Se eu
tivesse que explicar a alguém o que é democracia tendo de recorrer a uma
analogia de fácil entendimento, diria que este regime de origem grega é
semelhante a uma mesa na qual todos os que se assentam junto a esta mesa tem os
mesmos direitos e os mesmos deveres, uma mesa sem lados, uma mesa redonda.
Dito
isso, explicaria que numa mesa redonda não há extremidades e todos estão
sentados à direita ou à esquerda de alguém. Ninguém teria o direito de reclamar
uma importância, porque nesta mesa não há cabeceira e todos são anfitriões uns
dos outros.
Diria
ainda que a mesa redonda é forma mais madura da democracia e que mesas com
lados e extremidades são formas incompletas ou imperfeitas do que chamamos de
democracia em nossa analogia.
Se a
democracia é uma mesa quadrada ou triangular ainda assim estaríamos nos
assentando à direita ou à esquerda de alguém. Isso é fácil de se observar
levando em conta que as nossas mãos sinalizam o lado em que cada um se assenta.
Entretanto, os que se veem de frente se perceberão como extremos opostos entre
si.
Se a
mesa é retangular, em cada lado haverá de se assentar também à direita e à
esquerda, a diferença, no entanto, está que cada lado vai ver o companheiro ao
lado como um espectro também mais à direita ou à esquerda de si mesmo e quem
está no centro será o mais atacado visto por quem está nas extremidades da
mesa, além de ver quem se assenta do outro lado da mesa como seu antípoda
ideológico.
Quando
a democracia se assemelha a uma mesa retangular a cabeceira é o pior lugar para
se assentar. Afinal, quem se assenta na cabeceira chama para si a
responsabilidade do anfritrião, é o sujeito que vai “pagar a conta”. Nesse
caso, pagar a conta significa levar a sua posição as últimas consequências.
Desse modo, numa mesa retangular as cabeceiras da mesa deveriam sempre ficar
vazias, são extremos que malogram a democracia que a mesa representa nesta
alegoria.
Todavia,
só a mesa redonda garante isonomia (igualdade perante a lei) e isegoria (igual
direito a palavra), de modo que nas outras formas incompletas da democracia um
ou mais membros da mesa podem querer destruir o equilíbrio atacando quem de sua
perspectiva ameaça o seu “direito ao poder”.
Desse
modo, é preciso reconhecer que no regime democrático tal qual uma mesa com
vários lugares sempre estaremos à direita, à esquerda e no centro tendo o outro
como referência para nós e sabendo que o outro também se percebe assim em
relação à nós enquanto estamos sentados à mesa da democracia.
A
mesa redonda, portanto, é a democracia plena na qual cada parte da sociedade
por meio de seus representantes legais opinião e participam respeitosamente do
debate público.
De
outro modo, nas democracias instáveis sempre haverá quem queira retirar do
interlocutor o seu direito à isonomia e a isegoria, sempre vai lutar pela
cabeceira para se colocar nos extremos e pôr-se acima dos lados a sua volta.
Brener
Alexandre 24/08/2020