Apresento uma tradução feita do capitulo 6 do livro VI da obra: "Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres" escrito por Diogénes Laertios por volta do século III d.c, trata-se de uma coletânea de anedotas sobre os primeiros filósofos e as principais escolas filosóficas do mundo antigo. A maioria das anedotas são sempre muito espirituosas. deixo aqui a tradução do paragrafo 94. O que estiver entre parênteses é nota explicativa e entre colchetes é o que está subentendido no texto grego. Segue a tradução abaixo:
Capitulo 6 - Metroclés
Metroclés de Maronéia, irmão de Hipparchia foi ouvinte das lições do peripatético Teofrastos (sucessor de Aristóteles no Liceu), e a sua saúde era tão debilitada pela fraqueza, que uma vez, enquanto se exercitava soltou um peido por meio do esforço que fizera e envergonhado trancou-se em casa desejando morrer de fome. Tomando conhecimento do fato Crátes foi vê-lo para exortá-lo e devorando propositalmente muitos tremoços (um tipo de cereal) foi persuadi-lo com argumentos de que nada havia feito de mau. Pois, seria um milagre se os gazes não respondessem (Responder aqui significa sair por onde deveria sair, ou seja, Estranho seria se os gazes não saíssem como peido) de acordo com a sua natureza.
Finalmente o próprio Crátes também peidou e por ter realizado o mesmo feito [de Metroclés] conseguiu animá-lo. Daquele momento em diante passou a ouvi-lo (ouvir Crátes, ser seu discípulo) e tornou-se proficiente em Filosofia. DL VI, 6, 94.
quinta-feira, 30 de maio de 2013
quarta-feira, 29 de maio de 2013
Saudade
Ah, ausência! Minha consciência sente cada passo teu que se
aproxima!
Meus sentidos sabem que tu se faz presente ante a minha
mente.
Ausência, vazio, uma forma de não ser! Ausência o nada
traduzido, experiência de solidão!
Saudade palavra que traduz a consciência da ausência
Imagem do vácuo
Símbolo do vazio
Saudade experiência da falta
Consciência do outro
Saudade não é dor nem prazer
É memória, memória viva, memória transposta.
Saudade caminho da ausência
Caminho consciente da falta
Desejo memorial, memória desejante
Ah, ausência! Quero o que não és!
Quero o que tu ocultas no teu ser!
Ah, ausência! Que o vazio seja preenchido
Que falta seja apagada
Que a solidão manifeste o outro.
Ah, saudade por um pouco fica e me trás à memória a imagem
do que deixei para trás.
segunda-feira, 27 de maio de 2013
O remédio de Maimônides
O filósofo e médico judeu Maimônides (Moisés ben Maimôn 1137/1138- 1204) nos deixou um pequeno
tratado apresentado como uma introdução à ética dos pais escrito em oito
capítulos no qual o rabino Moisés ao se apropriar dos conceitos fundamentais da
filosofia aristotélica: o conceito de mediania, de alma e as suas partes
reflete sobre os meios de viver afastado do pecado, ponto culminante de toda
tradição judaico-cristã.
Além de ser uma contribuição à experiência mística religiosa,
penso que contribui também para a mística filosófica como uma forma de cura sui, ou seja, como um remédio ao
modo das filosofias helenísticas (estoicismo, epicurismo, cinismo e ceticismo)
para a alma.
Não pretendo abordar neste texto em particular a contribuição
que este opúsculo faz à mística e experiência religiosa e ou filosófica,
tentarei de modo livre falar dos aspectos que tornam o trabalho empreendido
pelo filósofo judeu uma contribuição à filosofia como modo de vida e como
tratamento para os males da alma.
Posso falar desta contribuição a partir da minha própria
experiência, já que apliquei em mim recentemente o exercício proposto por
Maimônides no opúsculo aliado ao remédio estóico da vida retirada para o
cultivo do ócio filosófico. Porém antes vou explicar o Método utilizado por
Maimônides e então ficará claro como o tratamento ou remédio funciona na
prática que podemos chamar de exercícios espirituais da filosofia para fazermos
jus ao estudo importante empreendido por Pierre Hadot e Michel Foucault.
Seguindo o caminho de Aristóteles, Maimônides entende que as
doenças da alma são: “sua condição e de suas partes fazerem sempre coisas ruins
e feias e executarem ações desprezíveis” (MAIMÔNIDES, 1992 p.19) em outras
palavras a alma doente se afasta da virtude, afastada da virtude a alma doente
torna o homem indigno, quero dizer tem a sua dignidade diminuída pelo vício/
pecado.
Dignidade aqui deve ser entendida como tudo aquilo que torna
o homem apto a se relacionar com outras pessoas, uma vez que Maimônides
seguindo Aristóteles não pode recusar a sociabilidade inerente à condição
humana.
O tratamento proposto por Maimônides é a busca do equilíbrio
moral através da mediania. A mediania, com efeito, é o meio-termo entre o
excesso e a deficiência que na ética aristotélica é caracterizada como vício
moral.
Deste modo, Rabino Moisés esclarece: “boas ações são aquelas
que se equilibram no meio, entre dois extremos que são ruins; um deles é o
excesso e outro, a deficiência. As virtudes são estados (características) da
alma e disposições adquiridas no meio, entre duas condições ruins [da alma],
uma das quais é excessiva e outra deficiente.” (MAIMÔNIDES, 1992, p.23) Sendo
assim, Maimônides entende que uma vez que se conhece as disposições da alma é
possível tratar seus males com um exercício que nada mais é que uma reeducação
através do hábito: “quando o corpo se desvia do equilíbrio, olhamos para qual
lado se inclina ao se desequilibrar e opomos o seu contrário até retornar o
equilíbrio. Quando estiver equilibrado, removemos este contrabalanço e voltamos
ao que mantém o corpo em equilíbrio. (MAIMÔNIDES, 1992, P.26)
Este é o método terapêutico de Maimônides para curar a alma,
primeiro o individuo é levado a agir no outro extremo e depois pouco a pouco
diminuir o excesso para que o equilíbrio seja alcançado.
Maimônides nos dá alguns exemplos práticos do qual vou me
ater apenas ao da avareza que é um exemplo mais simples de entender, penso.
Segundo o filósofo: “podemos ver um homem cuja alma chegou a
um estado em que ele é avarento consigo mesmo. (...) Assim, se quisermos curar
esta pessoa doente, não a mandaríamos ser generosa. Isto seria como usar um
método equilibrado para tratar alguém com febre excessiva, não o curaríamos de
sua doença. De fato, este homem [com a alma avarenta] tem de ser levado a ser
extravagante repetidamente até que a condição que o torna avarento seja
removida de sua alma e ele quase adquirir uma disposição extravagante. Então
faríamos com que ele parasse com as ações extravagantes e o mandaríamos
executar ações generosas constantemente. (...) Mas não o faríamos repetir ações
de avareza tanto quanto fizemo-lo repetir ações extravagantes. Esta sutileza é
a regra da terapia, e é o seu segredo. (Op.cit. p.26)
Em outras palavras, Primeiro você executa ações contrárias à
aquela que é a causa da doença da alma, para então pouco a pouco possa atingir
o equilíbrio e por fim a virtude.
Maimônides chega a dizer que: “treinamos o homem ruim para
ser muito bom, mais do que treinamos o muito bom para ser ruim. Esta é a regra
para a cura dos hábitos morais, portanto, há que lembrá-la bem.” (op.cit. p.27)
Maimônides vai notar, tal como Aristóteles (Aristóteles
enfatiza que atingir a mediania é algo extremamente difícil e que, portanto
sempre tenderíamos ora para o excesso ora para a falta) que por causa da
terapia tendemos um pouco para o excesso ou para a deficiência e lembra-nos de
algumas práticas próprias dos místicos judeus que para conseguir manter uma
constância no exercício da piedade inclinava-se para um extremo por meio de
jejuns e abstinências variadas e o afastamento da vida social.
E como bom médico lembra que essas praticas são um
tratamento para as disposições de caráter, um modo de exercitar a piedade
através da austeridade de modo que a dignidade possa ser preservada.
“Se ele vissem que – devido à corrupção das pessoas da
cidade -, seriam corrompidos através do contato e vendo suas ações e que o
contato social com eles traria corrupção aos seus próprios hábitos morais, eles
se retiravam a lugares ermos onde não havia homens ruins.” (op.cit.p. 27)
Deste modo podemos aproximar o tratamento de Maimônides à vida
retirada, cara aos estóicos para o cultivo da filosofia tornando- os aptos à
filantropia que é o amor pelo bem comum para a ética da Stóa é não muito
diferente da experiência eremítica dos monges e profetas da cultura
judaico-cristã.
Mas deixando de lado estas divagações que nos faria se
perder na exposição da cura sui de
Maimônides.
O filósofo como dizia, adverte que este exercício não precisa
ser feito por quem não está doente e cita o exemplo dos ignorantes que vêem os
que praticam estes exercícios com o fim de curar a alma, mas não sabem que se
trata de um remédio e querem imitá-los mortificando seus corpos como se Deus
contenta se com tal coisa. A metáfora empregada pelo rabino Moisés é a imagem
do homem que vê o médico tratando uma pessoa mortalmente doente com um remédio
e exigisse deste doente jejum para restabelecer a saúde e pensa que tal
tratamento o fará ter ainda mais saúde, o que não acontece, pois, com efeito,
quem está são e toma um remédio acaba adoecendo.
Percebe-se, portanto, que a busca pelo ponto de equilíbrio é
uma atividade de instrução da alma para o bem, no âmbito moral para a prática
da virtude, no âmbito antropológico para a realização da nossa humanidade, de
modo que este exercício nos torna senão plenamente apto a vida social, ao menos
o mais próximo de uma atitude humana.
O fim último de toda prática moral, da ação ética como parte
integrante dos exercícios espirituais da filosofia não é muito diferente da
experiência mística na vida religiosa.
É por isso que ele nos lembra: “De fato, o objetivo da Torá
(lei de Moisés corresponde ao Pentateuco cristão) é que o homem seja natural,
seguindo o caminho do meio. Ele deverá aderir ao meio quando come o que for seu
para comer, quando bebe o que for seu para beber e quando tiver relações
sexuais com que lhe for permitido manter relações sexuais.” (MAIMÔNIDES.Op.cit.
p.28)
Veja que a ideia é que o homem seja natural, ou seja, exercite
sua humanidade junto aos demais homens, respeitando se e respeitando os outros.
O que eu fiz comigo mesmo foi exatamente por em prática esse
tratamento aliado ao remédio estóico, claro que ainda estou no inicio do
tratamento, mas posso dizer que funciona, consegui neutralizar boa parte dos
sintomas e tratá-los, com tempo quem sabe não irei eliminá-los por completo.
BIBLIOGRAFIA:
MAIMÔNIDES. Introdução à ética dos Pais trad: Alice Frank. São Paulo: Maayanot,1992
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Persuasão II
Tudo o que tenho são palavras despojadas
Frases simples, objetivas.
Tudo o que tenho são palavras sinceras
Em frases que revelam minhas fraquezas, minha fragilidade
Não sou forte, nem tenho o dom de convencer
Não sei falar, não sei escrever
Não sou poeta, e nem filósofo, quem dera os ser!
Tudo o que tenho... tudo o que sou...
Palavras francas, gestos sincero, inocentes até...
Desejos de viver bem
Desejos de construir junto
Desejos de liberdade.
Tudo o que sou, tudo o que tenho...
Fraquezas e misérias... sou humano!
Tentativas entre erros e acertos... sou humano!
Perscruta meu coração e examina, se por acaso minto..
Esse é o meu único argumento...
Minhas únicas palavras...
É entrega sincera... é entrega generosa...
Confissão sem confidente
Persuasão que não convence
Fragilidade do meu discurso
Verdade...
Desculpa esfarrada...
Silêncio tagarela.
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Misantropia II
A tristeza que me aflige me inclina ao confinamento
A dor de outrora é o exílio dos honestos
A metafísica do misantropo é simples.
Ele despreza os homens porque renegam sua humanidade
Ele sofre porque vê em cada ato injusto uma afronta a razão,
ao bom senso.
Seu ódio é apenas tristeza manifesta e medo de se igualar a
eles em faltas e crimes.
E por isso o misantropo é prisioneiro da tristeza.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
dividido
Há dois de mim
Duas faces
Dois lados lutando
Um é luz o outro é trevas
Um ama a vida o outro almeja a morte.
A guerra me devasta por dentro
Arma emboscadas a noite
Não tenho sentinelas nem vigias
Apenas desejo de paz.
Partido pelo destino
Dividido pelo amor
Repartido pelo passado
Feito em pedaços pelo futuro.
Quem pode fazer de mim unidade?
Quem pode restaurar a ordem de outrora?
Quem estirpa as faltas e perdoa os meus erros?
Quem me fará justiça?
Quem aplacará minha dor?
Tu podes me fazer um contigo.
Tu podes reequilibrar o caos
Corrige os meus caminhos e perdoa os meus pecados
Escute a minha oração e me faça justiça
Ameniza a minha dor
Pois enquanto pude te fui leal e fiel
Enquanto tive forças lutei por ti
Agora, peço humildemente que lute por mim.
Ainda estou dividido
Talvez haja esperança
Ordene a minha vontade
E tudo será endireitado.
Silêncio II
Outra noite acordado
Gritando em silêncio
Outra noite desperto
Mergulhado no escuro.
Pesadelo profundo
Culpa ácida corroe minha mente com angustia.
Uma casa cheia esvaziada de vida
Agregados que pensam que são uma família.
Orfandade pior não há que tendo os pais a viver como se não os
tivesse.
Mergulhado no seu mundo
Preso no meu
Fugindo dos fantasmas
Tenho medo das palavras
Dos olhares
Julgam quando não querem julgar
Escolhem sem querer escolher
Matam-me, mas eu não morro.
Ilusão de quem sofre em silêncio
Fugitivo
É para o nosso bem, não é para o seu.
Meu bem é ter você por perto.
No escuro meditei e vi a verdade brilhar como uma luz tomada
pelas sombras
Naquela noite tive a certeza dubitável do meu fracasso.
Minha vergonha
Meu excesso...
Punição divina
Castigo para o transgressor.
Raiva inexiste
Ódio muito menos
Existe apenas tristeza
Falta de força, fraqueza
Pois, resistindo, me machuco
Não quero lutar mais
Por isso para o exílio irei
Poupar-te de ver os olhos do derrotado
De ter pena das minhas misérias...
E outra vez no silêncio...
Outra noite acordado
Apenas o som da lua e das estrelas
Sozinho
Sem lágrimas, nem estas me acompanham
Um riso longínquo me vêm a memória
É o cochilo desejado meu silêncio neste monólogo.
Spes et laetitia (esperança e júbilo)
Por que ainda desejo teu abraço?
Por que ainda quero
olhar fundo nos teus olhos?
Por que ainda és esperança e júbilo para mim?
Porque o teu abraço me protege
Muralha santa contra os meus inimigos
Escudo que bloqueia meu sofrimento
Porta que se abre e me acolhe.
Porque teus olhos profundos me convidam para o mergulho
Prisão sem grades
Lança penetrante que perfura a minha alma
Janela que revela o novo mundo.
Eu ainda te espero
Quero alegrar-me junto de ti
És causa de alegria
Tens a semente da esperança
És remédio para alma e perfume agradável.
Não me sejas indiferente
Não ignores o que sinto
Oferece-me o teu beijo
Dá-me do teus carinhos
Rejubila-te com o meu júbilo
E ofereça-me o teu sorriso quando o meu se apagar.
Não te peço muito
Nem o que não podes oferecer
Peço apenas tua companhia
Complemento de humanidade
Alegria que dissipa a escuridão
Presença que expulsa a saudade
Esperança resistente que habita o meu coração.
És esperança...
És alegria...
Só tu podes ser o luzeiro que irá me orientar nas noites
mais escuras e clarear clareiras escondidas.
terça-feira, 21 de maio de 2013
Perí Aletheias (Verdade)
Tudo o que eu tinha para te dizer está dito
Tudo o que eu podia lhe ensinar foi transmitido
Verdade que sai da minha boca
Descrição da realidade
Ser emergente, natureza naturada.
Tudo oque eu tinha para dizer o coração já disse
Cada argumento, silogismo das emoções
Cada frase, cada palavra, realidade fragmentada.
Tudo o que eu podia lhe ensinar te foi entregue
Ensinar é mostrar, com palavras ou com gestos
Ensinar é sendo o que se é; revelar o inaudível.
Em cada fragmento, em cada parte um todo.
Verdade escondida, natureza atrevida
Verdade revelada, realidade desnudada
Amor união das verdades
Discórdia desacordo das palavras
Poesia é caminho fabricado
Verdade é natureza expressada.
segunda-feira, 20 de maio de 2013
Resistência
Agüentar de pé
Seguir em frente
Até que haja calos
Até que não haja força!
Resistir, esticar, distender
Insistir, persistir, relutar até morrer...
Eu resisto a ti
Tu resistes a mim...
Agüento o tranco
Suporto o peso do mundo
Seco as lágrimas
Enxugo meu suor
Resisto a dor
Insisto no meu amor
Sou cativo da liberdade
Escravo da consciência
Resisto, sou forçado, impelido
Resisto, contra vontade...
Resisto, mas não quero, pois o que eu quero não me é lícito
ter.
Insônia
Outra noite em claro ironia ou sarcasmo?
A mente lúcida em meio à penumbra
O sentimento de derrota e de abandono
Mergulhado nas profundezas da mente: depressão!
Não tenho sono
Não tenho sonhos
Apenas pesadelos entrecortados pela lucidez.
Sozinho no escuro olhando para as trevas nos meus olhos
Pagando o preço alto que a vida me cobra com juros.
Agora os olhos pesam
Finalmente irei dormir
Espero que o sono seja eterno.
domingo, 19 de maio de 2013
Aidós
Não posso olhar nos teus olhos e tampouco ouvir sua voz
Não tenho coragem de te encarar face a face, não pelos erros
que cometi
Não sou digno da tua amizade nem to teu amor
Não sou digno da tua companhia nem da tua lealdade.
É o pudor que me condena
É a vergonha que aponta os meus pecados
É a dor que consome meu estomago e o meu coração que quer
purgar a minha alma.
Não sou digno da tua casa e nem das tuas promessas
Não mereço seguir-te, pois as minhas faltas se acumulam
sobre as minhas costas
Percebi muito tarde não nasci para os teus bálsamos nem
mereço teus perfumes
O pão que me doa generosamente
Nem o vinho símbolo da sua alegria...
A minha alma não pode ser perdoada
Meu espírito não tem o vigor das grandes ventanias do fim do
inverno
Não há vida em quem sente vergonha
Nem a morte aplaca a desonra.
Vejo os limites da minha força
Vejo o quão fraco sou...
Cansei de tentar ser forte
Cansei de lutar contra a dor
Se é sozinho que devo viver
Se é sozinho que devo morrer
Como o aquele que vive e morre pela espada, sozinho
permanecerei..
Não vou te olhar mais nos olhos
Nem buscar os teus conselhos
Não irei atrás dos teus perfumes
Nem do alimento que é a tua companhia...
Não sou digno do teu serviço
E nem as minhas lágrimas de dor podem redimir a minha falta
Errei, falhei e decepcionei
Era o que eu já esperava
Pois, quem nasceu errado morre errado
Quem nasceu por acidente é acidente para todos
Vivo a minha morte enquanto aguardo morto a minha vida
Que a minha vergonha um dia desapareça
Que a minha honra não sucumba nunca mais
Quando o meu ultimo suspiro vier
E o repouso absoluto do ser, seu ultimo movimento seja como
um fechar de olhos para a escuridão eterna do nada.
sábado, 18 de maio de 2013
Misantropia
Até quando estarei convosco?
Até quando raça de mentirosos?
Por que me importunais com as vossas mentiras?
Por que sois para mim pedra de tropeço?
Humanidade será que ela existe?
Justiça ou divindade seria uma contradição?
O que eu sinto pelo ser humano é desprezo em forma de
tristeza
Desapontamento traduzido em lágrimas
Um sentimento vexatório externalizado como canto triste.
Outrora pensava que nas benesses da vida social
Outrora pensava que o amor a humanidade é sinônimo de
amizade pelo sumo bem
Outrora pensava que a verdade sempre triunfa sobre a mentira
Ah, como me enganei!
Como fui ingênuo!
“A mentira é o poder” mesmo quando “ a verdade é
irrefutável”
A verdade é uma mentira disfaçarçada
É um engodo travestido
Tu é lobo em pele de cordeiro
Engana, ludibria
És o filho da mentira
Humanidade conceito vazio
Amor a humanidade ilusão dos tolos
Misantropia conclusão da minha vida.
Brener Alexandre 18/05/2013
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Persuasão
Ah, se eu fosse capaz de te enfeitiçar com as palavras
Se o que eu sou ficasse transparente para ti
Se eu fosse só encanto e fosse fácil te seduzir
Quisera eu ter argumentos de razão suficiente
Que o seu coração se convencesse
Que a sua alma se inclinasse
E as minhas palavras te alcançasse
Ah, se eu fosse capaz de te encantar com as palavras
Te fazer deixar-se seduzir pela transparência das razões que lhe apresento
Razões de um coração sem razão
Razões de uma alma razoável
Não sei persuadir
Não sei encantar e nem enfeitiçar
Posso apenas oferecer me como argumento que se não persuadi
por si não haverá
Nenhum outro argumento que o faça...
Persuasão é inclinação da alma
É assentimento do coração à verdade escondida na
transparência das palavras.
Felicidade dividida
Divida comigo tuas alegrias e te darei as minhas
Partilhe comigo do teu sorriso, do teu bom dia
Partilhe comigo do teu cuidado a tua consideração
Se importe comigo, se interesse por mim divida comigo a tua
felicidade.
Eu quero dividir para somar
Não subtrair nada de ti
Sua alegria mais a minha é júbilo
Seu sorriso mais o meu é esperança
Sua mão segurando a minha é confiança.
Divida comigo tua felicidade porque a minha matemática
ensina que quando dois dividem nada se perde.
Vamos trocar olhares, cuidados e somemos a nossa
bem-aventurança!
Felicidade dividida é felicidade ampliada
Experiências trocadas com o desejo de transcendência
Felicidade dividida é alegria compartilhada
É sal que dá sabor
É luz que tudo ilumina sem deixar sombra
Felicidade dividida
Alegria manifestada
Dádiva da amizade
Gratuidade do amor sincero
Investimento de alto risco
Força do nosso laço
Felicidade dividida
Plenitude da virtude
Melodia do coração
Caminho aberto
Divida comigo tua felicidade que a minha já se tornou tua
O meu sorriso é um com o teu
Meu olhar é direcionado para ti
Como a flor que procura a luz do sol
E uma felicidade inteira sozinha é meia felicidade se
comparada a soma das nossas metades juntas
Matemática torta da vida que soma divisões e multiplica o
que é subtraído
Felicidade que quero partilhar contigo
Para que o fardo da tristeza se torne leve ou desapareça
Felicidade que só faz sentido se for dividida ou do
contrário felicidade nunca seria...
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Desencontro
Como foi que a minha alma se perdeu da tua?
Quando foi que nossos olhares se perderam?
Quando foi que deixamos de sorrir um para outro?
Desencontramos no medo
Desencontramos na falta de coragem
Nos perdemos nos caminhos que fizemos e nas pegadas que não
trilhamos.
Me perdi na tua recusa, gesto simples, advérbio de negação.
Me perdi nos meus traumas, nas minhas chagas, no meu
esfacelamento.
Desencontrei de ti na estrada da liberdade porque seguimos
escolhas diferentes.
Desencontrei de mim na estrada da escolha porque segui a
liberdade como sempre.
Sair na existência inexistir de fato.
Retirar-me da vida sem ter a vida retirada.
Desencontramos e agora espero o reencontro
Sem sorrisos, sem olhares, sem carinho.
Apenas como passantes pelas estradas que fazemos com as
nossas pegadas.
terça-feira, 14 de maio de 2013
Fronteira
Não posso cruzar a linha
Não posso invadir sua vida
Não posso e não quero cruzar a fronteira à força.
A fronteira que nos separa é o limite do que somos
Limitação, finitude da nossa ação.
A fronteira é não é o nosso fracasso é o que somos
Limitação que nos defini, nos dá fim, nos dá um motivo.
Não quero cruzar a fronteira
Não posso invadir sua vida
Quero entrar no teu mundo
Contemplar o teu universo
Me convida?
Segura a minha mão, pois tenho medo.
Segura a minha mão e me puxa!
Não posso e não quero cruzar a fronteira
Porque a fronteira delimita a minha liberdade e a sua.
Respeitando a fronteira respeito teu ser, respeito tua
soberania.
Respeitando a fronteira seu sorriso é próprio, seu olhar
autêntico.
Elegia do coração desfigurado
Eu queria não sentir como sinto, nem existir como existo...
Queria ser como os outros, despreocupado...
Queria confundir o amor com bom dia
Pensar na próxima bebedeira, na próxima orgia...
Ah, como eu queria que a minha vida fosse menos doída...
Que eu não me sentisse estranho, nem desprezado...
Queria apenas ser sorrisos e viver acima do certo e do
errado.
É por sentir como sinto que penso que sou apenas um buraco
na realidade.
Um incomodo para os outros
Um sacrifício a ser feito
Um estorvo a ser suportado.
O coração dói e a alma sangra
Porque meus afetos me corroem.
E o medo me derruba e me vence e me acoa...
Entôo as minhas lágrimas
Canto o meu desespero
Choro as minhas dores
Tremo de medo.
Eu queria não sentir e sinto, queria não existir e existo
Vida como morte
Morte como vida
Existência para dentro
Inexistência para fora.
Tu que me vês e não me notas
Notas-me, mas não me vês
Finja que eu fui bom
Que eu fui legal
Que fui interessante
Ou digas que não fui nada disso
Que fui apenas uma distração
Uma ilusão ou assuma que apenas existo para ser dispensado
Para tapar o buraco como opção dos inválidos
Para ser um pária as margens da existência.
E por fim vivendo morto sem ti
Sem ninguém
Morrerei vivo
E enterrado como indigente
Serei por ti esquecido.
Eclipse do sol
A escuridão no meu ser ocultou o brilho do teu sorriso.
Escondeu a luz do teu olhar e o calor do teu abraço
O meu ciúme enegreceu o céu tornando-o como a minha alma.
Cheia de medo, cheia de raiva...
A escuridão de outrora que transforma o dia em noite
Que esconde o astro rei dentro de mim
É a escuridão dos meus demônios internos
Dos meus inimigos cotidianos...
O sol eclipsado não ama esconder-se
Assim como a minha alma tomada pela dor não ama sofrer.
Mas a minha alma teima em imaginar o que ela não pode saber
Sente demais e pensa de menos, é loucura!
Um dia inteiro de eclipse...
Dia que não termina....
Sem lua, sem estrelas... sem você...
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Investimento de alto risco
Investi tudo o que tinha e nada ganhei
Investi meus desejos
Investi minhas esperanças
Mas eu sabia que podia sair quebrado, falido e mesmo assim
me arrisquei...
Investi tudo o que tinha e nada ganhei
Investi o meu ser
Investi meu sorriso
E eu sabia que você não me amava mas ainda assim me
arrisquei por você...
Ah, este investimento de alto risco que é o amar
Ser rejeitado pelo que você não pode oferecer
Ser rejeitado pelo que não faz parte de você
Ah, este investimento de alto risco que é o amar
Perder até o que você não tinha e pensava ter
Perder tudo o que te mantinha e nada do que me pertencia se
perdeu por você.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
Flor do outono
Teus encantos não se perdem como as folhas no outono.
Tua beleza que enche o espírito e os olhos de quem ama com
sinceridade.
Flor do outono é singela? – Não!
É a mais forte e mais vigorosa das flores!
Sua beleza é tamanha que diminui o encanto do canto dos
pássaros
Sua beleza é tamanha que nem o vento gelado, núncio do
inverno é capaz de destruir.
Flor do outono, flor de fogo, flor da vida, flor do
sorriso...
Flor do outono, flor da ternura, flor da compaixão, flor do
abraço...
Flor do outono símbolo da fraqueza forte
Flor do outono símbolo da fortaleza fraca
Flor do outono símbolo do amor até mesmo quando as pétalas
caem
Flor do outono é como um amor imperfeito, mas não com
defeitos.
Flor do outono é a alegria de descobrir a beleza na
simplicidade.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Silêncio
A arte de escutar o silêncio é pouco cultivada
O silêncio fala, grita, afirma, nega.
O silêncio não diz nada ou tudo diz sem nada dizer.
Ouvir o silêncio é como ouvir um murmúrio
Mas não é como fazer leitura labial
Ah, teus olhos em silêncio podem me dizer mais que a tua
boca.
Teus dedos nervosos, teus pés inquietos...
Ou mesmo tua indiferença, tua frieza... teu medo...
O silêncio é uma gritaria surda...
Um protesto relutante de quem não quer lutar ou que finge
não querer lutar.
Meu silêncio é entrelinhas, pingo no “i” para quem saber
ler.
Teu silêncio é incógnita, mistério, nebulosidade...
Meu silêncio é liberdade e o seu também.
Sabishii na hitomi (Olhos tristes)
Olhos tristes reflexo da indiferença
Olhos tristes reflexo do medo
Olhos tristes frieza da manhã de outono.
Meus olhos tristes, teus olhos tristes... Tristeza que me
prende...
Tristeza que é o meu ser, angustiado, perdido...
Olhos sem vida, lágrimas da alma.
Olhos sem brilho, chama apagada.
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