segunda-feira, 2 de abril de 2012

O mesmo e o diferente e o estranhamento

Este texto é um desabafo. Um desabafo porque a impressão que sempre tive dos outros em relação a quem sou não mudou até então.
Sempre me senti um estranho neste mundo. Como se fosse “um estrangeiro, passageiro de algum trem que não passa por aqui, que não passa de ilusão.”
E sinto que para a maioria das pessoas eu sou de fato um estrangeiro, um estranho. As pessoas parecem se espantar e não no sentido aristotélico que a palavra “Thaumazo” transpõe positivamente indicando a descoberta de algo novo, mas antes talvez, um medo como se eu fosse um sátiro, algo que causa o pânico quando avistado.
Eu penso que é necessário pontuar algumas coisas a meu respeito, algumas coisas que a maioria das pessoas que convivem ou conviveram não sabem, ou se sabem ignoram. Não sei se outras pessoas que vivenciaram ou escolheram um caminho semelhante ao meu passam por isso, o fato é que eu passo e isso me deixa chateado, por que como todo ser humano eu também busco ser feliz. Acho que posso ressaltar ao menos dois pontos da minha pessoa que eu acho que causam esse efeito satírico nas pessoas. O primeiro é o fato de eu ser filósofo ou estudante de filosofia, que acho mais adequado, por que como é muito bem dito nas escolas oriundas do socratismo: “aspirar ao saber também é filosofar”. As pessoas pensam que por eu ter escolhido ser filósofo eu sou uma espécie de ser diferente dos demais seres humanos, como se eu fosse um intelecto puro, algo que só sabe pensar, gente isso não é um filósofo, isso é na melhor ou não das hipóteses o primeiro movente imóvel do Aristóteles! Segundo, sou cristão, católico aí as pessoas acham que eu sou igual imagem de Igreja, com os olhinhos pra cima, auréola e sei lá mais o que... Eu digo não sou santo, erro demais, tenho minha infeliz cota de pecados diários e nem por isso sou menos cristão que aquelas pessoas que aliás, antes de serem santas, eram tão pecadoras quanto... Nem preciso citar o que fazia Santo Agostinho, ou Santo Inácio de Loyola antes da suas respectivas conversões. O processo de conversão é lento não é do dia para a noite.
E não é porque eu optei pela vida filosófica, intelectual, ou porque fiz adesão a uma fé que eu sou estranho ou esquisito.
Poxa faço tanto esforço e não é de hoje para entrar no pequeno grande universo das pessoas que me cercam, tentam ser tolerante muitas vezes com atitude que não compreendo, me esforço na medida em que isso não é violentar o que eu sou, em ser simpático. E o que eu geralmente recebo em troca? Juízos que não tem nada a ver com quem eu sou, com o que eu faço, com o que eu optei por viver.
Não é porque eu não sou um relativista, um niilista ou um hedonista que eu sou estranho, pelo contrário é por eu não ter optado por esses caminhos é que eu devia ser ao menos respeitado, principalmente no que diz respeito aos valores deflagrados pelo cristianismo. Se eu trato com respeito, me respeite, a menos é claro que você não faça questão, não goste de mim, mas aí é só dizer que eu nem chego perto de você, eu por incrível que pareça gosto muito de mim para ficar mendigando dos outros atenção e carinho. Digo por incrível que pareça, porque as pessoas infelizmente seja por falta de inteligência (não no sentido de serem burras, mas no de não ter um certo tipo de sensibilidade), seja por alguma razão que eu desconheça, não percebe que uso na maioria dos casos de sarcasmo e ironia para gozar o mau gosto e hipocrisia que é disseminado pela nossa cultura. Eu sou para quem não sabe um sobrevivente, sobrevivi a uma rubéola e continuo sobrevivendo até hoje. Não sou rico e conseqüentemente não sou bem nascido, mas dou um duro danado para cumprir com os meus objetivos. Eu tenho sentimentos, amo, me enfureço choro, dou risada como qualquer Ser humano. “Não sou Zeus ou Apollo” parafraseando São Paulo, sou Homem e muito Homem com ombros largos que suportam o peso do mundo. As maioria das pessoas desconhecem o que eu passei na infância, na adolescência. Na escola ou mesmo na Igreja. Pois é ser você mesmo custa caro e eu não desisti de mim. Na minha adolecência enquanto os jovens estavam pensando em festinhas e farras eu estava ocupado conhecendo a mim mesmo e eu nunca tinha lido Platão ou ouvido falar do “Gnoti seauton” (Conhece a ti mesmo) frase que estava no templo de Apollo em Delfos. Mas isso não quer dizer que eu na adolescência não tenha me apaixonado ou sofrido por amor a alguma garota, porque eu sofri sim! Eu era tímido, faltava cavar um buraco e me enfiar dentro dele. A gastrite entrou na minha vida como um presente de grego, uma caixa de pandora, sim foi um presente de uma mulher!
Eu tenho enxaqueca desde os 9 anos de idade e uso óculos desde os 21. Já quase morri afogado, já foi mordido por cachorro. Como vocês podem notar apesar dos pesares todo o meu esforço até hoje foi o de tentar ser um ser humano melhor. E claro eu sou um ser humano com qualquer outro, tenho as minhas diferenças como toda pessoa tem suas diferenças, mas também tenho algo que me torna semelhante entre estas diferenças.
Enfim, antes de me acusar procure conhecer a minha história, tente se envolver, não pense que sou inalcançável por que eu fiz opções que diferem das suas. Se eu faço o esforço de não te julgar e de até brincar com as nossas diferenças, por que você não pode fazer o mesmo?
Entenda de uma vez por todas, eu sou tão humano quanto você, aspiro a felicidade como você, fiz as minhas escolhas como você fez as suas, então somos iguais nas nossas diferenças. Abra-se ao meu mundo para que a minha abertura ao seu mundo faça sentido e assim através do respeito mútuo a amizade sincera seja possível, o amor verdadeiro descoberto e a humanidade se realize.

Obrigado,

Brener Alexandre, 02/04/2012