O impronunciável é o outro lado do silêncio, lado oculto da
lua do indizível, o mistério que o fundo do abismo aponta.
Digo do silêncio que vela a troca de olhares sem palavras,
mas o corpo fala de uma forma ou de outra.
Impronunciável é o que o silêncio diz; intervalo entre o que
é permitido falar.
Me faltam palavras, me falta coragem, pois tenho medo em
abundância de te perder.
Impronunciável é o que só o silêncio pode dizer, porque
impronunciável é o que eu não consigo dizer, seja porque não sou capaz de
compreender e explicar, seja porque é difícil de falar.
Ah, se eu não fosse tão ferido, se não houvesse traumas e se
a alma fosse inteira!
Se o coração não estivesse em pedaços e destituído de sua
totalidade e inteireza pudesse expor argumentos que o impulsionam para frente
quase sem olhar para trás! Digo quase porque ainda olho para trás receoso de me
lançar no desconhecido que se me apresenta... Frustrado todos os dias por
sentir que a minha existência não é nada mais que misérias e incertezas subo no
palco dessa tragédia na expectativa de logo ver o seu fim, isto é, o meu fim.
Impronunciável é silêncio que me trai e atrai para a
angustia vociferante que a existência me impõe, lúcida e ácida que me
desintegra cada vez que escuto o som surdo do silêncio que ecoa dos teus
lábios.