Recebi um email outro dia com uma reportagem na qual um bispo católico fazia críticas a programação da televisão aberta. Mas o que me chamou a atenção não foi o texto com a fala do Bispo e sim os comentários de outros usuários de email que receberam o mesmo email. Comentários que são cada vez comuns em redes sociais, por já está dissolvido no imaginário comum da população. O Infeliz clichê: “cada um cuida da sua vida”, “cada um no seu quadrado”, “A vida é minha faço o que quiser com ela”. São alguns dos exemplos claros de subjetivismo que imperam em nossa sociedade, cada vez mais hedonista e pragmática.
Um subjetivismo que se estende desde a moralidade até as raízes que alimentam o conhecimento. Muito me admira que a contribuição de Descartes para com a humanidade e modernidade, possa ser de certo modo o veneno que ataque aquilo que ele mais prezava, a razão. Embora Nietzsche tenha atacado Sócrates acusando-o de ser o corruptor dos jovens, de incutir uma moral decadente na cultura ocidental. Descartes jogou uma bomba no colo da sociedade. Através do seu “Cogito” Descartes fundou o conceito de individuo que o ocidente até então não vislumbrara. Minto! Os gregos já conheciam este conceito sobre um nome pouco indesejável em sua cultura, a saber, o “idiotés”.
Idiotés que deu origem ao nosso idiota. Quem era o idiotés? O termo era aplicado as pessoas que não se importavam com a vida política. Com pessoas que só se importavam consigo mesmas. Em outras palavras, é sinônimo de egoísmo, egolatria (culto do eu, eusismo. neologismo meu). E não pensem que a vida política na Grécia era circunscrita a eleições como acontece na política moderna.
Os antigos gregos participavam ativamente da vida política, escolhiam quem assumiria os cargos, votavam o uso do dinheiro público e participavam inclusive dos processos jurídicos instaurados. Por isso ser idiotés na cultura grega antiga era muito negativo. Um grego antigo jamais diria: “cada um cuida da sua vida” ao menos não em sentido absoluto! Mas apenas em relação a algumas circunstâncias. Já que até mesmo a vida privada (doméstica) funcionava como uma instituição política e da qual como se sabe surgiu a Polís.
Há realmente algo muito errado com as pessoas hoje em dia, pois tornaram-se idiotés. Não entendem que a educação começa no sistema social mais antigo e mais importante de todos que é a família. Ignoram os aspectos benéficos que a tradição que recebemos dos pais e avós, e que são o berço da nossa cultura e que a educação é o leme que nos guia para uma sociedade sem violência e sem medo. Ignoram que a função da escola é complementar a formação que começa em casa.
Como se educa uma criança pregando subjetivismo? Ensinando-a que: “cada um cuida da sua vida”. E a vida da sociedade da qual fazemos parte, quem vai cuidar dela? E da biosfera? Vamos alienar o nosso direito de ter um mundo justo, com pessoas honestas, para “A vida é minha eu faço o que eu quiser com ela”. Entregar o destino do nosso habitat nas mãos de outros “idiotés”? Descartes descobriu o individuo, mas não teve tempo de moralizá-lo, apenas recomendou que se vivesse em uma “moral provisória” aquela adotada no país em que estiver. Pronto fomos abandonados a própria sorte.
O individuo que não sabe o que é liberdade é um idiotés, escravo de seus desejos, reduzido a uma consciência de si, um solipsista. O idiotés é um tirano que desconhece a alteridade (diferente de altruísmo) e, portanto só respeita o que lhe interessa o que lhe satisfaz e claro o que não o faz sofrer.
Enquanto houver pessoas assim no mundo viveremos oprimidos pela ditadura do eu, enganados pelo politicamente correto que esconde o totalitarismo do sistema que nos governa. Aceitando tudo o que o sistema nos dá de mão beijada. Todas essas drogas que nos fazem querer pensar menos, gozar mais e enxergar apenas o nosso próprio umbigo.