terça-feira, 12 de maio de 2015

Ben Hur e a experiência do encontro com o Senhor

Esse final de semana tive a oportunidade de assistir a um remake do clássico Ben Hur. Aos que gostam de filmes épicos como é o meu caso é sempre um deleite e não percebi exageros como normalmente acontece nesse gênero de filmografia.  Mas gostaria de partilhar com os meus leitores algo que me chamou muito a atenção no filme. Ben Hur é uma mistura de Conde de Monte Cristo com Crime e Castigo, explico!

Ben Hur ou Judas Ben Hur era um judeu rico de Jerusalém e cresceu com um jovem filho ilegítimo de um senador romano de quem se separa ainda na infância. O jovem retorna a Jerusalém agora como um soldado e tem a missão de escoltar o novo governador da judéia, Pôncio Pilatos. Quem conhece um pouco da história sabe que a ocupação romana não era bem vista em nenhuma das províncias, principalmente porque a pax romana era uma imposição violenta. Em Israel não era muito diferente principalmente pelo conflito de culturas presente no contraste entre o politeísmo romano e o monoteísmo judaico. Naquela época havia vários grupos entre os judeus que viviam e assimilavam a fé de formas diferentes, só depois da destruição do templo em 77d.C. é que o judaísmo de organizou com o grupo sobrevivente, os fariseus.  Dentre esses grupos havia um em especial que causava muitos problemas aos romanos trata-se dos Zelotes que se revoltavam constantemente contra os romanos provocando muitas mortes nos conflitos contra seus conquistadores.

Judas Ben Hur era um comerciante justo e honesto e, quando seu amigo volta para Jerusalém, o jovem Messala, educado a moda romana quer que tudo saia bem porque seu pai o Senador Marcellus Agripa quer por meio de uma manobra política ele assuma o governo da província da Judéia no lugar de Pilatos. E para que tudo dê certo Messala espera de Judas que este lhe conte sobre qualquer invectiva contra os romanos quando da passagem do governador. Ben Hur sabia que havia pessoas que queriam se aproveitar desse evento para promover uma revolta, mas prefere não entrega-los, pois isso seria uma forma de alta traição, mas também não quer se envolver com a revolta por ter boas relações com os romanos e principalmente por ser muito amigo de um romano. Acontece que por conta de uma telha solta Judas é acusado de “dar um sinal para os rebeldes” e é preso junto com toda a sua família e isso inclui a sua noiva e o pai dela. O destino parece selado, Pilatos quer crucifica-lo e matar sua mãe e sua irmã, mas a pena dele é mudada e ele é condenado à escravidão perpétua. Tudo o que Ben Hur deseja é vingança contra seu antigo amigo. Quando Judas está saindo da cidade santa para o seu terrível destino um homem o interpela dizendo: “perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem...” Esse homem era Jesus, o nazareno e este foi o primeiro encontro de Judas com o galileu. 

Depois de uma grande reviravolta Judas é adotado por um romano que lhe dá o seu sobrenome e tudo o que lhe pertence, Judas está disposto a usar todos os recursos para se vingar de Messala e parte novamente para Jerusalém. Ben Hur não sabe que sua noiva e o pai, sua mãe e irmãs estão vivas. No caminho para Jerusalém Judas escuta uma pregação e a ouve por alguns minutos antes de seguir viagem, sua noiva estava lá, mas não o viu, o pregador era Jesus, o profeta da Galileia e o conteúdo de sua pregação é o sermão da Montanha. Judas entra em Jerusalém e readquiri sua casa que estava abandonada sob custódia do governo romano e usando seu nome romano arquiteta sua vingança nesse meio tempo reencontra sua noiva que tenta dissuadi-lo da vingança e exortando-o a perdoar, mas Judas Ben Hur só conhece a lei do “olho por olho” ignorando a lei do perdão. Executa a sua vingança sem saber que suas irmãs estão vivas, e tendo terminado sua vingança vai ao encontro delas, pois estavam doentes, com lepra e só podiam permanecer fora da cidade ou quando muito teriam de gritar “impuro” para afastar as pessoas quando pedia esmola. Quando entra em Jerusalém, um homem condenado à morte de cruz está saindo da cidade ele cai e é duramente açoitado pelos soldados, sua noiva a jovem Esther reconhece o homem caído, mas tomada de tristeza e consternação não diz nada apenas chora e lamenta pelo homem condenado. Judas, por outro lado, ao ver a atitude dos soldados se interpõe contra eles para ajudar o homem, os soldados recuam, Judas estende a mão ao homem caído que lhe diz: “perdoa-lhes porque não sabem o que fazem...” Nesse momento, Judas fica paralisado, mudo e se recorda de ter ouvido anos antes a mesma frase, nesse momento Judas parece se dar conta de estar diante de um verdadeiro profeta de um homem justo. As palavras de Jesus penetram fundo a alma desse homem amargurado pelo desejo de vingança e finalmente liberto do rancor perdoa o amigo que morre.

Libertado, liberta também a outros, Jesus, profeta, justo, santo, ungido é pregado na Cruz e morre, as trevas cobrem a cidade santa, mas a luz não deixa a casa de Ben Hur e sua mãe e sua irmã são curadas da lepra e purificadas pelo perdão.

Assim como Raskolnikov em Crime e Castigo é gradativamente libertado pela doçura e amor de Sônia. Ben Hur é transformado pelo amor de Esther, sua noiva, e pelas palavras de Atene uma prostituta grega que exerce o papel de espiã do senador Marcellus Agripa. Duas mulheres que se portam cada uma a seu modo como “vozes da razão” poderia ser o prelúdio do encontro de duas tradições, Esther seria a personificação da cultura hebraica e Atene a personificação da cultura grega.  E a experiência do encontro com o profeta galileu é o mediador das duas tradições em aparente conflito, mas que caminham lado a lado em busca da justiça e do bom senso. São as palavras de Jesus que acenam para Ben Hur aquilo que as duas tradições por si só não foram capazes de lhe revelar completando o sentido que as duas tradições manifestam cada uma a sua maneira.  A vingança um direito consentido nas duas tradições provoca vazio e diminui a humanidade, e o perdão supera a justiça da retaliação dando novo sentido que extrapola toda forma de marginalidade e de poder que nossa parca humanidade alimenta.


Três encontros e sempre o perdão pelos que não sabem o que fazem. A justiça supera a vingança e a verdade é galgada pelo amor, verdadeira liberdade para o homem.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Amizade Virtual

Amor solitário, amor à distância.
Amizade virtual é amor surreal.
Amizade virtual é amizade de cristal.
Tudo é visto, tudo é ignorado,
Tudo é dito no silêncio incontornável.

Amizade virtual, artificial.
Amizade virtual, descompromisso sem igual.
Amizade virtual, um pacote à la carte.
Amizade virtual, sem decepção e combate.
Tudo é escolhido, até quando finjo não escolher.
Tudo é medido, porque não quero me comprometer.

Amizade virtual que cabe em caixinhas reluzentes.
Amizade virtual forma de amor decadente.
Amizade virtual com o vizinho que mora em frente.
Amizade de mentira que facilita a vida da gente.
A dor do outro não importa.
A tensão me desespera.
Vontades em conflito .
É agonia e angustia certa.

Amizade virtual cabe na palma da mão.
Cabe na pupila contraída que não quer ver decepção.
Amizade virtual de janelas que não revelam o mundo.
De ideias fabricadas, vontades obliteradas, paixões fingidas.
Carinhos dissimulados.
Vida real maldita, ingrata e dolorida.
Prefiro essa vida vazia cheia de mentiras
Que a dor e a agonia de ver gente real.
Que desafia e me instiga
Que me alimenta e ilumina.

Amizade virtual é como amigo imaginário.
Crio um que não me dá trabalho.
Amizade virtual não toca de verdade.
Sua artificialidade esconde as almas covardes.
Tudo é mediado e o amigo está tão longe
Mesmo quando está ao lado parece estar do outro lado de uma ponte.
Amizade virtual é coisa que você põe na sua cabeça
Por medo de se machucar, te tornas incapaz de descobrir a beleza:
Que há na alma dos outros,
Que há na tensão do encontro,
Que há no amor construído,
Que há na descoberta do rosto do outro.


Brener Alexandre 11/05/2015

domingo, 10 de maio de 2015

Mãe

“Se não fossem as mães, que saberíamos do amor?” (Comte-Sponville, André. Apresentação da Filosofia. p. 44).

Talvez a resposta à pergunta do filósofo seja: Se não houvesse mãe saberíamos pouco ou quase nada sobre o amor. Mãe é sinônimo de amor, é sinônimo de cuidado e carinho.
Mãe é antônimo de abandono é substantivo simples, fácil de apreender o sentido, é substantivo composto porque toda mãe pede complemento, não há mãe sem filho, não há filho sem mãe.
É verbo, advérbio e adjetivo, tantas classes de palavras unidas em um único vocábulo: mãe, mamãe, mãezinha, manhinha.

Se não fossem as mães uma parte da nossa humanidade se perderia, uma parte divina por certo, Deus quando desejoso de viver entre nós quis ter uma mãe e tão generoso a entregou a nós: “mulher eis aí teu filho, filho eis aí tua mãe” (Jo 19,26).

Ser mãe é algo que compreendo bem pouco, primeiro porque jamais serei mãe, no máximo imitaria uma mãe. Ser mãe é coisa complexa, é biológico, psicológico e ético.

Ser mãe não é simplesmente assumir um papel social, é muito mais que isso é ser encarnação do amor. A pergunta do filósofo Sponville pode ser traduzida assim: Deus é amor como é muito bem dito por São João, mas a mãe também é amor assim como Deus. Mãe é amor como Deus é amor, é um amor infinito dentro da finitude de uma existência. Se não houvesse a maternidade seria humanamente impossível conhecer um amor como amor divino.

Ser mãe é, portanto, ser dádiva. Ser presente e presença, ser dom.
Mãe é aquela que cria? Mãe é aquela que gera? Não, Mãe é aquela que ama.

Feliz dia das mães para minha mãe e para a sua também.

Brener Alexandre 10/05/2015