Engraçado como as lembranças afluem pela minha mente a fora
nesta época do ano.
Não por ser Janeiro, mês que os antigos romanos consagraram
ao deus Janus responsável pela renovação dos ciclos.
Não! As minhas
lembranças não afluem porque desejo renovar os ciclos da minha vida como se
suplicasse ao deus que me ajudasse a ser melhor.
Na verdade, em alguns períodos específicos fico tomado pela
nostalgia. Em dezembro e janeiro o cheiro e o barulho da chuva, o céu nublado,
as frutas da época, tudo me lembra minha chegada ao bairro planalto em mil
novecentos e noventa em dois.
Me mudei é verdade em janeiro, chegando ao altiplano bairro na manhã do dia onze do ano citado,
não chovia aquele dia e tudo era novidade, eu tinha apenas oito anos quando me
mudei do bairro eldorado em Contagem para o Planalto em Belo Horizonte.
Naquela época minha rua tinha poucas casas e poucos
vizinhos, mas os poucos sempre foram preciosos e quando se tornaram muitos foi
como se os poucos amigos rendessem, não tenho caderneta de poupança de amigos,
mas se tivesse diria que o aumento é fruto do investimento e do saber cultivar
o pouco que me foi confiado.
Como eu dizia o cheiro da chuva, o céu nublado me enche de
lembranças especiais da infância. Memórias que me acompanham desde mil
novecentos e noventa e dois, não que os anos anteriores não tenham me deixado
lembranças boas, mas é que estas lembranças me foram marcantes, porque eu tinha
um enorme quintal com goiabeira, mangueira, abacateiro e um mundo de árvores frondosas
e uma escada enorme. Para uma criança que passou a primeira infância em um
apartamento no Serra Verde e três anos morando em uma casa espaçosa, mas que
não tinha árvore alguma e um quintal não tão grande e sem contar que não morava
em casa própria tudo aquilo era novo e enchia-me os olhos. Até as lagartas que
caiam das árvores aos montes, eram meio que minhas primeiras mascotes na casa
nova me causavam admiração, e naquela época não conhecia o tauma aristotélico
se quer sabia o que era filosofia, a única filosofia que praticava era brincar
e contemplar a chuva que caia.
Ah, a chuva! Chuva de Janeiro digna do velho Janus, chuva
que vem pra renovar a vida e refrescar o calor, um brinde ao sol! E um brinde à
chuva! Que me proporcionou tantas vezes brincar na enxurrada e fazer barragens
com os meus amigos!
Não é só Janeiro, Dezembro e também junho-julho e
setembro-outubro trazem boas lembranças, afinal é difícil não pensar no natal
da época de quando meu avô Chico era vivo, ou das primaveras na piscina seja na
casa do Daniel, alcunhado ruivo ou do Diogo, Outubro e as semanas da criança.
Os aniversários, ah! Os aniversários como esquecê-los!
O cheiro da chuva repito, o céu nublado, o aroma da goiaba e
da manga, jabuticabas, papagaios, kinder ovos a cinqüenta centavos e depois a
hum real... fandangos, super Mário, Sonic, Street fighter ah! Como posso ter
tantas lembranças despertadas por cheiros e sensações que só estão vivas na
minha mente!
Parece que foi ontem que me mudei para o planalto, parece
que ainda tenho meus oito, talvez dez ou quem sabe doze anos. Parece que eu não
cresci, que o tempo não passou, que eu ainda vou a escola e quando as férias
chegam sinto o cheiro da água da chuva tocando o solo quente só para me trazer
a nostalgia dos longínquos vinte e um anos de morada eclipsada por um pequeno
interstício de quatro anos, mas que pareceram dez e que me fizeram ainda mais
perceber que o cheiro da chuva e o cinza que tinge o céu do planalto são partes
integrantes da minha história, ainda que não seja a mesma chuva e o mesmo
cinza, os mesmos ventos e talvez os mesmos amigos, o que importa é que é o
mesmo bairro, mesmo que não seja a mesma
casa. Importa que sejam as mesmas lembranças ainda que eu não possa revivê-las,
não mais que no meu íntimo.
Brener Alexandre Gonçalves, 15/01/2013