sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Tarde de Novembro

Foi numa tarde de novembro que me assentei naquele banco no pátio da escola, já não me lembro em que dia da semana apenas me lembro que foi numa aula de educação física. Era uma tarde como essa quente e ensolarada como se espera do zênite da primavera. Devia ser por volta das quatro da tarde. A tarde caia para dar lugar pouco a pouco à noite. Uma tarde melancólica e um aluno melancólico juntos a iniciar uma história nova.

Um jovem, uma criança que era muito bela, mas não se via como tal, pois crescera ouvindo o contrário de todos. Estava mais para patinho feio que para sapo que vira príncipe. Mas certamente não era cônscio do que era de fato. Naquela época tinha poucos amigos e crê que ainda hoje têm poucos, talvez porque a amizade sendo como um diamante seja difícil de encontrar e tal como o ouro se encontrado com facilidade perde o seu valor. No entanto, era só principalmente durante todo o horário em que passava na escola, tinha lá seus colegas-amigos, mas se sentia muito sozinho, não se identificava com a aquela gente e ao que parece àquelas pessoas também não se identificavam com ele e, portanto, não havia reconhecimento e não havia amizade real.

Foi naquela tarde silenciosa perto do ocaso do sol que aquela criança imatura, sozinha e triste se assentou num banco tomou um caderno de sua mochila e uma caneta e se pôs a escrever. Abriu-se ali uma porta para a sua interioridade, a criança, é claro, não sabia a dimensão do que fazia naquele momento, não possuía sabedoria para tal e muito menos tinha uma aproximação íntima com a filosofia; é bem verdade que já havia lido contos fantásticos da Grécia e lia as histórias da bíblia com bastante devoção e tudo o que encontrava sobre a cultura oriental: budismo e confucionismo era motivo para sorrir.

O papel aceitou a tinta da caneta e com ela as idéias que o jovem transmitia ao papel contava para si mesmo como no diálogo consigo como se sentia diante do mundo, descobria pouco a pouco que era livre e que apesar das arraias da necessidade e do destino ele podia dizer não se fosse corajoso, e lutar se tivesse força de vontade para fazer prevalecer em si as escolhas que havia feito acreditando que o caminho a ser percorrido, embora difícil fosse era o melhor a ser feito, um caminho feito de pequenas pegadas palmilhadas devagar como o sol daquele dia ordinário de novembro.

Hoje aquela criança ainda esta por aí, trilhou a sua interioridade naquele tempo e agora cede espaço ao homem adulto que na medida do possível tenta evitar o colapso do seu mundo e não o evitando ao menos possa reconstruí-lo se possível for.
Foi numa tarde de novembro como essa que estou escrevendo esse relato que uma criança e um adulto se encontraram, eram a mesma pessoas em épocas diferentes e a criança descobriu que não estava mais sozinha e o adulto descobriu que no fundo bem lá no fundo o que importa nisso tudo é ver que o caminho palmilhado se desfaz e que as vezes olhar para trás só serve para nos atrasar ou como punição pelo receio do que há no horizonte que nos espera transformarmos em estátuas de sal, imóveis ante o futuro misterioso que nos aguarda.


Brener Alexandre 21/11/2014