Tenho percebido que quando se trata de política, as
pessoas em geral fundamentam seus argumentos no medo, e com isso reagem sempre
de modo pouco razoável.
Li esta manhã uma coisa que me chamou bastante a atenção,
uma pequena chamada enquanto esperava para fazer um exame laboratorial, dizendo
que em vários lugares as pessoas estão “descomemorando” a ditadura militar que
começou em 1964 num 31 de Março como o de hoje, ou seja, a exatos 50 anos.
Parei para refletir e pensei comigo mesmo, que ao descomemorar
as pessoas querem esquecer esse capitulo negro da nossa história. Afinal, de
contas comemorar só significa fazer festa para algo ou alguém no sentido mais
coloquial do termo, o sentido exato da palavra comemorar é: “trazer a memória
junto”, “recordar junto”ou “lembrar junto”. Em outras palavras, comemorar é um
ato de não apagar da memória, E não necessariamente fazer festa, geralmente
empregamos a palavra comemorar quando acontece algo bom, mas se comemora o que
não é bom também, como por exemplo o aniversário de morte de um ente querido, a
comemoração não é com festa, mas é com o trazer a memória a imagem daquela
pessoa que nos deixou o vazio da saudade.
Imaginem se os romanos se esquecessem da tirania de Sula?
E os atenienses a tirania dos 30?
Não é e não pode ser um olhar para história galgada no
partidarismo político, não é a esquerda, ou a direita, mas é a nossa cidadania,
somos cidadãos de uma república, de um espaço democrático, no qual reconhecer as
mazelas que carregamos a 500 anos de história a fora do qual esses 50 é uma parte
recente. Devemos dizer não a toda forma de totalitarismo, pois o totalitarismo
é a expressão imperiosa da tirania e da demagogia. Quem argumenta fundamentado
no medo, como se um leviatã fosse nos devorar a qualquer momento. Talvez haja
mesmo um leviatã, criado por nós mesmos, alimentado pelo nosso medo e que nos
faz reagir irracionalmente pedindo ditaduras, afinal de contas ditadura do
proletariado, também é uma ditadura, ditadura militar também é ditadura, são
formas de poder abusivas em que o direito à cidadania é restringido ao mínimo.
Como cidadãos devemos nos esforçar para combater essas
posturas antidemocráticas, pelo menos na medida em que estamos vivendo em uma
república.
Aí reside a importância da História, enquanto ciência
humana e enquanto processo da nossa condição de existência, a História é o
lugar privilegiado da comemoração, desse ato de trazer à memória os fatos do
passado. Tucídides se exprimiu assim sobre a sua História da guerra do
Peloponeso:
“Quem quer que deseje ter uma ideia clara tanto dos eventos ocorridos quanto daqueles que algum dia voltarão a ocorrer em circunstâncias idênticas ou semelhantes em consequência de seu conteúdo humano, julgará a minha história útil e isto me bastará. Na verdade, ela foi feita para ser um patrimônio sempre útil, e não uma composição a ser ouvida no momento da competição por algum prêmio.” (TUCÍDIDES, História da Guerra do Peloponeso. I,22).
“Quem quer que deseje ter uma ideia clara tanto dos eventos ocorridos quanto daqueles que algum dia voltarão a ocorrer em circunstâncias idênticas ou semelhantes em consequência de seu conteúdo humano, julgará a minha história útil e isto me bastará. Na verdade, ela foi feita para ser um patrimônio sempre útil, e não uma composição a ser ouvida no momento da competição por algum prêmio.” (TUCÍDIDES, História da Guerra do Peloponeso. I,22).
Portanto, como também disse Platão: “recordar é saber”
(citando de memória).
Combatamos o medo com sabedoria e virtude, que o medo não
sirva para fundar a nossa reação, mas que ele seja a fonte da nossa busca por
conhecimento para que nunca mais o medo seja a base do poder político em nosso
país.
Brener Alexandre 31/03/2014