terça-feira, 14 de maio de 2013

Elegia do coração desfigurado


Eu queria não sentir como sinto, nem existir como existo...
Queria ser como os outros, despreocupado...
Queria confundir o amor com bom dia
Pensar na próxima bebedeira, na próxima orgia...

Ah, como eu queria que a minha vida fosse menos doída...
Que eu não me sentisse estranho, nem desprezado...
Queria apenas ser sorrisos e viver acima do certo e do errado.

É por sentir como sinto que penso que sou apenas um buraco na realidade.
Um incomodo para os outros
Um sacrifício a ser feito
Um estorvo a ser suportado.

O coração dói e a alma sangra
Porque meus afetos me corroem.
E o medo me derruba e me vence e me acoa...
Entôo as minhas lágrimas
Canto o meu desespero
Choro as minhas dores
Tremo de medo.

Eu queria não sentir e sinto, queria não existir e existo
Vida como morte
Morte como vida
Existência para dentro
Inexistência para fora.

Tu que me vês e não me notas
Notas-me, mas não me vês
Finja que eu fui bom
Que eu fui legal
Que fui interessante
Ou digas que não fui nada disso
Que fui apenas uma distração
Uma ilusão ou assuma que apenas existo para ser dispensado
Para tapar o buraco como opção dos inválidos
Para ser um pária as margens da existência.

E por fim vivendo morto sem ti
Sem ninguém
Morrerei vivo
E enterrado como indigente
Serei por ti esquecido.