domingo, 28 de abril de 2013

Pequena reflexão sobre o namoro como instituição: Desconstruindo o amor romântico



Uma das questões que estão na minha pauta sobre o namoro como instituição é o amor romântico. Meu objetivo é desconstruir o amor romântico e mostrar que a sua natureza é inapropriada para o namoro enquanto instituição dada à superficialidade que é própria da sua natureza. Por que o amor romântico é superficial? A resposta é, que o amor romântico é caracterizado por uma paixão avassaladora que toma o amado como um objeto ideal, isto é, o amante cria uma imagem ideal do amado que é o seu objeto de paixão, objeto este que o faz sofrer. O sofrimento aqui deve ser entendido tanto no sentido de dor que aflige pela necessidade do desejo, que toma conta e perturba a alma. 

Quanto no sentido de afecção, de uma percepção que afeta a alma de um determinado modo. No amor romântico a pessoa em si é o objeto de desejo que ou nunca é conquistado por ser inalcançável e por isso causa dor na alma do amante ou uma vez conquistado precisa ser constantemente reconquistado para que a chama do desejo e a paixão avassaladora não se apague da alma do amante e nem do amado. 

É por isso que a paixão que pode e deve ser entendida como uma variante do amor romântico é incompatível com o namoro enquanto instituição, porque o namoro é como já havíamos dito o desejo de dividir a vida, de torná-la comum e a paixão é uma emoção violenta, desmedida que extrapola e monopoliza a relação do casal. Extrapola porque sempre tem a necessidade do novo e o namoro embora possa possibilitar o novo, tende na verdade para a conservação, por isso o namoro pautado pela paixão tende ao fracasso quando a chama escandalosa da paixão cessa. 

O monopólio acontece porque a paixão cria um mundo em torno do casal que os faz esquecer-se dos amigos e até de si mesmos em nome de uma união desmedida fundada na imagem que um faz do outro e não no que são na realidade, daí, por exemplo, quando pessoas muito apaixonadas se casam depressa e logo se separam porque o convívio escancara os defeitos do cônjuge, ou quando um fica tentando mudar o comportamento do outro gerando brigas culminando no divórcio.

Na ficção: livros, filmes, música e no teatro o amor romântico se encaixa muito bem, pois a ficção imita a realidade e por vezes extrapola sua veracidade através da idealização dos arquétipos e dos estereótipos que tem por objetivo passar uma determinada mensagem.
Mas quando se trata do mundo real as coisas são um pouco diferentes, criar um mundo no qual eu vejo apenas a minha amada e do qual espero ser notado apenas pela minha amante trás uma série de problemas, alguns já esboçados acima, e outro que penso ser muito grave e prejudicial e do qual os problemas acima são talvez uma conseqüência é a aniquilação da individualidade das partes envolvidas no relacionamento e no final vive-se a vida do seu ou da sua parceira e não se divide a vida, quero dizer, não se compartilha os mundos, seus microcosmos entre si.

Por isso, me posiciono sempre contra a paixão e contra o amor romântico, pensando sempre no amor como uma atitude, ou disposição em que é manifestada a boa vontade, e cuidado, onde o equilíbrio deve prevalecer, pois a paixão também desperta o ciúme doentio, a desconfiança e claro insegurança.

Só quem aprende a amar a pessoa em sua inteireza com seus pequenos defeitos e suas qualidades é capaz de dividir a vida, porque sabe que ao dividir está complementando a sua e a de outrem.

O amor romântico inibe a partilha porque não partilha a vida, mas faz com que um tente consumir a vida do outro, melhor exemplo disso é o relato Kiekergaardiano na obra “Diário de um Sedutor” em que o flerte tem como objetivo criar uma imagem que encanta e atrai até que se torna desinteressante depois de conquistado. No amor romântico não pode haver conquista definitiva e sim um eterno jogo de sedução em que constantemente eu tenho que me tornar atraente, sempre mudando de forma, para agradar o amado; ou como no mito de Eros e Psique em que Psique apaixonada pelo desconhecido acaba enganada e fere o amor; o próprio Eros, teu sedutor é ferido, quando Psique pensa que está sendo seduzida por um monstro. 

O próximo passo é apresentar através da escolha de Hyparchia, filósofa cínica que viveu no século III a.C. a opção que pode substituir o amor romântico, a pista dada é essa a de um amor que é Eros-phília, um amor-amizade, em que o desejo de estar junto não massacre a individualidade do casal e seja um desejo de partilha da vida.

Esta partilha não olha bens materiais, não olha status social, mas se encanta com o que cada um é, com o que cada um tem a contribuir positivamente para a relação e que é a causa do fracasso do amor romântico que se alimenta de uma chama que devora tudo inclusive a própria relação que deveria ser seu fim.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Amor- Amizade III


Nunca senti alegria maior do que aquela que sinto quando estou contigo.
Nem me sinto sozinho quando vejo teu sorriso.
É agradável a companhia que ausculta o coração.
Permita- me que eu ausculte o seu também, quero que os nossos corações batam harmoniosamente.

A alegria que o teu ser me proporciona é diferente de qualquer alegria que já senti
A solidão inexiste, pois teu abraço ilumina as trevas e recolhe a minha solidão.
Companhia deleitável, doce e suave, tua pele junto da minha me faz sentir como se uma brisa tocasse meu corpo num dia de sol quente.

Se amar é se alegrar, é se comprazer, se amar é desejar estar junto, quero então,
te amar e o que peço é que me ames para que dois corações amigos possam viver a alegria de redescobrir todos os dias as cores da vida e pintá-las no cinza ou no branco da tela da existência em cores vivas a felicidade.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Solilóquio

Ah, como tenho desejado receber os teus cuidados! Como almejei acordar de manhã e te ver dormindo um sono tranquilo. o que sinto são apenas memórias, ou hipoteses do que nunca vai acontecer porque nasci para a solidão e dela sou feito. Nasci para a estranheza e não para o reconhecimento. Nasci para ser transparente aos teus olhos e embora os teus encham de luz os meus tornando- os capaz de iluminar a mais densa treva. Tu não sabes o que eu sinto e nem pode saber, porque sou covarde demais para aceitar que me rejeites e o teu não me é mais mortal que o mais mortal dos venenos, a tua indiferença é a pior das minhas feridas!
Não me olhes com desconfiança e não tenhas medo de mim sou apenas solidão e nada mais gravitando em torno do meu eu preso as trevas do ensimesmamento.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Reflexão sobre o namoro como instituição


O filósofo é aquele que na medida do possível observa e estuda de tudo, com o advento da especialização técnica, penso que o filósofo não deve se esconder nos recônditos da fragmentação da ciência tão incentivada nos meios acadêmicos, por isso tratar de temas que muitos consideram triviais é também tarefa do filósofo.
A ética antiga olhava para as instituições políticas como parte integrante da ação do homem, e as duas maiores instituições do mundo antigo eram o casamento e a religião, com efeito, estas duas instituições cumpriam um papel fundamental na constituição política das sociedades antigas.

Dos temas mais tratados pela filosofia antiga pautada pela ética das virtudes é a amizade, uma das formas de amor que implica em virtude segundo Aristóteles e com a qual o complexo social é costurado, a amizade compõe o tecido que chamamos comunidade e através dos laços de estima e respeito o corpo social ganha coesão.

Levando em conta que é tarefa do filósofo abordar as grandes e pequenas questões da existência humana, e que a ação de cada ser humano começa e termina no esteio da vida política, que aqui deve ser entendida enquanto universo das relações sociais do dia-a-dia, penso que seria interessante pensar o namoro como uma instituição, o namoro, com efeito,  é um estágio de relação social que antecede o casamento, pois o noivado é ainda assim um titulo conferido entre pessoas que estão namorando e apenas atenua a condição do namoro.  Sinto, contudo que o namoro como instituição está em crise frente ao crescente hedonismo e niilismo que tem afetado a vida moral principalmente das gerações mais recentes.
Partindo da premissa de que o namoro deve ser entendido como uma instituição que tem por finalidade o casamento, pois o namoro implica necessariamente que duas pessoas estejam dispostas a dividir sua existência por inteiro, ou seja, o namoro e o casamento visa estabelecer o microcosmo da vida política que é denominada vida a dois, isto a priori, pois se entendemos família como conceito político e instituição social perceberemos que o casamento além da vida a dois coloca os filhos como membros integrantes e integrais da comunidade familiar.

O namoro, portanto, seria o momento de cultivo da afetividade através do ato de boa vontade livre entre duas pessoas que desejam tornar comum a sua vida.
Ora, se a disposição afetiva no namoro tem em vista tornar a vida comum entre duas pessoas, estas duas pessoas precisam aderir a um comportamento que torne possível a vida comum. Neste sentido o namoro não é muito diferente da amizade porque para que um laço de amizade exista também é necessário que o comportamento entre as partes envolvidas manifestem o interesse destes em cultivar a relação em comum. Não me interessa por hora tratar das disposições sexuais que estão implicadas no namoro uma vez que concebo a vida sexual como parte diretamente relacionada, mas secundária na vida afetiva institucionalizada, porque a sexualidade em si só pode seguir dois ou três caminhos que consigo ver a principio, a saber, o caminho do prazer (que tem sido supra valorizado), da procriação e a da unidade íntima do casal. Nem tão pouco tratar de outras modalidades de relacionamento, como por exemplo, o relacionamento aberto. Interessa-me aqui falar do modus operandi do namoro como instituição e pensar que na medida em que o namoro representa um compromisso assumido perante a sociedade com uma determinada pessoa exige de mim enquanto pessoa que faz adesão por esta instituição uma atitude ética necessária para que este tenha êxito, tal qual o casamento e qualquer outra instituição inserida em nosso contexto social.
Acredito que a pergunta que deve ser feita por quem deseja um relacionamento sério, isto é, o namoro é: estou disposto a mudar os hábitos que vão me impedir de realizar a vida a dois? Mas acho que antes disso a pergunta que deve ser feita é: Com que tipo de pessoa eu aceitaria dividir a minha vida? Com estas duas perguntas básicas é possível nos educar para uma boa relação sem perder a nossa liberdade e sem cair em armadilhas, mas eu mesmo admito que cair em armadilhas é possível mesmo tomando todos os cuidados.

O fato é que tenho observado em muitas pessoas a maioria mais jovem deseja uma relação com uma pessoa, mas não quer abrir mão dos seus hábitos de solteiro e não só em relação as inúmeras festas, mas também com relação a está aberto ao relacionamento descompromissado com outras pessoas.
Assumir um compromisso significa mais do que colocar um anel no dedo ou mudar o status de uma rede social (é clichê, mas é uma baita verdade) o compromisso exige de quem o assume a responsabilidade moral de cultivar com uma determinada pessoa suas inclinações afetivas e praticar com boa vontade e liberdade com o intuito de dividir com ela a vida, o namoro assim como o casamento e a amizade é uma forma de comunidade, uma unidade comum, com a qual duas pessoas se interessam mutuamente pelos problemas, doenças, angustias e alegrias um do outro. E coloquei alegria por último para que quem estiver lendo este texto tenha a ciência de que as pessoas de hoje buscam apenas partilhar com o seu amado ou sua amada apenas as alegrias e não se dispõe, não se engaja nos momentos de dificuldade.

E acontece que no mais das vezes haverá problemas, conflitos de interesse que em suma desencadeiam brigas. Está aberto a ouvir os conselhos do companheiro, aceitar suas críticas quando estas são cabíveis a uma atitude inadequada ou má escolha, aliás, má escolha geralmente é a causa dos problemas entre namorados e está má escolha longe de ser imprudência pura e simples é muitas vezes motivada por um descontrole sobre a vontade.

O descontrole da vontade produz outro problema presente em qualquer instituição social, o mal uso do poder .  O poder é, com efeito, a causa de catástrofe de muitos relacionamentos porque uma das partes se esquece que o objetivo é a vida comum e quer que outro viva a sua vida. Por isso o namoro é um compromisso que exige de quem lhe faz adesão  uma certa dosagem de modéstia, para que seja possível ver as qualidades e os defeitos do companheiro, mas não por o investimento da afetividade a perder por causa dos defeitos, pois isto seria um descompromisso, a menos é claro que o defeito contribua  negativamente para a manutenção da relação, por exemplo a pessoa tem um hábito totalmente descompassado para a vida em comum.

Portanto, o namoro é um compromisso que implica num investimento afetivo sobre outra pessoa da qual queremos bem, e queremos estar próximo e por fim constituir com ela uma unidade comum. Para que isso seja possível é necessário o engajamento pleno das duas partes, e este engajamento surge da cumplicidade de ambos para com a inteireza da vida, e não apenas para com os momentos de satisfação imediata que aquela pessoa pode nos oferecer. E para isso é necessário estar disposto a repensar a sua atitude diante do mundo enquanto pessoa sem compromisso e reconhecer de modo responsável que a vida de outro ser humano é inalienável e por isso não pode ser tida como um objeto de satisfação, reconhecer de modo responsável o valor do outro implica em dizer sim ao compromisso e ao investimento que pode ruir se o outro não estiver disposto a investir igualmente e às vezes acontece de ambos investirem e não dar certo por diversos motivos: horários que não batem, problemas com ex-namorados e ex-namoradas, conflitos de interesse, pessoas que se intrometem na vida íntima do casal sem ser convidado entre outras coisas. Assumir um namoro é dizer sim ao desconhecido, ao futuro, é um projeto, é um lançar a frente (etimologia de projectum em latim). Pode começar em uma amizade, ou poder ser uma descoberta como um lampejo de uma ideia.
Por hora deixo aqui esta reflexão, no entanto sabendo que ainda falta questões a serem abordadas, mas que serão retomadas em breve.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Charitas sensibilis



Não me leve a mal se eu procurar o teu abraço ávido para fugir do frio da minha solidão. Ou se eu procurar segurar a tua mão como se tivesse medo de cair de um penhasco.
È na sensibilidade do teu amor que descubro o refúgio para as trevas da minha alma.
Espero pelo teu sorriso como o galo espera pelos primeiros raios de sol para soltar o seu canto alegre.
Tua pele suave ao tocar a minha me acalma, o calor do teu corpo junto ao meu aquece o meu espírito diante da frieza da solidão que me persegue nas noites escuras da minha existência.
Nos teus olhos eu procuro a tranqüilidade do sono perdido
E na tua boca espero encontrar o sabor das delícias escondidas pela amizade velada pelo desejo.
Anseio pela tua proteção, pela tua companhia, pela cura que só o teu cuidado podem trazer sobre as minhas feridas.