu sorriso.
Quantas vezes lhe vejo, quantas vezes sorrio.
Um sorriso sincero, terno e alegre como um riso.

Só sorrio para ti, pois é só a ti que os meus olhos veem.
O meu coração só reconhece a ti e mais ninguém.
Cada vez que a tua imagem aparece para mim.
Meu coração se alegra sorrindo para ti.
Um sorriso é um cartão de boas vindas.
Um convite aberto para você fazer parte da minha vida.

Só sorrio para ti, e meus olhos procuram por ti.
Nos vazios e nas ausências, na memória e nas essências.
O sorriso meio alegre e meio triste é verdade.
Alegre porque te ama e triste porque tem saudade.




sábado, 15 de agosto de 2015

Diógenes e a Lanterna ou procuro um político honesto

Há uma anedota famosa transmitida por Diógenes Laértio na sua Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres acerca de Diógenes, o cão ele nos conta que: “durante o dia, Diógenes, caminhava (periéei) segurando uma lanterna dizendo: ‘procuro um homem’! (anthropon zetô)” (Diógenes Laértios,Vidas e Doutrinas. VI,II,41).
Essa anedota chama a atenção pelo excentrismo do filósofo cínico, mas a sua performance nos diz mais do que queremos saber. Na linha acima desse relato Laértio no informa que: “Diógenes dizia que os demagogos são empregados das massas (ókhlou diakónous)” (Idem. VI,II,41). Imaginem Diógenes, ele toma a sua lanterna em plena luz do dia e perambula pelas ruas da cidade gritando: “procuro um homem de verdade” digo perambula, porque é exatamente isso que o verbo pérao  indica, quer dizer, Diógenes andava de um lado para o outro com sua lanterna em punho.  Procurava um homem de verdade, ánthropos, o gênero humano por excelência e não o homem e a mulher, o macho e a fêmea, mas a humanidade escondida por detrás do macho e da fêmea, do homem e da mulher. Mas hoje quero repetir o gesto do filósofo cínico e pegar a minha lanterna, porém, não vou procurar por um homem de verdade, mas por um político honesto.

Procuro um político honesto, porque só me deparo com demagogos. Me sinto como Diógenes que sempre que lhe perguntavam se havia muita gente em um lugar respondia: “sim, muita gente (ókhlos polýs), porém, poucos homens (olígoi d’ hoi ánthropoi)” (Cf. Idem. VI,II,60). Chama a atenção pelo contraste entre ókhlos e ánthropos, entre multidão, massa, turba de um lado e homens do outro. Para o nosso filósofo cínico a práxis política se resume a demagogia, e creio que seu diagnóstico se dá principalmente pela força dos discursos que ouvira na assembleia ateniense. A política resumida à demagogia, isto é, a condução do povo, dessa multidão que corre como um rio impetuoso. Por isso também Diógenes louvava quem queria participar da política (assumindo um cargo), mas não assumia. Diógenes, é certo, seria considerado um anarquista e o anarquismo pela sua radicalidade pode ser difícil de ser compreendido e assimilado, mas ao menos nos põe a pensar, e a querer perambular com uma lanterna na mão a procurar um político honesto, um homem de verdade.

Procuro um político honesto, mas só me deparo com demagogos. Procuro um parresiásta, mas ele se esconde da política. A política como profissão exige de quem a professa que seja capaz de vender a mentira como verdade. O político profissional é um adulador que diz o que a turba quer ouvir, por isso “o demagogo é um empregado das massas”, porque se põem aos seus serviços adulando-o. A adulação passa do dizer o que a multidão quer ouvir a fazer o que ela deseja, mesmo que isso seja prejudicial.

Inquerido, certa vez, sobre que fera teria a mordida pior, Diógenes respondeu que das feras selvagens o sicofanta (os sicofantas viviam da extorsão e do estelionato) e das feras domésticas o adulador (kólacs) (Cf. Ibidem. VI,II,51).
Ser seduzido pelo adulador, seja no âmbito privado, isto é, pelos amigos e familiares que querem receber seus favores, seja no âmbito público, ou seja, pelo demagogo é receber uma mordida terrível.

Vou segurar a minha lanterna, sob o brilho da luz do sol em busca de um político honesto, em busca também da minha honestidade, e gostaria de ter a felicidade de encontrar ao menos uma das duas coisas.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Antes me viesse a morte- irmã morte

Pois, antes me viesse a morte e de surpresa me levasse, de súbito a noite enquanto durmo, e não mais eu acordasse.
Pois, antes me viesse a morte, irmã querida de Francisco pela mão me puxasse e trouxesse contigo um sorriso amigo.

Antes a morte sincera e destemida, do que essa vida ingrata e cheia de mentiras.
Antes a morte, irmã doce e gentil, do que a vida amarga, inimiga vil.

Pois, antes me viesse a morte, sono profundo e misterioso,  me tomasse devagar sem dor e sem pressa como a alegria de caminhar numa praça de bicicleta.
Pois, antes me viesse a morte, irmã querida de Antônio, de súbito me abraçasse de felicidade e em pranto.

Antes a morte que torna todos iguais, do que a vida injusta com suas desigualdades triviais.
Antes a morte, irmã suave de outrora, do que a vida insossa que me persegue toda hora.

Morte, irmã morte, vem como sono tranquilo e traz-me de presente o sonho do paraíso.
Morte, irmã morte, vem suave e devagar e me beija com ternura e deixa me se enamorar.
Morte, irmã morte, inesperada e imprevisível vem de surpresa, venha como um desatino.