segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O que é então namorar?


   A palavra namorar em nosso idioma tem o mesmo sentido que a palavra enamorar e significa justamente trazer o amor para si, ficar cheio de amor por alguém.
Namorar pode se dizer ser irmã da amizade, porque ambas precisam para se tornar o que são da semente do amor. Para estas duas irmãs gêmeas o desejo de estar com alguém é que mantém os laços da concórdia. Assim como Morte e Sono estão ligados pelo descanso, um temporal, o outro eterno. Estas duas irmãs também estão ligadas pelo amor, porém ambos tem sede de eternidade.
Namorar é repintar em muitas cores o mundo. É gerar um laço de confiança. O amor que gera o namoro tem que ser tão forte que nos faz querer ser “uma só carne”, é tão forte que a certeza se firma a cada dificuldade superada. Quem ama não enfraquece diante dos obstáculos, ao contrário se fortalece com eles, porque o amor quando não é simples atração, desejo ardil e concupiscente não se apaga na chama do desejo realizado.
      E muitas vezes o amor sábio e filósofo como contava o velho Sócrates ensina as duas irmãs na sua intimidade com a afetividade a ceder uma à outra. Na verdade a amizade irmã mais velha do namoro é quem cede como casulo que transforma a lagarta em borboleta.
Porque o amor ensinou a amizade a se deixar tocar de tal modo por ele que o encanto aumenta oque é transformado pelo mistério, duas solidões em presença real de carinho e cumplicidade, e digo mais as gêmeas andam sempre juntas fazem guirlandas de flores, dançam e riem, pois o amor é maroto, as vezes pueril as vezes viril mostrando quando lhe convém que aquele ou aquela pessoa pode ajudar a completar o teu projeto para a vida, porque para o amor a mudança só existe com um único intuito: chegar ao objetivo final e nunca para desviar quem quer que seja do seu caminho.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Outro Dom quixote

 E se eu te contasse o que eu sinto?
 E se eu te falasse do meu íntimo?
 O que mudaria?

 E teus olhos não podem ver quem eu sou no meu silêncio
 Então o som do que eu sou não poderá ser apreendido por você quando falar
 E nada mudaria...

 E se eu me arriscasse?
 E se eu lutasse pelo que sinto por você?
 Faria a diferença?

 De que adianta me arriscar por alguém que não entende o que eu sou e nem o que eu sinto.
 Lutar não é mais que transformar a minha frustração em dor e me ferir outra vez.
 E nada mudaria a não ser que a minha alma estaria ainda mais torturada pelas tuas lembranças.
 Brener Alexandre 07/08/2012

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Pequeno tratado sobre a amizade

A amizade é um dos grandes temas abordados pela filosofia clássica. E por que a amizade tem tamanha relevância para a filosofia? Porque ainda que a sociedade tenha se tornado por demais complexa é a amizade que expressa a concórdia entre as pessoas reunidas por um ideal. Eu sou inclinado a aceitar análise que Aristóteles faz da amizade na Ética a Nicômaco, que me parece ser muito acertada. De fato, o Estagirita entende que a amizade pode ser classificada em três tipos do qual apenas um é de fato amizade configurando assim um clássico problema de homonímia com a palavra amizade no uso cotidiano do termo. Com efeito, falar da amizade com um olhar filosófico implica repensar a ética das virtudes ou melhor significa falar das virtudes e entender a amizade como uma afeição sadia que se relaciona com as virtudes. Entendo por amizade como já manifestei de modo impreciso uma disposição afetiva entre dois seres humanos. Esta disposição afetiva envolve uma inclinação ao cuidado e o desejo de convivência entre as partes envolvidas. Por cuidado quero dizer o desejo e a satisfação de ver o outro bem, alcançando o sucesso em suas realizações pessoais e morais. E o desejo de convivência é uma conseqüência inerente à inclinação ao cuidado, uma vez que cuidar implica se envolver e se relacionar. Então para falar de amizade penso que o melhor a fazer é começar pelo cuidado como demonstração de interesse e afeto genuíno pelo outro. O cuidado é uma marca que exprime a amizade e esta é uma expressão do amor que sentimos por um semelhante e isto se torna mais claro quando percebemos que amicitia (amizade em latim) tem a raiz de amor indicando a natureza afetiva da relação. Em grego a palavra philía também expressa a disposição afetiva necessária para a consumação dos laços amizade, pois o verbo philéo também expressa a natureza do amor. É neste sentido que entendemos o cuidado como uma atenção e um interesse pelo outro em si. O que é muito diferente de uma relação interesseira, na qual se deseja extrair algo de útil que o outro tem a oferecer. Existem dois tipos de amizade interessada sendo que uma delas se subdivide em outras duas formas. A primeira é aquela que considero mais legítima e mais condizente com o que expressa a palavra amizade, pois o interesse não visa um finalidade externa à própria amizade, mas extrai da amizade os benefícios da convivência e parte de uma relação afetuosa sincera. Nas outras duas formas o interesse é externo à própria amizade tornando-a imperfeita. A duas formas imperfeitas a que me refiro são a amizade pelo interesse, na qual esperamos receber algo em troca pela associação amistosa e a amizade cujo único fim seja adquirir o prazer. Indivíduos que se relacionam esperando receber ou trocar favores rompem seus laços de amizade tão logo conseguem o que desejam, exceto nos casos em que o afeto e o interesse extrapole os favores trocados. Já o individuo que se relaciona em busca de prazer, este é incapaz de se envolver verdadeiramente com o outro, pois o que realmente lhe interessa não é o bem estar do outro, mas apenas o prazer que dele pode extrair, portanto dificilmente se preocupará com os problemas e adversidades que este amigo pode vir a ter na vida e muito provavelmente não será capaz de lhe prestar socorro quando precisar. Por outro lado, a amizade verdadeira e legitima consegue realizar na economia global da relação partindo do cuidado e do carinho o interesse pelo que o outro é como seu semelhante valorizando sua humanidade. É capaz de trocar favores sem resumir sua relação aos desejos que lhe convém e obtém o prazer sem negligenciar o bem estar do seu companheiro. Fica claro portanto que a amizade perfeita implica a excelência moral que aperfeiçoa nossa humanidade e que através da amizade nos torna auto-suficientes.