domingo, 30 de novembro de 2014

Escombros

O que eu vejo são os escombros beijo do sofrimento
O que eu vejo são os destroços abraço da tristeza
O que eu vejo são ruínas e o silêncio que me atormenta.

Ficou pedra sobre pedra, não ficou resquícios de civilização em mim.
Fui desumanizado pela guerra foi assim que vi o meu mundo ruir.
Escombros de memórias e destroços de pensamentos.
Um buraco no peito e um coração partido.

A brisa da noite me beija sempre silenciosa
E a lua nova me observa escondida no céu.
Só as estrelas se fazem companheiras, mas a distância elas também tem medo da guerra.

O que vejo são cadáveres, corpos mutilados, corpos queimados.
O que eu vejo são sentimentos em pedaços e a razão esfacelada e cega.
O que eu vejo é a violência que me faço todas as vezes que vou à guerra.

Escombros são fragmentos de um mundo destruído.
São as lágrimas vertidas noites a fio.
Pedaços do que restou da minha alma.
Um mosaico criado pelo caos.


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Maratona

Foi em 490 a.C. que um certo “Fidípides, cidadão ateniense e além disso corredor de longas distâncias e aficionado dessa espécie de atletismo” (Heródoto, História VI, 105) correu a mando de seu general 42 km depois de um dia inteiro de batalha até a sua cidade natal para anunciar “Alegrai-vos atenienses, vencemos” e depois tombou diante de seus concidadãos tomado pelo cansaço.
Imaginem comigo esse jovem soldado exausto cônscio de sua missão de contar e avisar aos seus concidadãos correndo sem parar e sem titubear para cumprir seu objetivo. Imaginem esse jovem já tão próximo de Atenas dizendo para si mesmo – “ só mais um pouco” e “aguente firme estou quase chegando” como que exortando a si mesmo para cumprir a missão incumbida.
E imagine como o grito “nenikekamen!”(vencemos) soou como um brado e ao mesmo tempo um último suspiro, posto que cumprida a missão o jovem corredor, Fidípides de Atenas tombou, morto vítima do esforço sobre humano à que fora submetido.
Muitos anos depois a história parece se repetir nos gramados de Minas gerais E como Fidípides correu depois de uma vitória importante conquistando aquela vitória memorável para os gregos hoje nossos jogadores também depois de uma vitória que lhes rendeu o tetra campeonato precisaram correr mais uma vez à pedido de seu comandante. Não, não é comunicar a vitória de Maratona, mas vencer mais uma batalha ainda que exaustos, correr mais uma vez ainda que o coração possa não aguentar e vencer.
Essa noite cada jogador é Fidípides correndo contra o desgaste físico de uma maratona de jogos fruto de um calendário que desafia a humanidade de nossos atletas. Cada jogador é convocado a correr contra o tempo e contra a exaustão, provavelmente dirão a si mesmos – “Falta pouco” e “ vamos resistir” ou “não vamos nos entregar agora”.
Depois do jogo dessa noite sabemos que um dos dois será o campeão da copa do Brasil digno de uma Guerra contra os Persas, ou quiçá, uma guerra do Peloponeso.
Sabemos que os dois lados podem cair exaustos, mas espero que seja o Cruzeiro esporte clube que ao tombar exausto, tombe coroado por mais uma tríplice coroa e leve para a sua sala de troféus mais uma Copa do Brasil.
Boa sorte a todos que fazem do Cruzeiro ser o melhor time do Brasil, jogadores, comissão técnica etc.
Falta pouco, não vamos esmorecer! Cantaremos e estaremos com vocês até o final na vitória ou na derrota.
#FechadoComOCruzeiro
#EuMaisOnze
#CantaqueSaiGol


Brener Alexandre 26/11/2014

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Prisão de Silêncio

Eu sei que estou condenado a essa prisão de silêncio, me impus esse castigo para garantir tua liberdade. Eu sei também que a única coisa que ainda me é permitido é acessar a minha mente, visitar a minha memória e trazer a sua imagem que transpassa os meus sentidos e alentam a minha dor.
Tu não sabes como sinto a tua falta. Tu não sabes como sinto a falta do riso descontraído, do seu olhar curioso e da sua fala sincera. Tu tinhas me libertado, mas eu queria ser teu cativo para sempre.

E agora nessa prisão sem paredes, nesta cela sem grades estou preso pela saudade e amordaçado pela liberdade. Pela minha e pela tua liberdade.
E no final, o que me resta a falsa sensação de que você vai voltar e me libertar dessa prisão retirar os grilhões invisíveis que me impedem de te abraçar.
Antes o teu perfume vai me despertar da fatiga de dormir deitado no chão e tua voz vai me reconduzir a cidade dos bem-aventurados outra vez.

Entre as boas e as más lembranças o que me restam são apenas sonhos e pesadelos.
E ao acordar me deparo ante o bucólico frio da madrugada com a solidão, fim de quem está preso e condenado na prisão de silêncio.

Brener Alexandre 21/11/2014


Tarde de Novembro

Foi numa tarde de novembro que me assentei naquele banco no pátio da escola, já não me lembro em que dia da semana apenas me lembro que foi numa aula de educação física. Era uma tarde como essa quente e ensolarada como se espera do zênite da primavera. Devia ser por volta das quatro da tarde. A tarde caia para dar lugar pouco a pouco à noite. Uma tarde melancólica e um aluno melancólico juntos a iniciar uma história nova.

Um jovem, uma criança que era muito bela, mas não se via como tal, pois crescera ouvindo o contrário de todos. Estava mais para patinho feio que para sapo que vira príncipe. Mas certamente não era cônscio do que era de fato. Naquela época tinha poucos amigos e crê que ainda hoje têm poucos, talvez porque a amizade sendo como um diamante seja difícil de encontrar e tal como o ouro se encontrado com facilidade perde o seu valor. No entanto, era só principalmente durante todo o horário em que passava na escola, tinha lá seus colegas-amigos, mas se sentia muito sozinho, não se identificava com a aquela gente e ao que parece àquelas pessoas também não se identificavam com ele e, portanto, não havia reconhecimento e não havia amizade real.

Foi naquela tarde silenciosa perto do ocaso do sol que aquela criança imatura, sozinha e triste se assentou num banco tomou um caderno de sua mochila e uma caneta e se pôs a escrever. Abriu-se ali uma porta para a sua interioridade, a criança, é claro, não sabia a dimensão do que fazia naquele momento, não possuía sabedoria para tal e muito menos tinha uma aproximação íntima com a filosofia; é bem verdade que já havia lido contos fantásticos da Grécia e lia as histórias da bíblia com bastante devoção e tudo o que encontrava sobre a cultura oriental: budismo e confucionismo era motivo para sorrir.

O papel aceitou a tinta da caneta e com ela as idéias que o jovem transmitia ao papel contava para si mesmo como no diálogo consigo como se sentia diante do mundo, descobria pouco a pouco que era livre e que apesar das arraias da necessidade e do destino ele podia dizer não se fosse corajoso, e lutar se tivesse força de vontade para fazer prevalecer em si as escolhas que havia feito acreditando que o caminho a ser percorrido, embora difícil fosse era o melhor a ser feito, um caminho feito de pequenas pegadas palmilhadas devagar como o sol daquele dia ordinário de novembro.

Hoje aquela criança ainda esta por aí, trilhou a sua interioridade naquele tempo e agora cede espaço ao homem adulto que na medida do possível tenta evitar o colapso do seu mundo e não o evitando ao menos possa reconstruí-lo se possível for.
Foi numa tarde de novembro como essa que estou escrevendo esse relato que uma criança e um adulto se encontraram, eram a mesma pessoas em épocas diferentes e a criança descobriu que não estava mais sozinha e o adulto descobriu que no fundo bem lá no fundo o que importa nisso tudo é ver que o caminho palmilhado se desfaz e que as vezes olhar para trás só serve para nos atrasar ou como punição pelo receio do que há no horizonte que nos espera transformarmos em estátuas de sal, imóveis ante o futuro misterioso que nos aguarda.


Brener Alexandre 21/11/2014

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

16 anos de "O lobo solitário"



Como havia dito semana passada, hoje dia 20 de Novembro "Kozure Okami Zeus project" (Projeto O lobo solitário Z) completa 16 anos. E eu não poderia deixar a data passar em branco, porque a criação dessa história é a criação de uma vida. O contexto e as razões que me levaram a começar a escrever essa história numa tarde de novembro em 1998 nos idos dos meus 14 anos como uma jornada pessoal em busca do que eu tinha de mais valioso e enfrentando todas as adversidades além de lutar contra os meus demônios internos é sem dúvida alguma um marco na vida de qualquer um.
Uma colega de escola da época da redação desse texto, uma das poucas pessoas que leram o caderno compilado e todo feito a mão (manuscrito, com desenhos feitos, arte-finalizados e coloridos por mim mesmo). me disse "Muito obrigado por conhecer a história do Lobo solitário e assim um pouco da sua história." Apesar desse projeto não ter sido escrito para publicação e para leitores que não fossem eu mesmo. É um texto que quem leu me pede para transformá-lo em livro. O que se vier a ser feito algum dia exigirá muitas modificações e adaptações. Por hora, agradeço aqueles que conheceram esse lado da minha vida e o acolheram, são poucos, mas são pessoas a quem sou muito grato.
Como disse, O lobo solitário é um registro, um diário em que as memórias contadas relatam a luta de um jovem contra si mesmo que precisa se unir a si e enfrentar a si para dar sentido e coerência ao seu mundo interior a partir de uma resposta livre. A história por mim escrita naquela época tem poucos traços diretos herdados da filosofia, porque naquela época eu tinha pouquíssimo contato com a ciência mãe, no entanto, a mitologia e as culturas pagãs pré cristãs e o próprio cristianismo são bastante operantes e dão consistência a minha modesta ficção particular.
O texto é muito simples e ao mesmo tempo muito sofisticado, afinal foi escrito por um garoto entre os 14 e 17 anos com muitas deficiências, mas que tinha um intuito se não nobre ao menos virtuoso.
Acima a última ilustração do caderno compilado. Se fosse um quadro se chamaria: " Final da batalha"
Da esquerda para direita: Mitsurugi Ryu, Lobo Solitário (Fúria), Ódio e Trovão.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Eros e psykhé II

Te observo com ternura e te amo em segredo.
Escondido na penumbra transportado pelo desejo.
Te observo e tenho medo que um dia me descubras
Que me tome por monstro por causa dessa loucura.

Te observo e admiro a cada instante que te encontro.
Escondido eu velo em segredo pelo teu sono.
Encantado pelo perfume sou conduzido para ti.
 Quando te vejo sou tomado de uma alegria sem fim.

Te observo, ó belíssima! Com ternura e emoção.
E te amo em segredo por medo da solidão.
O desejo do teu abraço me corroí atroz!
Tenho fome da tua boca e do som da tua voz.

Se eu pudesse acender a luz e me revelar
Ainda sim terias medo, terias medo de me amar.
Pois divino eu não sou, mas me vê como se fosse.
E o medo de fracassar daria realidade ao rumores.

Portanto, belíssima te amarei escondido.
Cuidarei de ti com zelo e carinho.
Não me machuque amada minha
Não me fere com teu punhal.
Mas acolhe o meu amor sem medo de como será o final.


Brener Alexandre 13/11/2014

Sorriso

Um sorriso é um riso silencioso é um riso performático.
A graça que o riso externaliza o sorriso guarda para si.
O sorriso de um lado manifesta a alegria e do outro a simpatia.
O sorriso é um convite é o buraquinho da fechadura.
Quem consegue abrir o sorriso do outro, abre a porta do seu coração.
O sorriso substitui as palavras quando elas não dão conta de exprimir tudo.
O sorriso comunica a beleza;
Comunica a amizade;
Comunica o amor.

O sorriso comunica a graça e alivia a dor.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Jornada - Poema comemorativo dos 16 anos de O Lobo Solitário Zeus


Poema escrito em comemoração pelos 16 anos (criado em 20/11/1998) da criação de Lobo Solitário (Kozure Okami Zeus) até o dia 20/11/2014 os poemas originais da época e novos serão publicados para trazer a memória a criação deste pequeno épico que começou a ser escrito quando eu tinha 15 anos.

Jornada

Comecei uma jornada em busca do desconhecido.
Comecei uma caminhada à procura do infinito.
A jornada era longa se perdia no horizonte,
Não tinha bagagem e nem companhia não havia mordomias.

Uma jornada solitária de alma maltratada.
Jornada difícil caminhada longa.
Durante a jornada vi muitas coisas vivi outras mil.
Atravessei o deserto do medo e a garganta do desespero.
Enfrentei o ódio e os meus piores medos;
Minhas fraquezas refletidas no espelho do cânion sinistro.
Fui paralisado pela Vingança terrível.

Durante a jornada conheci gente magnífica;
E me despedi com tristeza do amor da minha vida.
Conheci guerreiros honrados, gente leal e sincera.
Vi morrer nos meus braços a esperança generosa.

Atrás da virtude objetivo da minha jornada
Achei um diamante minha alma lapidada.
A jornada não tem fim o caminho é sempre percorrido.
Me chamam Lobo Solitário e sigo em frente sozinho.

Brener Alexandre 11/11/2014



domingo, 9 de novembro de 2014

Fragância

Seu perfume são como as setas que indicam o caminho para o mistério. Seu perfume revela a bela flor que te tornastes ao desabrochar em segredo. Um perfume forte e suave.

Tão forte que me arrebata a força, me carrega no teu encalço, me conduz a ti arrastando me pelo jardim a fora. Suave como o toque das tuas mãos sobre a minha, suave como seu olhar gentil e puro. Teu perfume é armadilha e me captura e me domestica.

 Seu perfume é o próprio mistério. E quando me vejo dentro do mistério fico angustiado porque não tenho no que me segurar.
Pois, já não há toque suave das suas mãos e nem olhar doce e puro, não há mais força que arrebata, há apenas mistério, suspense que suspende tudo e me deixa carregado no vazio dos segredos que a doce fragrância que exala de ti ao me entorpecer com os feitiços do amor me conduzem a uma angustiante luta contra Eros.

Seu perfume é um caminho que percorro sem medo apesar da angustia. Um caminho que provavelmente não vai me levar a lugar algum, no entanto toda caminhada em busca de uma flor rara que desabrocha em segredo vale a pena, já que quem a busca não pretende arrancá-la, mas deseja apenas sentir sempre que possível o aroma suave que exala de suas pétalas nos dias quentes de primavera.

Caminho e caminhada

É frustrante ver que se passaram 16 anos e que nada mudou.  Passaram-se 16 anos e quando olho a minha volta vejo que tudo está como outrora.  Que caminho é esse que percorri afinal parece que andei em círculos e que continuo por aí perdido a caminhar essa caminhada sem fim e sem sentido.

São 16 anos desde que transferi para o papel as minhas dores e questionamentos, um menino que já via o mundo com os olhos de um adulto, mas que ainda brincava quando era possível.
Aquela caminhada árdua e sofrida, com luta e dificuldade parece não ter acabado.
Paro e vejo que o caminho some a cada pegada e que fica então na memória a lembrança do que foi percorrido durante 16 longos anos. O caminho some, mas a paisagem triste e desoladora permanece viva, presente e por causa dela me ponho a refletir sobre o caminho e a caminhada, sobre a direção e o sentido.

Talvez eu esteja me auto enganando, talvez tudo isto seja um sonho ruim, um pesadelo.
Talvez um dia eu acorde, como pensava a 16 anos atrás.
Ou talvez não... talvez a vida seja isso mesmo, sem sentido e engalfinhada em mentiras e ilusões, emaranhadas pela triste agonia de existir.

Não sei se estou andando em circulo. Não sei aonde o caminho vai me levar e nem se vale a pena caminhar, acho que já  cheguei num ponto em que caminho como se estivesse no piloto automático me lançando ao léu do destino torcendo para que isso termine logo e que então eu possa tombar heroicamente depois de ter lutado essa luta quixotesca que é a vida.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Impronunciável

O impronunciável é o outro lado do silêncio, lado oculto da lua do indizível, o mistério que o fundo do abismo aponta.
Digo do silêncio que vela a troca de olhares sem palavras, mas o corpo fala de uma forma ou de outra.
Impronunciável é o que o silêncio diz; intervalo entre o que é permitido falar.
Me faltam palavras, me falta coragem, pois tenho medo em abundância de te perder.
Impronunciável é o que só o silêncio pode dizer, porque impronunciável é o que eu não consigo dizer, seja porque não sou capaz de compreender e explicar, seja porque é difícil de falar.
Ah, se eu não fosse tão ferido, se não houvesse traumas e se a alma fosse inteira!
Se o coração não estivesse em pedaços e destituído de sua totalidade e inteireza pudesse expor argumentos que o impulsionam para frente quase sem olhar para trás! Digo quase porque ainda olho para trás receoso de me lançar no desconhecido que se me apresenta... Frustrado todos os dias por sentir que a minha existência não é nada mais que misérias e incertezas subo no palco dessa tragédia na expectativa de logo ver o seu fim, isto é, o meu fim.
Impronunciável é silêncio que me trai e atrai para a angustia vociferante que a existência me impõe, lúcida e ácida que me desintegra cada vez que escuto o som surdo do silêncio que ecoa dos teus lábios.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Coração

Tinha um coração puro me diziam, não havia maldade me falavam...
Tinha um coração nobre elogiavam, não havia injustiça aplaudiram...
Tinha um coração belo se admiravam, brilhava em sua beleza cantavam...
Tinha um coração inteiro reconhecia, mas foi esfacelado não se esquecia...

Coração com suas razões e emoções
Coração com suas vontades e decisões
Coração partido e repartido, compartilhado.
Coração ferido que não pode ser curado.

Era um coração sem razão, sentido...
Era um coração vazio contristado, frustrado.
Era um coração simples, era simplesmente coração
Incompreendido porque não falava a muito a voz da razão.

domingo, 2 de novembro de 2014

A Rosa – Reflexão a partir do Pequeno Princípe

Olhando as flores me lembrei de que o amor recusa a violência e relendo o clássico “O Pequeno Príncipe” me veio outra coisa a mente. É interessante o movimento feito pelo principezinho antes de conhecer e cativar a raposa, pois, o pequeno príncipe passa por um roseiral e fica desapontado ao descobrir que a sua rosa não era única, mas era apenas uma rosa comum. Porém, depois de conhecer e ficar amigo da raposa descobre que a sua rosa não é uma rosa qualquer, uma rosa comum, mas é especial.
O nosso principezinho volta ao roseiral e diz: “Ela (a rosa) sozinha é, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela que eu reguei. Foi ela que pus sob a redoma. Foi ela que abriguei com o para-vento. Foi por ela que eu matei as larvas. Foi ela que eu escutei se queixar ou se gabar, ou mesmo calar-se algumas vezes, já que ela é a minha rosa.” Vejam que a descoberta do principezinho o faz perceber que a relação com a sua rosa modifica completamente o seu olhar sobre ela. A relação é de intimidade e profundidade, uma coisa leva a outra.

A raposa explica ao menino: “eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O Essencial é invisível aos olhos. Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...” Na verdade, não foi tempo perdido, foi tempo dedicado. A rosa quer ser ela mesma e também queremos ser nós mesmos. Queremos ser aceitos como somos com nossos pequenos defeitos e nossas virtudes, carecemos de reconhecimento e de espaço para crescer. Ora somos jardineiros, ora somos a rosa.

No entanto, nos esquecemos que a rosa vai reclamar um dia ou outro, vai estar insatisfeita, mas isso faz parte do mistério relacional.
Se não suportamos pessoas rasas, fúteis e superficiais é porque somos profundos como um abismo, é belo, mas assustador! Somos como o mar aberto, esplêndido, mas angustiante. Ora, os místicos também conhecem bem essa experiência de se lançar nas “águas mais profundas” e de fazer a experiência do desamparo, esse abandonar-se no mistério também é angustiante.

Quem tem a profundidade dos abismos é de uma intensidade angustiante e não se contenta apenas em refrescar os pés, mas quer “lavar o corpo inteiro”.
E se somos estranhos de perto, que seja! A estranheza é fruto da falta de convívio, de tempo dedicado, pois devemos nos interessar pelas pessoas como elas são e não como queremos que elas sejam! É tolice dizer para alguém que é melhor te ter como amigo, ora, a amizade pressupõe que eu também te acompanhe de perto do contrário não é amizade, não seria nem coleguismo.
Assim como a lógica pressupõe que se alguém merece todo amor do mundo e se você diz isso a alguém, então devemos pressupor que você esteja minimamente inclinado a amá-lo do contrário o que você diz é uma mentira ou você é covarde.

O amor, a amizade e todo o resto dependem da coragem enquanto virtude, pois é da coragem que brota a sinceridade para o real engajamento.
MacIntyre argumenta: “Acreditamos que a coragem é uma virtude porque o cuidado e a preocupação com indivíduos, comunidades e causas, tão fundamentais em tantas práticas, requerem a existência de tal virtude. Se alguém diz que cuida de uma pessoa, comunidade ou causa, mas não está disposto a correr riscos por essa pessoa, comunidade ou causa, põe em questão a sinceridade de seu cuidado ou interesse. Coragem, a capacidade de correr riscos, tem seu papel na vida humana devido a essa ligação com o cuidado e o interesse. Não estou dizendo que seja impossível interessar-se e também ser covarde. Estou dizendo, em parte, que a pessoa que se interessa com sinceridade e não tem a capacidade de se arriscar precisa se definir, tanto para si mesma como para as outras, como covarde.” (MacIntyre, Depois da Virtude. P. 323-324)
Traduzindo em miúdos, a coragem se relaciona com a veracidade da nossa intenção. Do quanto estamos dispostos a pagar para que nossas relações sejam verdadeiras e sinceras.
Eu posso escolher quem vai me machucar e quem não vai e se me machucar tenho que buscar a sabedoria para saber se a pessoa o faz por querer, afinal de contas a rosa tem espinhos e se não sei lidar com ela ou se me apresso, eu me espeto!

A verdade é que tem pessoas na quais eu daria o mergulho profundo, “o salto no escuro da piscina” como canta Humberto Gessinger em Piano bar. Algumas pessoas merecem a minha coragem e a minha sinceridade, outras simplesmente optam pela covardia não dita. E você o que quer para si mesmo? O que você tem feito pela rosa que floresceu no seu mundo? Já a notou?
Lembre-se “o caminho só existe quando você passa”...