O sofrimento que brota da angustia e do medo de relacionar, constitui um dos males do mundo moderno.
Um mundo cheio de subjetivismos, de “achismos” que orientam a nossa conduta para a incerteza e com ela o medo.
O medo é o temor do que não conhecemos ou do que não conhecemos com segurança.
É incrível como as pessoas hoje em dia são inseguras e se escondem de diversas formas, algumas bem cruéis, das quais o preconceito e a violência física são apenas algum dos exemplos. Um sofrimento indolor parece absurdo, mas não é, pois a dor nem sempre é sentida como aquele incomodo físico que nos faz gemer, chorar e gritar. O sofrimento as vezes é silencioso, marcado por uma postura defensiva e covarde. Criamos um escudo mental no qual cremos ser uma fonte de segurança, crença muitas vezes infeliz, por alimentar falsas esperanças. Infelizmente falsas esperanças são “vendidas” aos montes na sociedade de hoje inclusive em ambientes que são avessos a esta prática.
Uma sociedade que se deixou à deriva limitando o poder da ciência enquanto saber, negando o espaço da fé religiosa em conjunto com a descrença na racionalidade que sempre foi tão cara a humanidade não consegue espelhar um ethos, um hábito moral saudável. Uma vez que o exercício da moralidade, e aqui deve ser entendida como o conjunto de hábitos, atitudes que envolvem a vida social e não como um conjunto de normas morais heterônomas que dizem o que é certo ou errado. Um tal hábito moral saudável diz respeito ao enfrentamento da vida, de seus dilemas cotidianos, e sobre tudo da coragem de se relacionar com as outras pessoas mergulhando no ser delas, vivendo com elas a existência no seu sentido mais pleno, o de sair para fora (ex esistire do latim). No entanto o comportamento moral é outro, pautado pela insegurança, ceticismo ou relativismo do saber e consequentemente do ethos. Quando eu não tenho certeza de nada, uma certeza mínima necessária para viver e ser capaz de ao menos tentar resolver do melhor modo possível os problemas que a vida me impõe, então fica patente ser assombrado pela covardia e pela angustia de nunca saber se posso ter fé no outro, de almejar justiça na sociedade, mas apenas me dopo diante da TV, com festas e prazeres indefinidamente, vivendo o egoísmo e gozando todos os dias de um medo indolor de ter uma existência autêntica. O hedonismo é para as pessoas covardes e isso serve para o nihilismo também como um analgésico, porque legitima o pragmatismo ético e científico em nome de uma moralidade deficiente, no entanto este analgésico merece enquanto pharmákon o titulo merecido de droga, pois vicia o comportamento e a mente alienando a existência e tornando o individuo escravo de seus medos e de suas inseguranças. O mundo nunca poderá ser considerado um lugar seguro, é verdade, porque uma infinidade de perigos nos aguarda, no entanto o ser humano precisa e sempre vai precisar de uma bússola para guiá-lo, para que não se perca pelo caminho, pois uma vez perdido, pode não ser mais encontrado, uma vez perdido estará abandonado a própria sorte. O ser humano precisa saber (é uma necessidade ontológica do ser humano com todos os traços que a antropologia pode nos dar) que ao atravessar as geleiras da existência, ele sinta que os gelo não vai romper sob seus pés, mas que se romper ele ao menos possa fazer algo antes que morra de frio na solidão hipotérmica que o espera.