sábado, 31 de maio de 2014

Figueira Maldita

À beira do caminho havia uma figueira.
De belas folhagens, oferecia sombra fresca.
Suas folhas eram verdes e a árvore bonita.
Mas naquela época figo algum ela produzia.

Não era tempo de figos, mas era tempo da fome.
Procurando por alimento, aproximou se um homem.
O homem não era uma pessoa qualquer.
Era o verbo encarnado, Jesus de Nazaré.

Olhou para a figueira e fruto nela procurou.
Encontrando apenas folhas bradou o Senhor:
“De ti não nasça frutos, de ti ninguém se alimentará.”
Amaldiçoou a figueira e fê-la murchar.

Essa é a história da figueira maldita.
Parada pelo caminho não cheirava e nem fedia.
A figueira ilustra o destino das pessoas,
Que param pelo caminho e se contentam com pouca coisa.

A figueira é a imagem daqueles que tem medo,
De alimentar os seus irmãos no tempo do desespero.
Quando meditarem essa palavra o poeta pede aos cristãos.
Deem fruto à vontade e sem moderação.


sexta-feira, 30 de maio de 2014

Supernova

A estrela cresceu, a estrela aumentou.
A estrela explodiu e caos se tornou.
A estrela era brilhante e mais brilhante ficou.
Mas um dia o seu brilho se apagou.
Pequenina ela cresceu, sua massa aumentou.
Seu tamanho anuncia que o seu fim chegou.

Brilhante e reluzente como o último suspiro.
Explosão fulgurante ela morre e não dá gemido.
O seu brilho vai se apagando, pouco a pouco, devagarinho.
Por fim, o breu, a estrela se apagou.
Um buraco, um vazio, a supernova nos deixou.

As estrelas como os homens também morrem pode crer.
Agrupada em constelações, mas separadas até morrer.
Os homens são assim, agregam com o invisível.
Mas longe uns dos outros, estão abandonados e sozinhos.

A estrela que um dia brilhava no céu
Já não mais será luzeiro no universo ao léu.
A estrela que eu pensava que toda noite se acendia.
Apagada para sempre estará como muitas e muitas vidas.

A estrela de grande brilho aos poucos foi desaparecendo.
Um vazio, um buraco no céu esmaecendo.
Está estrela que outrora por você suspirava.
Pela falta do seu amor nunca mais será tocada.
Estrela reluzente que um dia no céu brilhou.

Descanse em paz estrelinha que a minha noite um dia iluminou.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Ovelha desgarrada

Diz uma história antiga que quando uma ovelha se perde o pastor por ela procura
Diz uma história antiga que quando uma ovelha se perde as demais com ela se preocupa.
Pobre ovelha perdida, pobre ovelha desgarrada.
Longe do redil do pastor, longe de verdes pastagens.
O pastor não lhe procurou, e o redil não se importou.
Pobre ovelhinha perdida nas estepes e pradarias.
Por lobos e coiotes espreitada no deserto.
Sozinha e abandonada está à ovelhinha desgarrada.
Se perdeu porque era diferente das ovelhas do redil
Lã escura e olhos claros pela porta ela fugiu.
O pastor não deu falta e as outras ovelhas a ignoraram.
Desgarrada do rebanho está a ovelha afugentada.
Perdida no deserto, longe das belas pastagens.
Alimento para lobos e coiotes selvagens.
Naquela história antiga dizem que a ovelha se safou
Mas para o nosso poeta não foi assim que acabou.
A história traz a imagem da compaixão e do arrependimento.
Mas a ovelha desgarrada só conhece o sofrimento.
Ovelha, ovelhinha sozinha e abandonada.
Teu destino, triste sina.

É ser pelo lobo devorada.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Dias de Outono

Outono é lembrança presa na memória.
Cada lembrança cai como folha no chão da minha história.
Os dias de outono sempre foram tranquilos
Ah, essa paz dos dias que anunciam o frio!

Cada folha que cai é uma gota da minha história.
Flui como um rio todas essas memórias.
Esse rio de folhas secas as vezes me arrancam sorrisos
Outras vezes é tristeza que trazem no mais íntimo do meu espírito.

E o vento de outono leva para longe as minhas memórias.
As folhas secas voam longe como voam as minhas histórias.
E estes versos tão singelos como a alma do poeta.
Tem a fraqueza do outono e a melancolia que o encerra.


domingo, 25 de maio de 2014

Sísifo Condenado


Como Sísifo condenado nesse ciclo sem fim
A força que move a rocha é usada contra mim.
Como Sísifo condenado, condenado em solidão.
Toda força que utilizo sempre me parece ser em vão.

Esse ciclo que não fecha é a minha maldição.
Triste e absurda sina me tira a respiração.
Se o esforço é vão.
Se a vontade é inútil.
Pobre Sísifo condenado no ciclo do absurdo.

Condenação legítima?
Ilegítima condição.
Castigo sem crime
Herói trágico por vocação.

Sísifo condenado não chore sua sina
Transporta a tua pedra para o alto da colina.
Do alto ela desce novamente, pobre homem.


Massacrado pelo destino.
Desacreditado e sem sentido
O desejo de liberdade malogrado pelo castigo.

Como Sísifo condenado nesse ciclo interminável.
O poeta narra sua sina terrível e abominável.
Como Sísifo condenado ele não reclama do castigo.
Apenas lamenta o seu triste destino.




quarta-feira, 21 de maio de 2014

O Paradoxo de Electro



Fui ao cinema duas vezes para assistir ao “Homem-Aranha 2: A ameaça de Electro” e claro várias coisas no filme me chamaram a atenção, desde o dilema de Peter Parker em manter sua relação com Gwen Stacey, por ter prometido ao pai dela que se afastaria dela para mantê-la a salvo, até a figura bastante emblemática do vilão Electro.

Optei por me deter no vilão por perceber nele mais do que gostaria. Electro é interessante porque é uma força da natureza (eletricidade), porque é a manifestação do poder dessa força natural fora de controle e acima de tudo porque revela a passagem da impotência ao poder.

Max Dillon é o cara apagado na multidão, é o clássico loser da pragmática sociedade americana, não namora, não tem amigos, é solitário e quer a qualquer custo ser reconhecido, e isso mesmo trabalhando em uma empresa grande como a Oscorp como engenheiro elétrico. Três coisas marcam a pessoa de Max Dillon, o encontro com o Homem – Aranha quando este o salva, o encontro no elevador com Gwen e o acidente que o transformará em Electro.

Quando o homem Aranha o salva, Max Dillon lhe diz que não é ninguém, ou seja, ele é invisível para as pessoas, sem importância para o conjunto. No entanto, O Homem-Aranha lhe diz que ele é alguém (o chama pelo nome) e diz para Max que ele é “olhos e os ouvidos dele (do Homem-Aranha)” (mostrando a importância dele para o conjunto). Assim o herói se torna uma luz na vida do futuro vilão, símbolo de esperança, pelo ato generoso do reconhecimento que para Max cria um laço de amizade.
A experiência do encontro com Gwen é parecida com a do encontro com Homem-Aranha, porque o que define a marca do encontro é o reconhecimento, Gwen se lembra do nome de Max quando sai do elevador, os dois tem uma conversa rápida e impessoal, porque não se conheciam, mas o que o marca é que ela se despede chamando o pelo nome, isso é atribuindo lhe humanidade, ele se vê nessa relação não como um objeto a serviço da Oscorp, mas como uma pessoa com quem ele teve a oportunidade de partilhar a admiração pelo herói que salvou a sua vida.

O terceiro momento é aquele que vai marcar a virada do personagem, Max sofre um acidente na Oscorp quando tentava dar manutenção na rede elétrica de uma pesquisa da empresa (cujas plantas baixas da distribuidora de energia ele fez e a Oscorp roubou a ideia). O acidente ocorre no dia do aniversário de Max e coincidiu com a morte do fundador da Oscorp, Norman Osborn, a empresa está de luto e todos os funcionários são liberados, menos Max que foi obrigado a fazer plantão e corrigir possíveis falhas no sistema elétrico. O acidente acontece justamente porque era necessário desligar a energia para fazer um reparo e um dos responsáveis se recusa a desligar para ir embora, Max está sozinho, e é eletrocutado por uma grande descarga elétrica e cai numa espécie de poço cheio de enguias que são usadas no projeto de pesquisa da Oscorp para produzir energia limpa e sustentável. Nesse poço as enguias o atacam e Max é dado como morto, mas não é bem assim que a coisa toda termina.

O paradoxo de Electro começa quando percebemos que Max tratado como um ninguém, se torna Electro, mas ainda ele não é “Electro”, sua identidade é construída no segundo encontro com Homem- Aranha na Time’s square. Max segue o movimento da energia elétrica nos cabos que passam pelo chão é quando a confusão se arma quando um policial tenta impedi-lo de tocar os cabos, a praça está cheia, e as câmeras de TV se voltam para aquele novo ser que se manifesta ao público.
A Time’s Square não poderia ser o lugar melhor para a primeira aparição de Electro, porque a praça movimentada é a metáfora da vida pública do espaço onde nos manifestamos como parte de um corpo social, de uma comunidade. É o lugar privilegiado do reconhecimento, e esse ponto é muito importante. Quando Max aparece em todas as grandes telas da famosa praça nova iorquina a primeira coisa que ele faz é se contemplar nas telas e dizer: “todos estão me vendo!” Ele ainda não se vê como um monstro, como um vilão, está assustado e não tem controle sobre seus novos poderes, está perdido literalmente desorientado, sem orientação sem saber para onde ir e o que fazer o ápice é o reencontro com o Homem- Aranha que ele vê como amigo, mas este não o reconhece, e ao longo da conversa, Peter tenta acalmá-lo para orientá-lo, o que é claramente é um processo de humanização. Até o ataque derradeiro da Polícia que simboliza o medo do desconhecido, do que não é reconhecido como parte do conjunto social, é assim surge Electro.

Electro se torna a personificação do poder, do poder da natureza, soberano  e sem controle, mas também é o reflexo da escuridão provocada pelo isolamento social, ele tem o poder de iluminar, mas vive num mundo escuro sem esperança.
É isso que significa criar um mundo semelhante ao mundo dele, “um mundo escuro e sem esperança, um mundo sem o Homem- Aranha...” (O homem- aranha aqui é a personificação da esperança).

Electro, com efeito, é uma pessoa boa que tem a natureza desvirtuada pelas circunstâncias, já conhecia a escuridão e se torna a personificação dela, era impotente e se torna muito poderoso, a essência do poder da natureza na eletricidade.
Ironicamente o destino de Max que venerava um herói  foi se tornar um vilão, um pária por imposição da sua desumanização que começa na desconstrução da sua identidade e vai até o ponto em que só resta o algo, a coisa e não o ente humano dotado de expectativas e esperanças.
Electro é a desconstrução da natureza humana, o monstro, o divino, a fera (para aludir a condição humana segundo Aristóteles) nada mais são que modos diferentes de dizer a mesma coisa, que a natureza humana é dada na construção da identidade que é dada pelo reconhecimento da comunidade e na comunidade.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Brisa de outono



Lá vem a tarde caindo de mansinho lá vai o sol partindo com um sorriso.
E com a noite vem as estrelas brilhando junto com elas vem a brisa de outono.
Brisa de outono beija o meu rosto amiga invisível companheira doce e gentil.
Suave transeunte que da vida a vida amena do outono movimenta em mim a alegria.

Lá vem a noite e com ela a lua e lá vai a brisa serena e feliz.
Brisa de outono é fria e deliciosamente gelada refresca a minha alma.
Amável amiga me abrace e refrigera meu coração, não deixe virar pedra.
Brisa agradável amiga inseparável acompanha-me e leva-me como as folhas que vem ao chão nos dias calmos do outono.


Lá vem a manhã fria e preguiçosa e lá vem o sol chegando sorridente.
E com ele a luz e o calor vem chegando brisa de outono venha ao meu encontro.
Suave como um abraço terno, gentil beijo gelado que toca o meu rosto e me oferece seu carinho.
Brisa de outono alegria de um reencontro, brisa suave amizade sincera.

Lá vem a brisa serelepe, geladinha.
Lá vem a brisa de noite e de dia.
Vem com o outono e traz alegria para o meu dia.
Vem com o outono essa brisa amiga.



Colapso do mundo

O mundo entrou em colapso diante dos meus olhos.
Uma batalha por dia, uma guerra para a vida toda.
O mundo entrou em colapso e eu não tenho como me proteger.
Uma guerra por dia e uma batalha que parece durar a vida inteira.

O mundo está ruindo... o mundo está despencando...
Não há firmamento, não há um chão...
E sequer um escudo possuo para me avalizar...

O mundo entrou em colapso e a esperança partiu
Promessa de dias sombrios um eclipse por vez
Cada estrela que se apaga é abandono.
Cada luz que não se acende é solidão.
E quando o chão desaba é negra bílis consumindo psique.

A destruição começou e não tenho força para pará-la.
O mundo entrou em colapso e levou junto o meu coração.
Feito em pedaços pelo destino e destroçado pelas suas mãos.
O mundo se partiu fragmentado ficou
Como a alma do poeta esse mundo não se curou.
Mundo vasto e pequenino que a minha alma habitou.
Mundo pequenino e vasto sonho de uma alma cheia de dor.
Sentimento do mundo?
Sentimento do coração

O mundo ruiu, ruiu em solidão.

domingo, 18 de maio de 2014

Verdade II



Você disse que a verdade liberta.
Mas a verdade a mim se manifesta como uma janela aberta.
Você disse que eu era o melhor.
Mas a verdade é que aos seus olhos eu me sinto como se fosse o pior.

O que é a verdade?
Amante de homens fortes.
O que é a verdade?
Silêncio esclarecedor.
O que é a verdade?
É a mentira travestida, covardia velada.

Você me disse que a verdade me libertaria.
Mas a verdade não me libertou antes me mata a cada dia.
Você me disse que eu somava.
Mas me subtraiu do teu convívio porque eu mais nada acrescentava.


Se eu conhecesse a verdade ela talvez me libertaria...
Mas a verdade eu não conheço, conheço apenas mentiras.
Se a verdade libertasse como você me prometia.
Menos escravo dessa dor eu seria.
Se a verdade com a liberdade afinidade tivesse.
Talvez alguma esperança de libertação desse mundo me viesse.

Se tomo por verdade aquilo que é mentira.
Então a liberdade prometida nunca viria.
Você me disse aquele dia que a verdade liberta.
Me pergunto até agora que verdade é essa.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

O brilho da lua cheia de outono



A beleza da lua cheia me encanta e seduz
É a fase mais bonita que a lua possui
Nela ela se revela em todo o seu esplendor
Brilha como os teus olhos cheios de alegria e amor.

Ao contemplar a lua pude perceber que a sua beleza
Imita as mais belas almas e a virtude com destreza
O segredo da lua é amar silenciosamente
Radiante é confidente das estrelas cadentes.

Minha lua, minha amada não deixe de me visitar
Pois sem o brilho dos teus olhos os caminhos noturnos não irei enxergar.
Lua cheia de outono espanta o frio do meu coração
Traga o calor do teu brilho e não me deixe na mão.

Que lua, que espetáculo.
Que luz a reluzir!
Foi no céu das alterosas que vi a lua surgir.

Outra vez olhei a lua quanta admiração
Sempre vejo nela os teus olhos e transbordo de emoção.
Outra vez para a lua olhei e o quanto me espantei
Quando vi na lua o teu sorriso e feliz eu fiquei.

Cada vez que vejo a lua mais pela vida me apaixono
Suas cores e suas fases dão à vida algum arranjo.
Divina lua cheia
Lua cheia de outono.
Nunca deixe de visitar teus admiradores humanos.

Brener Alexandre 15/05/2014

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Um coração misterioso

No sonho de outro dia vi a tua rua escura
Não havia casas, nem luzes apenas amargura.
No sonho de outro dia você estava ausente
Mas como referente enunciado você se fez presente.

Teu coração é como cofre cheio de segredos
Mistérios nebulosos confinados pelo seu desejo.
Teu coração é como nuvem escura difícil de penetrar
Como a escuridão da tua rua no meu sonho quis me lembrar.

Um coração misterioso só fala por enigmas
Frases soltas e ambíguas
O coração misterioso tem linguagem privada
Não usa referentes porque não quer se referir a nada.

A linguagem do mistério é nebulosa e obtusa
Mesmo o coração misterioso com ela se ofusca.
Cuidado coração se com o mistério fores brincar
Pois uma hora ele pode te machucar.

O coração misterioso é como aquela rua escura
Impenetrável por natureza e nos convida à loucura.


Silêncio VII

Lá vem o silêncio tagarela, outra vez me importunar.
Inoportuno destino de quem contigo não pode mais falar.
Lá vem o silêncio são os meus olhos perscrutando
A lua cheia desta noite cheia de brilho e encanto.
Como é o teu sorriso e o brilho do teu olhar
Que por mais que eu queira da memória não consigo apagar.

Mas ainda que a noite tenha lua cheia
Na minha alma a escuridão é de noite sem lua
Porque o silêncio me revela apenas essa solidão nua e crua.
Observando o silêncio vi como ele é palpável
Me segue como uma sombra algumas vezes indesejável.

O silêncio tagarela grita e berra
Saudade é o que tu sentes, medo é o que subjuga
A fraqueza do amor é para você uma tortura.
Que importa a retórica? Belos versos ou texto em prosa?
Se o silêncio grita e berra sua ausência e isso me apavora.
No silêncio da noite escura
No silêncio dos dias frios
Perscrutei o teu silêncio triste e sozinho.

Como hei de ter calma no silêncio indagador?
No silêncio irônico e estarrecedor
Essa ausência de palavras falta de comunicação
É perdição para a minha alma e para o meu coração.
No fim das contas uma tarde e uma manhã e lá se foi mais um dia

Outra noite de silêncio é como o fim da minha vida.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Draw game

No jogo do amor o empate é derrota
Quando se perde uma chance se perde a vitória.
O jogo do amor é um tabuleiro de xadrez.
Um vacilo, um descuido perdi a rainha outra vez.

Nesse jogo de xadrez a razão do coração é quem manda
Sacrifício que quer vitória, adversário que foge da derrota.
No jogo do amor o número de movimentos é limitado
Cuidado para onde foge, pois mais um pouco e ficarás encurralado.
Outro vacilo e outro descuido e o meu rei está perdido
Outra jogada errada assim sairás derrotada.

No jogo do amor o empate é derrota
Quando há impasse não há vitória.
Prendi o teu rei no castelo da covardia
Rei contra rei não ganha partida.

No jogo de xadrez o impasse é derrota
Ou será empate ou acabará em xeque-mate.
O jogo do amor é como um jogo de xadrez
Cada ação é movimento, é sacrifício, é escolha.
Cada jogada que se desenrola não aceita a derrota.

Um foge, outro ataca, um se esconde, o outro ameaça.
E o impasse da vontade vai nos levando a um empate.
Esse jogo do amor construído na liberdade
Leva os amantes orgulhosos a ceder o empate
Impasse no desejo, impasse na vontade

Dois amantes orgulhosos que no fundo são covardes.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Cura sui amor sui (Cuidado de si amor de si)



Me retirei no meu silêncio cura para a minha alma
Me retirei na vacuidade espelho para o meu ser.
Cuidado de mim, cuidado de ti.
Cultiva a solidão que é dela que brota o amor.

O homem é como uma planta precisa de ser cultivado
Cultivado no ócio da leitura
Cultivado no silêncio da noite escura.
Cuidado no retiro do espírito.

Quem cuida de si tem amor de si.
Quem cuida de si tem amor pelo outro.
A cura para a infelicidade é o cultivo do silêncio.
A felicidade modesta é a simplicidade da vida.
O amor de si é o amor que desejamos para o outro.

Foi me retirando da vida que nela entrei
Afastado dos outros descobri outro para os outros também serei.
Encontro solitário no silêncio barulhento da minha alma.
Disperso no mistério dos jardins do meu espírito.

A cura para a minha dor veio da amizade que tenho por mim
A felicidade acompanha quem convive consigo sem medo
A saúde me veio no silêncio dos meus olhos.

Brener Alexandre 10/05/2014

domingo, 11 de maio de 2014

Felicidade Modesta


Ontem sonhei com a felicidade modesta
Sonhei que conversávamos sobre nada
Era um dia calmo, uma manhã tranquila.

Ontem sonhei com a felicidade que você me ensinou a ter
Felicidade sonolenta das manhãs de domingo
Alegria das brincadeiras inocentes de dois amantes em júbilo.

Ontem sonhei com a felicidade modesta que desejo proteger
Que espero alcançar com o meu pouco saber
Que almejo proteger junto com você.

Tranquilidade do nascer ao pôr do sol
Simplicidade ao longo dos nossos dias como as fases da lua e o ciclo do céu estrelado.
E se houver tempestade? brincaremos na chuva
E se fizer frio? Brindaremos abraçados dividindo uma garrafa de vinho.

Não preciso de mais nada, se eu puder ter essa felicidade modesta
Nem muito pequena, nem muito grande
Apenas singela.

Digna de ser protegida
Digna de ser desejada
Digna de ser chamada Felicidade.


sábado, 10 de maio de 2014

Amor sui ( amor de si)


"Assim, a solidão não é rejeição do outro, ao contrário: aceitar o outro é aceita-lo como outro (e não como apêndice, um instrumento ou um objeto de si! ) , e é nisso que o amor, em sua verdade, é solidão. Rilke encontrou as palavras necessárias para dizer esse amor de que necessitamos, e de que somos tão raramente capazes: 'duas solidões que se protegem, que se completam, que se limitam e que se inclinam uma diante da outra...' Essa beleza soa verdadeira. O amor não é o contrário da solidão: é a solidão compartilhada, habitada, iluminada -e, às vezes, ensombrecida - pela solidão do outro. O amor é solidão, sempre; não que toda solidão seja amante, longe disso, mas porque todo amor é solitário. Ninguém pode amar em nosso lugar, nem em nós, nem como nós. Esse deserto, em torno de si ou do objeto amado, é o próprio amor." (Comte-Sponville, André. Amor a solidão. p. 30-31).

"Quantos fogem da solidão, ao contrário, e são incapazes de um verdadeiro encontro? Quem não sabe viver consigo, como saberia viver com outrem? Quem não sabe morar com sua própria solidão, como saberia atravessar a dos outros? Narciso tem horror da solidão, e isso é fácil de compreender: a solidão o deixa face a face com o seu nada, em que ele se afoga. O sábio, ao contrário, fez desse nada seu reino, onde ele se perde e se salva: não há ego, não há egoísmo! O que resta? O mundo, o amor: tudo. " ( Comte-Sponville, André. Amor a solidão. p. 33)

Na leitura de Amor a solidão, me deparei com essa definição certamente para muitos estranha do amor como solidão. Ela de certo me fez pensar bastante nas duas extremidades da relação, para fazer uma paráfrase a obra de Martin Buber, “Eu e Tu”. E agora motivado por um desafio de falar de uma cura que seja mais autônoma e que não esteja mirada na figura do outro me sinto inclinado a comentar estas passagens de Amor a solidão partindo primeiro da conclusão de que: “ a solidão não é rejeição do outro” mas é a confirmação de que o outro não integra a minha subjetividade, não faz parte do meu eu.

E depois refletirei sobre o cultivo da solidão como um amor sui, isto é, como um amor de si, pensando principalmente na concepção própria das filosofias helenísticas do final da antiguidade de terapia, ou cura sui, do cuidado de si. E assim creio, apresentarei em prosa o que ainda não consigo apresentar em verso, isto é, o lado positivo da solidão enquanto cuidado de si e amor de si e cura para o enfrentamento dos combates diuturnos da existência.

Já havia tratado a solidão como alteridade absoluta e desconexão com o mundo aqui Pain VI neste texto apresentei a solidão como a experiência radical de alteridade em relação ao outro, que traz consigo um sofrimento terrível. Agora, pretendo fazer o caminho inverso e falar do cultivo da solidão como cura sui, como cuidado de si aquilo que Sêneca entendia como vida retirada como forma de combater as aflições do espírito e que impede o homem de odiar a sua própria espécie (misantropia).  Os estóicos são filantropos por excelência e condenam a misantropia.

Por um lado, a solidão é essa estranheza, imposta pela ausência do outro e desconexão com o mundo, como eu havia exposto no texto Pain VI.  De outro modo, a solidão é também convívio consigo mesmo, esse retirar-se da vida corrida e muitas vezes superficial do dia-a-dia para cultivar a relação consigo mesmo.  A vida cotidiana na maioria das vezes é barulhenta em sua agitação e, tal agitação impede ou mesmo atrapalha a relação que deveríamos desenvolver conosco mesmo.
A vida retirada é justamente o cultivo da solidão para cultivar a relação consigo mesmo, a coisa mais fascinante na solidão cultivada é aprender a ouvir o silêncio que habita em nós.

Claro que nem sempre o silêncio nos elogia, nem sempre nos mostra um mundo de cores, mas se na relação com os outros somos passíveis de passar por estas experiências, porque não passá-las conosco mesmo?
Quem não é capaz de olhar dentro de si sem repulsa não é capaz de suportar o outro. Suportar não é o mesmo que tolerar, suportar é ser capaz de aguentar o outro, é ajudá-lo com suas misérias, porque todos nós possuímos misérias, mas também podemos possuir grandes virtudes e se só atentamos para nossas virtudes sem olhar nossas misérias, estamos fugindo do que somos, se olhamos apenas para as virtudes dos outros e não se permitirmos perceber as suas misérias estamos criando uma realidade fragmentada do outro.
Por isso, Sponville está certo quando diz que o amor é solidão, porque a solidão é o exercício da amizade consigo mesmo, ou melhor, a solidão é o convívio amoroso que podemos ter conosco mesmo, todo o amor, o verdadeiro amor, se funda no convívio despojado das ilusões que eventualmente criamos de nós mesmos e porque não dos outros.

O silêncio é o lugar do encontro consigo mesmo, onde somos desnudados de nossas fantasias e somos postos diante dos nossos medos, das nossas angustias e dos nossos defeitos. É por isso, que muitas pessoas fogem da solidão, se dispersam de si mesmo em uma busca desenfreada por atenção, por prazer e toda e qualquer forma de diversão, a diversão é esse afastamento de nós mesmos que não permite que vejamos quem somos.

Os místicos conhecem bem o cultivo da solidão através da experiência da oração no silêncio da meditação nos recônditos da cela do convento. E graças a essa oportunidade encontram nas suas misérias a força para exercitar o amor pelo outro e cultivar o amor pela vida.

Esse nada que é nudez da alma é o reino do sábio como bem falou Sponville, onde ele se encontra consigo mesmo, já que na correria da vida agitada da cidade os homens se perdem nas vaidades e nas ilusões que nos afastam da verdade e nos inclina a superficialidade das relações forma pior do isolamento, pois não mergulhamos no mistério do outro e nem no mistério de nós mesmos.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Especial


Disseram-me que eu sou especial, nunca entendi o que significa isso.
Acho que só se é especial para alguém, nunca alguém é especial em si, a não ser, é claro se por especial querermos dizer que alguém é único, nesse sentido somos todos especiais.

Acho que ser especial envolve a apreciação de outra pessoa, é como a admiração, no sentido de achar alguém um máximo. Se digo que alguém é especial, ela o é para mim, única, insubstituível, importante, me falta e é digno dos meus mais nobre e belos sentimentos de afeição e desejo. Ser especial para mim significa ser extraordinário aos meus olhos, ou seja, não ser ordinário, não ser comum, vulgar, embora possa ser simples em sua complexidade.

Não acho que sou especial, sou apenas diferente no sentido bom e isso tentando ser otimista em relação a percepção que tenho de mim mesmo. Porque no fundo não me sinto assim, me sinto mesmo é diferente de um modo tal que pareço ser a diferença em si e nunca para si.

Um dia talvez, quem sabe eu seja especial para alguém, um dia quem sabe a diferença se faça perceber em meio ao óbvio da vida cotidiana, por hora sou apenas a diferença oculta disfarçado de mesmice, apenas estranho, esquisito, mais um filho da xenofobia do normal.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

As razões que eu gostaria de conhecer e transmitir

Ah, Pascal! queria eu conhecer as razões do coração, queria eu conhecê-las para as transmitir, mas não as conheço.
Sequer conheço as razões da razão! desconheço o que julgo conhecer e conheço apenas os murmúrios da alma.

Ah, Pascal! quisera eu que as razões do coração tivessem a persuasão necessária, ou ao menos que fossem fortes o suficiente para convencer a fria e tíbia razão, o que há de mais belo do que o coração e suas razões? que há de mais persuasivo e no entanto, dissuade-nos os nosso medos e nossas frustrações.

Ah, Pascal! Se um dia conheci as razões do coração queria as recordar, queria as comunicar, mas tudo o que sei é que o coração fraqueja onde a razão comanda, o coração se acovarda onde o medo impera.
Quero conhecer as razões e que elas me sejam suficientes para ver além das misérias, das minhas e dos outros e com elas descubra a força onde todo julgam que só há fraqueza.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

O amor não fragmentado em Sponville – pequeno comentário à “Amor a solidão”.


“Para gostar das estrelas, por acaso você precisa saber quantas são? E para amar um homem, conhecer tudo? Ele está aí, diante de você, perfeitamente verdadeiro, inclusive em suas mentiras, perfeitamente real, inclusive em seus sonhos... Se você não conhecesse nada dele não poderia amá-lo, claro; mas como seria louco querer conhecê-lo em todos os seus detalhes (em todos os seus infelizes e inesgotáveis detalhes!) antes de amá-lo por inteiro! O real não é um quebra-cabeça. “Espere um pouquinho, querido, mais uma peça, mais outra, mais outra ainda, sinto que já já vou te amar plenamente...” Não. Ele está aí, à sua frente: você o vê, você olha para ele, e já é um quinhão inesgotável de verdades...” (Comte-Sponville, André. Amor a solidão. p. 104. Entrevista com Judith Brouste).

Muitas passagens de “Amor a solidão” merecem comentário,  passagens que falam sobre a filosofia, sobre o desespero, sobre Deus e o nada, e outras passagens sobre o amor, mas essa em particular me chamou a atenção. E por que? Talvez porque enquanto eu lia o opúsculo sponvilliano, eu tenha percebido o quanto ele me influenciou, junto é claro com outros pensadores. Vejam, meu primeiro contato com Sponville foi em 2003 com o livro “A felicidade desesperadamente” (que na verdade é uma palestra e não um tratado) e desde então meu modo de ver a vida mudou, é certo que não de todo, mas mudou.

Mas eu só percebi a mudança quando, finalmente conheci o estoicismo e o cinismo, foi com o estoicismo e o cinismo é que me aproximei mais da sabedoria, principalmente pelas semelhanças com o cristianismo. É verdade que Platão e Aristóteles tiveram e ainda tem grande influencia sobre o meu modo de pensar, mas com essa dose de austeridade, ou antes, de simplicidade a ser buscada para a vida feliz.

Com efeito, me encontrei o suficiente nessa passagem de “Amor a solidão” para me recordar da lição estóica de que nada pertence ao sábio, senão a virtude, explico o que se passa.  Ao ler esse trecho me lembrei de que nem mesmo o amor que não é posse, mas é convivência livre e interessada tão somente na convivência e em nada mais, me pertence. Logo, todo amor que espero receber deve ser pautado pelo desejo de estar junto com, como lembra Vinícius de Morais no Soneto de fidelidade: “Rir o meu riso ou derramar o meu pranto, ao seu pesar ou contentamento”. Essa passagem evoca o malogro causado pelo medo de se envolver, de mergulhar no mistério do amor, porque conhecer como lembra o filósofo francês “todos os infelizes e inesgotáveis detalhes” de alguém é impossível, e nisso consiste o mistério, ou seja, o amor é um mergulho que fazemos no mistério do outro, mistério que só é acessível se o outro se permite penetrar pelo desejo da partilha do “quinhão da vida”.

Portanto, quem posterga o amor não sabe conviver, nem consigo mesmo e nem com os outros, uma coisa é, claro, não haver espaço no projeto de alguém para a partilha da vida, seja porque o trabalho e os estudos impossibilitem o nascituro de uma relação, ou por outro lado, há aqueles que se escondem em projetos, que criam obstáculos, mundos paralelos e com isso malogram a dádiva do convívio, perde a oportunidade do aprendizado com o diferente e do exercício da humilde, simples vivência do cotidiano.

Amar alguém é amar a pessoa toda e não apenas aquilo que salta aos nossos olhos, e por isso o amor é desejo de mergulhar no mistério do outro, e é por isso também que o amor não é fragmentado, quem ama uma parte ou uma ideia que faz de alguém não a ama de fato.

Não é como procurar as peças de um quebra-cabeça para montar uma imagem do outro que você seria capaz de amar, porque no fundo sempre haverá algo do outro a ser conhecido, ele sempre vai te revelar algo de novo, ou de antigo, mas de outro modo.

E nisso Sponville tem toda razão, quem que  ao apreciar a beleza das estrelas se preocupa em conhecer todas? Primeiro que é impossível mesmo com todo aparato tecnológico conhecer de fato todas as estrelas, o universo é imenso e o homem em sua pequenez é imenso também, esse microuniverso que é o homem é demasiado complexo para que possamos conhecer todos os detalhes do seu ser e, no entanto, o real esta aí diante de você com todas as dimensões que possui: mentiras, verdades, sonhos e aspirações.
Foi aí que me dei conta do quanto Sponville me influenciou, pois quando falo de amor-amizade falo justamente dessa inclinação para a partilha da vida, para o mergulho nesse mistério que é o outro que se revela para nós em inteireza e não é fragmentado, ainda que a pessoa mude seu comportamento ou algo novo seja descoberto a pessoa nunca deixa de ser o que ela é, mesmo que muitas vezes nem ela mesma saiba sobre aquela virtude ou defeito que possui.

E qual é o melhor lugar para se redescobrir do que o mergulho em si, mergulhando no mistério do outro? Como não saber quais são os seus limites na tensão que há na relação com o outro, com a pessoa que você escolhe partilhar a vida, fazer projetos e conviver. O outro é como um espelho que nos liga ao mundo. Desde que o que nós somos não seja massacrado pela relação, quando deixamos de viver a nossa existência, nossa vida pela vida do outro, porque o amor é sempre partilha de, é partilha de solidão, é partilha de boa vontade, é partilha de intimidade e de desejo. Quem faz do outro um quebra-cabeça foge de si mesmo, porque projeta no outro suas frustrações e seu medo, é um procrastinador da própria felicidade, tem medo de amar e medo de viver o amor por ter medo de se ferir.

No entanto, a beleza do amor está justamente no risco de se ferir, no risco de vivê-lo. Jesus correu esse risco e Hypparchia ( para quem quiser conhecer a história de Hypparchia só vir aqui: A escolha de Hyppachia) também e foi assim que encontraram a felicidade, descobriram ao seu modo a sabedoria de vida ou o saber viver. O ágape, a caridade, é aquela que nos impele ao serviço, é justamente a face benevolente do amor.  A phília, a amicitia, é esse desejo que reconhece o outro como um como nós, como alguém com quem vale a pena conviver e dividir cada novidade, cada alegria e cada tristeza; as flores dos jardins, os sorrisos recebidos e as lágrimas colhidas. 

Nesse sentido não importa se o outro te ama como você ou se você vai ser correspondido, porque a correspondência vem justamente do desejo da partilha e tudo o mais é acrescentado pelo desejo da vida comum. Em outras palavras, a reciprocidade é a marca que dá valor ao amor, e então, quem ama sintomaticamente  quer estar junto, quer construir junto, quer partilhar as mínimas coisas e as coisas grandiosas da vida e é aí que surge a cumplicidade e o medo desaparece, não é que vamos confiar cegamente, mas na medida em que há o desejo de unidade comum a confiança mútua fortalece a relação e o medo permanece, mas em menor grau, pois se sabe de algum modo que a mão do outro está sempre próxima para te ajudar a levantar quando você cair.