domingo, 25 de dezembro de 2011

Prólogo Jo 1, 1-18

Depois da espera que configura o advento, trazer uma tradução do prólogo de São João para mim em termos de escolha de texto é como colocar a cereja no bolo. Porque o teor metafísico do prólogo não exime o texto da sua ligação já distante com o judaismo no qual Jesus foi educado. O evangelho de João é o mais recente dos quatro evagelhos considerado canônicos, foi escrito por volta do ano 90 d.c. algumas coisas chamam a atenção no texto, o primeiro é a valorização do discurso através da palavra criadora de Deus, o que é muito diferente das tradições cosmogônicas pagãs (grega, babilônia, persa entre outras)O mais fascinante é que a ação criadora da palavra é o próprio Deus criando do nada! (outra característica do judaísmo herdado pelo cristianismo). Ainda sobre a palavra a natureza trinitária não é percebida aqui, mas Jesus enquanto palavra é o próprio Deus oque além de revelar a natureza salvadora de Deus, também revela a natureza cristocentrica da criação (uma coisa leva a outra, Deus cria com efeito para convidar a sua criação a eleição e à eternidade adquirida através da revelação do rosto de Deus feita pelo messias). o segundo momento é a associação da palavra com a luz. É sabido que o cristianismo enfrentava as chamadas heregias conduzidas pelos gnósticos e maniqueístas. E por isso é importante compreender esta associação da palavra com a luz, a palavra com efeito, revela e ilumina. Revela o próprio Deus por meio de sua criação, a revelação traduz o desejo de Deus de participar da vida de suas criaturas convidando-as a uma vida renovada através de uma mudança radical de valores morais, nisto consiste o verdadeiro judaísmo (pregado por Jesus) e do cristianismo enquanto rompimento com a tradição formalista do judaísmo. no meio do prólogo o evangelista introduz a missão de joão Batista como uma testemunha do projeto de Deus e do desejo de Deus de resgatar a humanidade do pecado. Nesta parte do prólogo O messias não é mais associado a palavra, mas apenas como "a luz que ilumina todos os homens" indicando o sentido próprio do messianismo judaico de trazer esperança e ser um guia para todos os povos. No evangelho de João ao que parece a eleição não é mais um privilégio dos judeus que recusaram Jesus como Messias, mas a eleição se estende a todos aqueles que acolhem a luz messianica que levanta sua tenda entre nós se fazendo carne. ao fim do prólogo o evagelista retoma o tema da palavra indicando sua encarnação e endossando a missão do messias que fazer cumprir através da graça a lei que Deus deu por herança aos judeus através de Moisés. Por isso escolhi o prólogo o mais filosófico e mais metafísico dos textos biblícos que já li cercados de simbolos que demarcam a fronteira entre o judaísmo e o cristianismo, suas semelhenças e diferenças a partir da aceitação e reconhecimento de uma parte importante da herança religiosa ou da recusa em reconhecer o recebimento desta herança, isto é reconhecer jesus como messias. Os judeus ainda o esperam e os cristãos o reconhecem e procuram viver segundo os seus ensinamentos. Um texto que é um divisor de doutrinas, mas que poderia ser a marca de aproximação entre as duas ainda que demarque a seperação definitiva das duas tradições monoteístas mais antigas do mundo. segue a tradução:
"No princípio era a palavra e a palavra estava junto de Deus e Deus era a palavra. Esta ( a palavra) estava desde o começo junto de Deus. Tudo foi gerado através dela e nada do que foi gerado se fez separado dela.
Nela estava a vida e a vida era a luz dos homens. A luz brilha na escuridão e a escuridão não a acolheu.
Havia um homem enviado da parte de Deus e o nome dele era João. Ele veio para ser testemunha, afim de dar testemunho da luz, para que todos crêessem através dele. Ele não era a luz, mas era a testemunha da luz.
A luz era a verdadeira (luz), a qual ilumina todos os homens vindo para o mundo.
Estava no mundo e o mundo foi gerado por meio dela, e o mundo não a conheceu.
Veio para os seus e os seus não o receberam. Quanto aos que a acolheram, deu para eles o poder para se tornarem filhos de Deus, aos que creram no nome dele, os que nem do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas gerados de Deus.
E a palavra tornou-se carne e levantou sua tenda entre nós e ao contemplarmos a sua glória, glória que o unigênito recebe do pai,cheio de graça e verdade.
João testemunhou sobre ele dizendo em voz alta:"este era aquele do qual eu falei: o que vem depois de mim, é maior que eu, porque foi gerado antes de mim."
Porque a partir de sua plenitude todos nós também recebemos graça sobre graça.
Pois a lei nos foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.
Ninguém nunca viu Deus, apenas o unigênito de Deus. O qual estando no seio do pai nos guia para ele."

Um Feliz natal a todos!