domingo, 19 de junho de 2011

Besouro

Hoje a tarde eu revisitei o filme “Besouro” que eu assisti no cinema na época de seu lançamento.
Não quero tratar do filme enquanto filme, não sou critico de cinema, quero apenas ressaltar a importância que o filme tem para a formação cultural do cidadão brasileiro.
Por que é importante? Porque Besouro apesar representar uma sociedade do ínicio do século XX, a história se passa em 1924 na Bahia. Mas o problema que atravessa a trama é muito atual, a questão da igualdade e do preconceito; duas instâncias que tem dado muito que falar em redes sociais, tanto no que diz respeito à consciência negra, como sobre a homossexualidade.
Besouro trata justamente da luta legítima pela igualdade, pelo respeito e, sobretudo pela liberdade de viver com dignidade praticar a sua cultura, afinal de contas liberdade cultural e religiosa é o princípio básico da igualdade constitucional. Besouro é um excelente filme a ser apresentado para crianças e adolescentes conhecerem melhor a cultura africana, a presença dos Orixás no filme faz o filme Tróia com o Brad Pitt (filme horroroso) parecer coisa de criança, de tão fraco.
Besouro trata a capoeira como patrimônio da mãe África, que como flor importada de longe floresce em solo brasileiro. As coreografias de luta remontam os grandes filmes de Wu-shu (filmes que recriam toda a atmosfera mitológica entorno das artes marciais chinesas). Então a capoeira passa a ser uma espécie de artes marciais afro-brasileira, parte da nossa cultura herdada do povo africano.
Um filme que realmente traz a tona a consciência de que a etnia merece ser tratada com respeito, que a origem étnica não faz ninguém melhor ou pior. Basta lembrar as palavras do mestre Alípio ao seu discípulo Manuel (Besouro) “ser pobre é uma condição que pode ser mudada, ser Negro é pra vida toda e tem que sentir muito orgulho disso”.
Orgulho é uma palavra muitas vezes mal vista, sempre é sinônimo de individualismo. No entanto o orgulho é uma forma de amor-próprio que precisa ser exercitada, e o filme ensina a relacionar este orgulho de ser tal qual se nasce e reconhecer e aprender a mergulhar no coletivo sem perder de vista quem você é.
Outra lição de mestre Alípio: “um é forte, mas três é mais forte ainda” incita o trabalho em equipe um tipo de funcionalismo muito interessante que a nossa sociedade não sustenta graças ao mercado de trabalho super competitivo.
A visão escatológica, e da religiosidade características do mundo pagão são muito bem apresentadas no filme. É um filme que vale a pena por muitos motivos. Fica aqui a minha indicação para quem ainda não viu um bom filme brasileiro, esse é bom mesmo, recomendo.