Engraçado como o mês de dezembro é estranho, não é? Parece
que tudo muda durante trinta e um dias. As cores do pisca, árvores natalinas e
o céu nublado me trazem muitas lembranças, maioria muito agradáveis. São
lembranças de um tempo que não voltará mais. De um tempo esquecido e relembrado
apenas nos palácios da memória para parafrasear Santo Agostinho.
Muitas vidas revividas quase que de uma só vez em vários
momentos sinestésicos. Entre aromas do passado e sentimentos do presente uma
lacuna no tempo que se explica pela sua atemporalidade que é outra forma de
falar da eternidade.
Lembranças de risadas e ensaios, novenas e festas que
agora são apenas lembranças fotografias amareladas impressas na memória,
penduradas na parede do grande salão que torna atemporal os momentos efêmeros
dissolvidos na ampulheta do destino dos mortais.
O fim das aulas é o núncio das festas, o arauto da
alegria ainda que entre as férias e o fim das provas estivesse um boletim que
assumia o papel de passaporte e salvo conduto da consciência dos que queriam
terminar o ano com a sensação de dever cumprido. Ainda sinto o cheiro da chuva
a molhar a terra do quintal da minha antiga morada, ainda vejo a jaboticabeira
carregada e a mangueira florida. Quantas vezes não me sentei na goiabeira
tomando do seus frutos como verdadeira ambrosia, alimento reservado aos deuses,
eu um mortal criava como Prometeu de uma simples goiabeira o doce alimento
divino, alimentava o corpo e o espírito alimentava a criatividade para os jogos
com meus amigos.
Ah, a melhor parte do mês de dezembro era estar com os
amigos, poucos, mas valiosos, o tempo efêmero se tornava eterno quando
estávamos juntos. Cada jogo, cada brincadeira, cada momento parecia que não ia
terminar. Não havia sensação de perda, ou de frustração, tudo era gratificante,
sinto falta desse tempo, sinto saudade daquela época.
Naquele tempo a vida parecia uma vinheta da Cartoon
network no melhor estilo que as vinhetas dos anos 90 desse canal poderiam
oferecer a uma criança de 10 anos à época.
O mês de dezembro com suas cores e clima, com suas
pelejas e sinas carrega traços marcantes de um tempo que não volta, do tempo
que não para. Olho a árvore enfeitada na sala e me pergunto quantos natais
ainda verei? Penso e medito um pouco sobre o passado, sobre o que fui e o que
se perdeu pelo caminho entre tantas lacunas no espaço-tempo. Partes de mim
foram deixadas para trás, o menino se tornou um adulto, o adulto tem ainda algum
traço do menino?
Me sinto perdido diante das memórias, queria morar nelas
se pudesse para sempre. Me encontro nelas mais do que gostaria. “Ah, vida real!
Como é que eu troco de canal?” canta o poeta gaúcho. No mês da sinestesia, da
lembrança dos cheiros, e das imagens imortalizadas na mente, eu também quero
por alguns momentos trocar de canal, para o canal do pretérito perfeito ou mais
que perfeito dos anos dourados em que o tempo passava, mas parecia não ter fim.
E para quem não se lembra das vinhetas deixo aí uma cortesia extraída do youtube, não tem todas as vinhetas antigas, mas tem a maioria delas. aproveitem!
E para quem não se lembra das vinhetas deixo aí uma cortesia extraída do youtube, não tem todas as vinhetas antigas, mas tem a maioria delas. aproveitem!
Brener Alexandre 09/12/2015