“Cuidado com os dragões, pois, ao enfrenta-los
você pode se tornar como um deles” (provérbio chinês).
Quem
gosta de quadrinhos e de super-heróis certamente conhece o personagem “Flash”
(Há uma seriado em curso do canal CW) da D.C Comics. Personagem conhecido como “velocista
escarlate” tem na sua galeria de vilões um nêmesis, Eobard Thawne, o flash
reverso. O flash reverso é o oposto do Flash. Eobard Thawne tinha profunda
admiração por Barry Allen (identidade do herói de Central City) e converteu
essa admiração em ressentimento convertendo-se em um dos maiores vilões do
universo D.C responsável por um dos eventos mais famosos envolvendo não apenas
o Flash, mas toda a liga da justiça (falo do flashpoint que altera a linha do
tempo ao preservar a vida da mãe de Barry Allen – há uma animação sobre esse
episódio.). O leitor deve está curioso e se pergunta: “Por que ele começou
falando de um personagem de quadrinhos?” “Aonde você quer chegar com isso,
amigo?” A resposta é simples.
Findado
o processo eleitoral pude observar com mais atenção o comportamento das duas
forças em disputa neste processo eleitoral. E tenho percebido que essa disputa
eleitoral tem um pouco da rivalidade Flash – Flash reverso, explico.
Ao
que parece boa parte do anti-petismo, não o é porque rejeita o porte
autocrático do partido, porque discorda ideologicamente do partido, ou porque
reconhece que no limite a administração petista deixou a desejar.
Trata-se
antes de um antagonismo que mistura admiração e ressentimento, uma mistura
perigosa onde a força da minha contraposição tem origem do que eu gostaria de
fazer e não posso, mas na primeira oportunidade de fazer eu farei igual.
Durante
as eleições isso ficou nítido no embate entre as forças das respectivas
militâncias. Os bolsonaristas aprenderam e assimilaram o modus operandi das militâncias de esquerda e as replicou
sistematicamente, o que empobreceu o debate público.
Agora,
percebemos que no discurso e em muitas atitudes fica manifesto o interesse de restringir
o discurso de oposição ao discurso vitorioso nas eleições.
É
verdade que a esquerda vai precisar aprender a conviver com o pensamento
divergente nas instituições de ensino particularmente e no debate público em
geral. Mas esse processo é lento e gradual e exige das duas forças um respeito
primordial as instituições da república, mais, precisa baixar o tom, pois a
eleição terminada requer de todos atenção para acompanhar a transição do novo
governo.
O
bolsonarismo se vendeu como uma alternativa ao petismo, mas não pode ser igual
ao petismo que eles combateram com altivez. Precisarão se apresentar à
sociedade como defensores do direito de discordar, aprender a expor suas ideias
com serenidade e, sobretudo, defender as instituições da república. Promover a
livre circulação de ideias, enaltecendo a vida intelectual, a liberdade de
cátedra e o direito de discordar.
Do
contrário, o bolsonarismo tal qual Thawne, será um flash ao contrário, nesse
caso um petismo ao contrário, ou nas palavras de Janaina Paschoal: “um PT com
sinal trocado”; com tendências autocráticas e pouco republicanas.
Desse
modo, cabe a cada um que menos preocupado em escolher um lado e mais preocupado
em defender as liberdades individuais garantidas pelo princípio de cidadania
constitucional não se deixar levar pelos gritos histéricos de nenhum dos lados,
mas com os pés no chão resistir tal qual Odisseu resistiu ao canto das sereias
aos encantos do ativismo míope que tem solapado o debate e criando na cultura
política do país um ambiente propenso a truculência daqueles que só se fazem
ouvir pela força.
Brener
Alexandre 30/10/2018