quinta-feira, 13 de abril de 2017

Entrar ou sair do coração de alguém dói: pequena reflexão sobre as relações humanas

O coração é desde a antiguidade o órgão que representa o ser humano por inteiro, suas dimensões racionais e afetivas, suas virtudes e vícios, ou seja, tudo o que ele é como ser humano em sua humanidade sem fragmentar-se é coração. Por isso, falamos ainda hoje do coração como lugar do nosso ser e não a nossa cabeça embora admitamos ser a cabeça o lugar da razão. A antropologia bíblica e a antropologia filosófica do pensamento arcaico (poesia grega principalmente) atestam o coração como centro da humanidade.

Compreendendo o significado do coração como imagem do nosso íntimo, pergunto: por que entrar ou sair do coração de alguém dói? Como é esse doer? A imagem à qual irei recorrer para responder essas duas perguntas é fruto de um sonho que tive. A imagem é uma dinâmica, exercício no qual realizamos uma experiência concreta do que desejamos ensinar. A imagem foi construída do seguinte modo: um grupo de pessoas formando um aglomerado dentro de uma tenda sem iluminação interna. A pessoas entravam e não saiam inicialmente, quem estava do lado de fora não ouvia barulho vindo da tenda, era como se ela tivesse isolamento acústico.

As pessoas eram convidadas a entrar na tenda que já contava com um grande número de pessoas. A primeira sensação: medo, porque não sabemos o que acontece dentro da tenda. A segunda sensação: curiosidade, queremos saber o que há no interior da tenda descobrir o que se passa lá dentro. A terceira sensação: coragem, você se dispõe a enfrentar o medo inicial e resolve entrar na tenda. A quarta sensação: o desejo, o desejo te move e você adentra a misteriosa tenda escura.

Essas quatro sensações iniciais não se manifestam nessa ordem e muito menos podem se manifestar todas de uma vez. Pode ser que você sinta apenas medo, ou coragem, desejo ou curiosidade ou nenhuma delas. Dentro da tenda está escuro, você esbarra nas pessoas pode tropeçar no meio delas enquanto entra na tenda, pode até se machucar com uma cotovelada, tapa, soco, chute e com muitas agressões voluntárias e involuntárias. Isso acontece porque não sabemos com o que ou quem estamos lidando dentro da tenda e nesse percurso é parar dentro da tenda no oculto da escuridão ou caminhar para achar a saída, só há duas possibilidades ficar ou sair. Se sairmos ou ficarmos haverá consequências, ninguém escapa ileso da tenda. Quando se sai, a saída é sempre angustiante, dolorida, saímos marcados no corpo, na alma pela experiência de andar entre tantos na escuridão. Essa é a imagem que a dinâmica propõe, e o que ela ensina?
Entrar na vida de alguém, isto é, entrar no coração de alguém é entrar nessa tenda, a gente não sabe o que vai encontrar, e nem sabemos se vamos ser capazes de permanecer.

As quatro sensações experimentadas antes de entrar são as sensações que podemos sentir dentre tantas possíveis quando conhecemos alguém. É natural que tenhamos medo, curiosidade, coragem e desejo em relação às pessoas que conhecemos. O medo por não saber o que esperar, ou como as pessoas irão reagir. A curiosidade de saber como é conviver com aquela pessoa ou de entrar no universo da vida dela. A coragem e o desejo de se arriscar e investir na relação. Em suma, são os primeiros passos em qualquer relação humana.
A tenda é escura porque assim como o coração de qualquer pessoa nós somos incapazes de saber quantas pessoas ali habitam, quantas tem um lugar especial na vida do outro quantas pessoas estão disputando o mesmo espaço no coração de alguém. Por isso ao entrar e caminhar no coração de alguém ficamos sujeitos a todo tipo de “agressão” algumas voluntarias fruto da disputa pelo lugar, outras involuntárias fruto do nosso querer que nos põe em conflito com o que não compreendemos ou aceitamos na vida do outro, o ciúme, a inveja, a insegurança são alguns dos elementos que podem nos machucar nesse processo.

Desse modo, só há duas possibilidades. Sair ou ficar, em ambos os casos haverá conflito, haverá disputa por espaço, mas quando sair haverá a frustração e as marcas da experiência gerada pela tensão no interior do coração do outro.

O coração é lugar da intimidade, e sempre haverá disputas quando queremos fazer parte da vida de alguém. Entrar ou sair do coração de alguém dói, portanto, porque implica saber caminhar em território desconhecido no escuro confiando no convite para permanecer com. Se não somos capazes de fazer essa experiência de confiança somos expulsos do coração por nós mesmos, que provocamos a nossa expulsão. Essa dor é a frustração, mas também é a dor do medo e da insegurança que são constantes em nossas vidas principalmente quando não confiamos em nós mesmos e refletimos essa desconfiança nos outros.


Brener Alexandre 13/04/2017

terça-feira, 4 de abril de 2017

Amigo Secreto

Quero ser seu amigo secreto
Conversar contigo no silêncio da alma
Quero ser seu teu companheiro em segredo
Contemplando sua beleza a minha volta.

Não escolhi ser teu amigo oculto
Foi tu que me chamastes primeiro
Me falas no silêncio que grita
Me contemplas na história fugidia.

Quero ser seu amigo secreto
Te falar no segredo da intimidade
Te acompanhar aonde fores
Contemplar todos os teus passos,
De alegria e dores.

Deixa-me ser teu amigo,
Em segredo, escondido.
Deixa-me te amar no silêncio
Com os olhos, com o sorriso
Em segredo, escondido.

Deixa-me ficar contigo
No escuro
No oculto
No coração.

Deixa-me ficar contigo
De verdade,
Com emoção,
Com verdadeira paixão.

Quero ser teu amigo secreto
Te amar em segredo
Escondido
Na intimidade
Com sinceridade.

Quero ser teu amigo secreto
E dar-te
O meu amor,
Minha amizade.

Quero ser teu amigo oculto
E presentear-te
Com a partilha
Com a minha solidariedade.

Ser teu amigo em segredo
E oferecer-te
Com generosidade
O meu afeto
A minha companhia
Sem saudade
Com alegria
E fidelidade.


Brener Alexandre 04/04/2017

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Pulsão de morte

Às vezes tenho desejo de partir
Às vezes tenho vontade de sumir
Tenho sede de paz
Fome de silêncio.

Às vezes tenho vontade de falar
Às vezes tenho vontade de berrar
Desatar o nó da garganta
Estou engolindo a falta de esperança.

Às vezes penso que não deveria ter nascido
Que não deveria ter entrado no mundo ter sido concebido.
A alma dói
O coração sangra.

Entre a vida e a morte
Entre o desejo e a sorte
Impulsionado pelo destino
Fugindo dos meus desatinos.

Às vezes quero inexistir
Às vezes quero sorrir
E não consigo
E finjo
E choro.

Às vezes quero me esconder
Porque tenho medo
De viver
De sofrer.

Às vezes a vida me empurra
Entre vontades absurdas
A emoção violenta
A pulsão sangrenta
Desejo de morte
Desejo de fim da existência.


Brener Alexandre 03/04/2017