quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Felicidade que desejo para ti

Não te preocupe com os mortos
Os mortos não desejam outra coisa que a felicidade para os que ainda vivem.
Não te preocupe com a minha dor
Sua felicidade não pode ser violada pelas misérias de um homem pobre de espírito.
Não te preocupe comigo
Ocupação inútil é esta, tentar fazer o impossível para quem já está condenado.

A felicidade que desejo para ti não depende de mim
A felicidade que desejo para ti não depende do meu amor
Desejo te felicidade seja comigo ou com outrem
Desejo te felicidade mais que desejo que me ame.

O amor só se expressa plenamente quando é livre
E a felicidade só é possível se a alma está tranquila
Nunca desejei que fosses minha; mais do que tu pudesses desejar outra pessoa, ainda que isto me causasse dor.
Porque “o amor é como um belo pássaro pousado em um dedo a qualquer momento ele pode levantar vôo”...
Por isso a felicidade que desejo para ti não precisa me incluir
Porque o necessário para felicidade é o amor, mais do que quem é amado.

Desejo te felicidade
Desejo te amor
Desejo te alegria
Desejo te o que de melhor um ser humano pode desejar a outro.
A felicidade que desejo para ti não é passageira
A felicidade que desejo para ti vai ter momentos de tristeza
A felicidade que desejo para ti é verdadeira felicidade
É plenitude de vida, aspirações a realizar e bênçãos para receber.
O que te desejo é sorrisos e lágrimas de satisfação
Abraços ternos
Beijos carinhosos
Que nunca se sinta só
Que nunca se sinta como se não fosse amada
Que nunca se sinta desprotegida

A felicidade que desejo para ti não pode ser expressa em palavras
Não é algo que a inteligência seja capaz de traduzir
Ou que o coração não possa sentir.
A felicidade que desejo para ti não tem nome
Não é simples prazer

É apenas felicidade.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Estranheza minha de cada dia II

O que eu sou?
Para que eu existo?
Não tenho identidade. Tudo me parece igual, tudo me parece diferente
O que é você?
Para que você existe?
O mesmo e o outro, o igual e o diferente parece mais não é...
Eu sou o outro absoluto, revestido de alteridade sem altruísmo.
Eu sou diferente de tudo, não sou igual a nada.
Não tenho identidade, não me identifico com nada.
Eu sou o outro absoluto, sou solidão absoluta
Sou alteridade solitária.
Tudo me é estranho
Tudo sempre me será estranho
Estrangeiro, pária
Forasteiro da própria existência.
Próprio... o que me é próprio?
Tenho algo que me defini?  algo que que me põe fim?
Eu sou a personificação do nada
Do nada, nada se diz. Do nada, nada se pensa.
Do nada, nada se ouve.
Não tenho infinitivo, nem sujeito, advérbio, ou adjetivos
O que eu tenho é silêncio
O que eu sou é indizível
Vazio estilhaçado
Nada manifesto
Não se liga a nada sendo nada.
Não se liga a ninguém, sendo ninguém.
Sou todas as negações juntas ou separadas.
Sou todas as coisas que não são ditas, estou lá e você não me vê.
Sou invisível
Sou ferida que não sangra e que não dói.
Sou estranho
Estrangeiro
Forasteiro
Pária
Sou estranho para mim mesmo.

Lembranças e esquecimentos me são iguais
Memórias e amnésia me são iguais.
Sonhos e pesadelos me são iguais.
O igual não existe para mim
Existe apenas o diferente

Porque não reconheço distinções.

domingo, 28 de julho de 2013

Sarjeta



Desci até o inferno
Desci até as prisões do Hades
Não havia dia, mas havia luzes
Não havia noite, mas a escuridão reinava.

Um beijo e estou perdido
Como o grão de romã que capturou Cora
Um olhar e estou condenado
E como Perséfone minha alma se torna prisioneira.

Fui para a sarjeta
Minha alma estava perdida
Minha alma que te desejava
Minha alma que te tem por querida.

Fui à sarjeta
Desci o mais fundo
Me sujei
Me manchei
Mergulhado nos erros
Solidão como paga de um purgatório sem fim.


Desci até o inferno
Levado por beijos e carícias
Desci ao inferno seguindo o ritmo do som caótico
Desci até o inferno
Escuridão plena, solidão absoluta.
Desci ao inferno e minha consciência fui destruída.
Desci até o inferno
Sarjeta para alma e engodo para o espírito.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Eclipse da Lua


Noite vazia
Noite solitária
Sem estrelas
Sem nuvens
Havia um brilho
Havia uma luz
Que a penumbra engoliu
Que a penumbra escondeu.

Tudo é escuridão sem o brilho da lua cheia
Cheia de alegria, cheia de sorriso
O brilho refletido do sol oculto pelo ocaso
Brilho reflexo do espirito que segue a luz do sol.

Tudo é escuridão quando a penumbra engole a luz
Tudo é noite, são trevas...
Ó, Lua! Onde tu estás? Se escondestes de mim?
Tu foste a minha amada!
Aquela que desejo contemplar
Porque te contemplar me faz feliz
Ao ver o brilho do sol que tu reflete
Descubro as maravilhas ocultas no universo.

Ó, Lua! Não me abandone também!
Deixa-me ver o teu brilho mais uma vez
Pois é com os olhos que acaricio tua face
E é com ternura que vislumbro suas fases.

Ó, Lua! Clamo a ti! Suplico-lhe
Deixa tua luz entrar pela minha janela
Pelas janelas da minha alma
Penetra fundo a minha alma
Cura o meu espirito quebrado!
Ó, Lua! Estou perdido porque eu também fui engolido pela penumbra
Estou mergulhado na sombra densa da noite escura.
Não vejo nada, não sinto nada
Apenas medo
Apenas pânico
Nem as estrelas permaneceram para me fazer companhia.

Ó, Lua! Ainda mais um pouco e te procuro...
Ainda mais um pouco te desejo...
Ainda mais um pouco me lembro de como a tua luz me foi agradável.



quarta-feira, 17 de julho de 2013

Cicatriz em forma de Cruz II

Carrego uma cruz em forma de chaga
Carrego uma chaga em forma de cruz
Impressa na alma ela sangra e me vaza
Encrustada no ser ela me marca.

Transporto-a como a minha vida
Arrastada, pesada e dolorida.
Transporto-a e não quero transportar
Transporto-a e dela me é impossível se livrar.

Carrego uma cicatriz em forma de cruz
Dois cortes na alma entrecruzados
Carrego uma cruz-cicatriz
Uma marca de dor
Carrego uma cicatriz
Lembrança do que me fizeram
Carrego uma cruz
Suplício dos amaldiçoados.

Tenho uma ferida sangrenta
Sangra quando há conflito
Sangra quando não há remédio
Ferida entrecortada, cruzada.


Carrego uma ferida em forma de suplício
Carrego uma chaga em forma de lembrança
Carrego uma cicatriz em forma de condenação

Transporto meu sofrimento estampado na alma.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Duas Parabolas

O Rádio fora de frequência

Uma alma perturbada, isto é, sem tranquilidade, confusa é semelhante a um aparelho de rádio fora de frequência.
Ora, o seu oposto, ou seja, uma alma tranquila é como um rádio bem ajustado. Mas imagine uma situação em que tentamos ajustar o rádio para que o som fique limpo e ao tentar ajustar a frequência o desajustamos, o rádio não é um rádio digital, mas um modelo mais antigo que exige paciência para ser ajustado.
Ao tentar ajustar a frequência para obter o som limpo qualquer movimento mínimo pode fazer com que percamos a estação sintonizada e no mais das vezes não é fácil resintonizar a estação perdida.
A alma, com efeito, é semelhante a um rádio analógico, o qual muitas vezes perde a sintonia, ou quando tentamos ajustar sua sintonia para melhorar a qualidade da frequência acaba por sair da estação sintonizada. E como é difícil recobrar a harmonia, perder os ruídos e tornar a ouvir um som inteligível.

O animal maltratado


Qual é a reação natural de um animal vítima de maus tratos?
Tal animal seria capaz de confiar em qualquer um que se aproxime dele?
Não terá medo de ser maltratado? De que possam atentar contra sua existência?
Não fugirá da dor de reviver os maus tratos de outrora?
O animal maltratado é movido pela natureza a se proteger de qualquer um que se aproxime. Ele fica encolhido para criar um ambiente seguro para si. O animal maltratado se esconde para não ser encontrado, não quer ser visto porque tem medo, não há segurança em qualquer lugar, e os riscos de confiar sua integridade a quem se aproxima é demasiado alto para ser feito.

Quem quer ter a confiança do animal maltratado deve ir devagar. Não pode parecer uma ameaça. Precisa ser paciente saber que suas investidas nem sempre trarão resultado imediato até que por fim pode se colher os frutos. Se houver perseverança e paciência e verdadeiro interesse em fazer o bem.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Alegoria do brinquedo quebrado ou com defeito

Que criança podendo escolher brincaria com um brinquedo quebrado?
Qual a utilidade do brinquedo quebrado?

Uma criança só brinca com um brinquedo quebrado quando não dispõe de um brinquedo em perfeitas condições.
 Afinal, é muito mais legal brincar com um carrinho com rodinhas do que sem rodinhas, uma boneca com braços e pernas e cabeça do que sem estas partes do corpo.
Portanto, leia atentamente esta pequena parábola:
Havia duas crianças, uma que nunca teve um brinquedo na vida e outra que tinha muitos brinquedos todos inteiros bem conservados; acontece que a criança que nunca tivera um brinquedo encontrou um carrinho sem rodinhas e brincou muito com ele.
Até que um dia ganhou uma caixa com uma frota de carrinhos novos, todos com rodinhas carrinhos de todo o tipo. Qual então foi o destino daquele carrinho sem rodinhas? Provavelmente foi esquecido em algum lugar da casa, ou mesmo jogado ao Lixo.

A outra criança, que tinha muitos brinquedos bons, certa vez notou que as asas de um aviãozinho havia se quebrado e como havia outros aviõezinhos e tantos outros brinquedos simplesmente o deixou de lado pegando pó, pois porque haveria de consertá-lo? Se havia tantos outros brinquedos que poderiam substituí-lo?
Tantos outros brinquedos que lhe proporcionariam momentos de alegria e descanso, em que ele não teria que se preocupar em tentar consertar o brinquedo, sem saber se daria certo. Por que me preocupar? – se perguntaria a criança, pois se está quebrado, é porque está velho e obsoleto, porque eu perderia o meu tempo tentando arrumá-lo? Ou pediria a alguém que o fizesse? Se tenho tantos brinquedos este não me fará falta. Seria assim, mesmo que chorasse no primeiro instante, mesmo que cogitasse de arrumá-lo, se conformaria e o abandonaria em função de ter outros brinquedos em melhor estado de conservação.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Lucidez

Eu sei que já impressionei mais de uma pessoa com a minha lucidez.
A Lucidez é por certo uma espada de dois gumes, digo isso pelo simples fato de que por meio da lucidez me torno extremamente forte, às vezes não o suficiente para vencer, mas para parafrasear o personagem Rocky Balboa: “aguentar apanhar muito”. Uma força que me faz resistir, mas que me faz sofrer o suficiente para implorar pela morte.

De fato, se por um lado, resisto lúcido sabendo tudo o que me acontece, de outro lado, sofro duplamente seja pelo desespero de tentar resistir o quanto posso e resolver o problema, quanto, o de saber que no mais das vezes a dor, sintoma de um mal é o reflexo de uma doença, de uma ferida incurável já há bastante tempo.

Entretanto, sucumbo a dor, caio tentando resistir consciente, grito em meu interior de desespero, sinto-me abandonado, inquieto e inseguro. Mas caio com a consciência de que tentei me manter livre e de preservar a liberdade dos outros quando necessário.

A lucidez tão louvada é como disse um grande poeta da nossa música: “um holofote que cega mais que ilumina” e que, portanto, sua luz no mais das vezes nos faz mergulhar na mais profunda escuridão.
Tenho gritado de dor e sei que ninguém ouviu, entre pesadelos e memórias do passado que pensava já ter superado, mas que as ironias da minha vida insistem em trazer à tona como instrumento de tortura. Esta é a causa da minha doença e do meu sofrimento, as sequelas, feridas que se abrem.

Minhas noites escuras, noites escuras da alma em que tal como Jesus eu gritei: “Por que me abandonastes?” Achei que não viveria de novo esta experiência nada agradável do abandono.
Noites escuras, em que a minha lucidez nem sempre pode clarear com esperança, ainda que eu o quisesse... E aí me veio uma definição de fé. Fé é crer na esperança. No fim, juntei duas virtudes teologais, não porque ignore a caridade, mas ainda sou demasiado imperfeito para me sentir caridoso. Gosto do que Madre Teresa de Calcutá nos ensina sobre esta virtude teologal: “a caridade é amar até doer”. É verdade, quem ama sabe que o amor dói. Porque quem ama se doa inteiro e no se doar por inteiro é paciente, isto é, passível de receber tudo.

Agora vocês sabem que porque eu sofri muito eu fui capaz de amar mais ainda, mesmo sendo tão imperfeito tão miserável. Já há algum tempo que me sinto inepto para a vida cristã, todas essas provações e esse modo de amar tão peculiar que é bem verdade me ajudaram a ser um ser humano melhor (não tão melhor quanto deveria, mas melhor), também é causa de muita dor, dor para qual não há remédio. Como aqueles judeus depois de ouvir Jesus, tenho eu também vontade de partir porque suas palavras “são duras demais” (Jo 6,60) mas, “para onde irei? Só tu tens palavras de vida eterna.” (Jo 6,68).

E assim, como posso tenho tentado não sem fracasso fazer o melhor que posso para resistir e proteger a herança que me foi confiada e ser o melhor que posso, embora saiba que tenha desapontado a muitos pelas vezes que cai e demorei para me levantar.
Esta lucidez, única arma que possuo para combater, único remédio que disponho para lidar com todas essas dores, me mostrou que a dor não deve ser simplesmente julgada, porque quem a sente sente e dói. Ouvi não poucas vezes que outras pessoas tem “problemas maiores” que o meu. Isso é verdade, mas também é verdade que para quem tem uma cólica ou gastrite, ou ulcera, ou cefaleia, a dor não é a mesma, mas é dor.
Mas quem é capaz de medir a dor que tantos maus tratos do passado pode incutir na alma de um ser humano?
Como medir a agonia de um ser humano que emudece contra a sua vontade diante das pessoas que ele quer bem? Trêmulo, quase sem respirar, suas pernas enfraquecem, tem vertigens, tomado pela agonia de resistir e se comunicar sem sucesso.
A este só restava a reclusão, pois se sofre sozinho, o sofrimento é triplicado quando não pode comunicar o que sente a quem ama.

Lúcido, eu ás vezes desejei a anestesia para que tal dor não me acossasse, para que tanta tristeza não me fizesse chorar a noite e que o meu silêncio não fosse interpretado como ressentimento e ódio.
Muitas pessoas não sabem, mas é horrível ficar incomunicável, tomado pelo pânico e angustiado fazer o movimento hercúleo para a fuga.
Pesadelos e ataques de ansiedade tem se tornado rotina nas últimas semanas. Quase não sei o que é sorrir mais...

Uma das minhas maiores frustrações é ter a consciência da minha estafa que me impede de fazer o que mais amo, filosofar, impossibilitado de estudar e de dar continuidade aos meus projetos profissionais. O meu aniversário foi outra decepção.
O últimos dias tem sido difíceis, tenho recorrido ao meu padroeiro Santo Antônio, São João da Cruz e a florzinha do Carmelo (Santa Teresinha do menino Jesus e da sagrada face) que com suas experiências de fé e vida tem sido como que um complexo vitamínico para que eu possa resistir até o dia derradeiro. Ainda espero contar com o reforço de outra Santa do Carmelo, Santa Teresa de Jesus ou D’Avila para que eu possa aguentar apanhar muito ainda e quem sabe bater.

Que fique claro, que estou ciente das minhas fraquezas, ciente das minhas misérias, ciente de que feri quem amo na inteireza do meu ser e que desculpa nenhuma me torna digno de perdão. Mas que fique claro também o quanto tenho sofrido e que só agora um pouco anestesiado, posso por ironia falar da lucidez que me acompanha desde a muito tempo e que sempre foi a arma que me conduziu à vitória nestes combates apoiado pelo escudo da fé.
Tudo quanto escrevi recentemente são os meus gritos de dor, são as minhas lágrimas sem consolo, vindos de um homem que contemplou e contempla seus medos, que é perseguido pelo pânico mesmo que educado para a auto-suficiência, uma vez que, nunca teve a quem recorrer. O que de certa forma torna o meu mal ainda mais grave.

Falei bastante da Lucidez, mas não deixei a imagem clara do que ela é depois de contar como tenho me sentido e me sinto e o que tenho tentado fazer para suportar. Quem já viu o filme “Coração valente” com Mel Gibson vai se lembrar da última cena, quando Willian Wallace é preso e condenado a morte dolorosa e agonizante, sua amada, lhe oferece um remédio para que ele não sofresse e ele se recusa. A lucidez é exatamente esta recusa, é deixar-se deitar na mesa de torturas para que antes do último suspiro se possa gritar “liberdade”. Mas digo mais Lucidez é a consciência de tudo o que se passa, dor, frustração, agonia, angustia, medo. Fiz e faço o que posso para não me entregar, às vezes não é o suficiente e quero desistir, mas não desisto.

Deus sabe o que tenho passado nas ultimas semanas, ainda que eu não tenha sentido sua presença paternal junto de mim. “Ele que sonda os rins e o coração” conhece todas as minhas misérias e minha pequenez, minhas vaidades e minha mesquinhez.

E agora, vocês também o sabem ainda que de modo superficial o que tenho passado, achei que deveria escrever, já que não me é possível falar a quem gostaria, para que soubessem que não me sinto bem, que tenho medo e que não sei o que vai ser de mim.

Não busco redenção, isto é apenas um desabafo, de alguém cansado da tensão a que tem sido exposto por muitos dias, sendo obrigado a beber doses mortais do passado que rasgam e dilaceram o espirito. Quero acreditar que isto tudo vai acabar logo, esta é a minha esperança e tenho fé, pouca, mas tenho!
Portanto, estas eram as palavras que por vezes queria dizer e não consegui e que agora tomado de ânimo e força escrevo para que quem as ler saiba como tenho me sentido lutando em silêncio para suportar o meu existir.


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Eclipse do Sol II

Ó Sol! Onde estás?
Onde estás tua luz? Teu brilho e teu calor?
Porque já não vejo tua luz, mas deixado nas trevas
Na escuridão em que me encontro!

Como prosseguirei?
Para onde irei? Se a esperança é uma crença sem resposta
Se só me resta tormento e agonia, angustia e sofrimento.

Como posso caminhar na escuridão se não enxergo o caminho!
Ó sol! Quebra a parede de nuvens, não se esconda atrás da lua!
Ó sol! Ilumina o meu caminho, para que eu possa desfrutar do descanso e do regozijo.

Outro eclipse me assola, outra dor que me atormenta
Escuridão sem fim
Noite escura da minha alma
Penumbra em meu ser...
Onde está tu, ó luz!?
Por que me abandonastes?
Por que me deixastes no abismo?
Dá-me outra vez uma centelha do seu fogo, uma chama de esperança.
Ampara-me em minhas misérias e socorre-me no desespero..
Pois tenho medo das tempestades, tenho pesadelos quando estou só!

Não se esconda de mim, não me deixe sozinho à noite...

Gramática do Amor

Amar infinitivo da dor
Amado substantivo do desejo
Passado lascivo
Passado cobiçado

Amante particípio do sofrimento
Sujeito de desejos
Sujeitado pelas ilusões

Amor sinônimo de ferida
Antônimo chagado da inimizade
Amor verbo intransitivo intransitável
Por vezes intratável.

Amor adjetivo da beleza
Cúmplice do terror
E vítima dos próprios medos
Amor advérbio ou pronome
Palavra viva ou
Letra morta

Amor amar
Amante amado
Amada amante
Amor sujeito sem predicado.


Brener Alexandre 01/07/2013

sábado, 15 de junho de 2013

Jeremias II



Maldito seja o dia em que nasci!
Maldito seja o médico que não foi capaz de convencer a minha mãe a abortar!
Maldito seja o dia quinze de junho!

Mais vinte anos e poderei morrer
Mas a minha alma anseia pela morte antes que o tempo se cumpra.
Não suporto a minha existência
Fardo pesado que carrego.
Fardo doloroso que arrasto como grilhões preso aos meus pés.

Ente amaldiçoado é o que sou
Ente por todos desprezado
Que Deus abandonou
Com as costas sobrecarregadas...

Maldito seja o dia em que vim ao mundo
Maldito seja o médico que felicitou meu pai dizendo: Nasceu um menino!
Por que me fizeram vir a este mundo?
Por que não me mataram?
Por que permitiram tal barbárie?

Dia do esquecimento
Alma desfigurada
Dia de escuridão
Espírito constrangido.

Dia sem sol
Noite sem estrelas
Dia de dor
Dia de sofrimento

Nasci como erro
Nasci como fracasso
Nasci como peso
Peso insuportável para todos.

Nasci e este é o grande erro
Nasci e este é o meu pecado
Nasci e anseio pela morte todos os dias.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Encanto

Teu sorriso me encanta no encanto da sua alegria,
Tua beleza me encanta ela não é apenas contorno harmonioso,
Tua Beleza me encanta porque é beleza da alma exprimida em harmonia.
Um sorriso encantador e uma beleza harmoniosa.

Encantar verbo que poderia significar estar repleto de canção.
“Em cantar” Simplesmente no canto, na harmonia, no arranjo perfeito.
Entre o sorriso e o olhar entre palavras e a transcendência te descubro em meus pensamentos.

Não é privilégio de uma musa, uma deusa, mas de uma mortal.
O encanto é como está cheio de alegria e está cheio de alegria lembra Spinoza é está cheio de amor.

Teu sorriso me encanta me perdi nele quando o vi.
Tua beleza me desconcerta e não sei o que fazer.
Sorriso pra encher os olhos.
E beleza para me tirar as palavras.

Encanto silencioso da alma, da tua alma
Encantamento silencioso da minha
Repleta de alegria por saber que existe algo de tão simples, mas tão belo
Que posso contemplar no íntimo da minha alma reconhecendo que até mesmo
No que é efêmero o belo se torna imortal.

Música

Minha alma chora como a sinfonia triste do violino
Minha alma dança ao som da flauta
Dança sem saber dançar
Dança descompassado sem ritmo
Minha alma se agita entre acordes e melodias.

Minha alma se alegra como o som estridente do tambor
Minha alma aguda pula e saltitante de surdez sonora.
Dança uma dança misteriosa
Dança ao ritmo das ventanias
Dança a dança das tempestades espetáculos da grande natureza.

Minha alma é como a música
Em sua complexidade possui um toque de beleza
Um toque de terror
Um toque de alegria
Minha alma é como a música
Harmonia matemática traduzia em sons
As vezes inaudíveis
Outras vezes falantes por demais.

Minha alma é como a música
Ela faz dançar
Faz cantar
Relaxa, estica, distende e atende.

Minha alma é como o som da flauta
Triste ou alegre
Melancólica ou entusiasmada
Não importa...
Importa é que a minha alma
É sensibilidade para as coisas da inteligência e para as coisas do coração

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Jeremias


Se entre lágrimas eu anúncio a destruição
Se entre lágrimas sou obrigado a me esconder!
Perseguição sofrida pelas palavras proferidas.

Só digo o que me pedes!
Só proclamo o que me ordenas!
Se hesito o meu peito incedeia
Por que a tua voz é braseiro no meu coração.

Minhas lágrimas frutos do meu sofrimento
Por dizer coisas terríveis!
Para anunciar tua justiça
Teu braço forte
Tua compaixão.

Me escolhestes
Me seduzistes
Me deixei seduzir
Me deixei escolher.

E cá estou lamentando o exílio
Lamentando a perseguição
Porque meus irmãos não me acreditaram
Me jogaram no fosso
Por que o peso da verdade é doloroso demais.

Dois Corações


Havia dois corações
Um estraçalhado
O outro partido
Um em pedaços
O outro dividido.

Dois corações
Entre desejos e vontades
Entre amores
Dois corações
Em silêncio
Duas distâncias tão próximas

Havia dois corações
Duas almas
Dois espíritos
Fragmentados
Anulados
Repartidos pelo destino

Havia dois corações
Eram dois destinos
Dois caminhos
Duas liberdades
Duas verdades
Dois amores
Um símbolo
Uma unidade.

Brener Alexandre 12/06/2013

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Pequena Reflexão sobre o namoro como instituição: A escolha de Hypparchia

Hoje dou continuidade a esta pequena reflexão que tem se tornado grande, chegando a sua terceira parte.
Depois de desconstruir o amor romântico fiquei de tentar responder sobre como seria possível uma relação pautada pela comunidade e por uma forma de amor que assimila, portanto, a ideia de cuidado e interesse uma forma talvez mais intensa de amizade movida pelo desejo sim, mas um desejo de construir e partilhar a vida.


Para apresentar uma possível resposta, apresento uma parte do relato que chegou até nós da filósofa cínica Hypparchia. Primeiro apresentarei a tradução do texto de Diógenes Laertios no qual encontramos o relato da escolha de Hypparchia e depois através de uma reflexão mais filológica apresentar através do vocabulário empregado o modo como o namoro como instituição se dá como comunidade de menor porte que começa com duas pessoas em uma adesão de vida comum e se estende através e sobretudo com o casamento e com a geração dos filhos. Vejamos então o relato da escolha da filósofa.


Diógenes Laertios nos conta que: “A irmã de Metrócles, Hypparchia, também foi capturada pelos discursos de Crátes. Ela amava os discursos e o modo de vida de Crátes, e não dava atenção aos seus pretendentes, nem a riqueza, o bom nascimento e nem a beleza deles lhe chamava a atenção. Pois Crátes era tudo para ela. Ela ameaçava seus familiares dizendo que tiraria a própria vida se não fosse dada à Crátes em casamento. Então, Crátes foi chamado pelos pais da moça e fez de tudo, mas por fim não conseguiu convencê-la, então ele se levantou e tirando as suas vestes diante dela disse: ‘ Este é o noivo e os seus bens, portanto, toma a tua decisão, pois não poderá ser a minha companheira a menos que tu partilhe comigo o meu modo de viver. ’ A moça escolheu, e adotando as mesmas roupas passou a andar com ele(..)” DL VI, 7, 96-97.


Antes que se pense que Hypparchia se apaixonou por Crátes como se fosse um amor à primeira vista eu devo dizer que a irmã de Metrócles já o conhecia, primeiro porque Crátes já era relativamente conhecido como filósofo e segundo porque Crátes já havia estado na casa de Hypparchia para ajudar Metrócles quando este pensou em se matar porque teve vergonha de um peido que pode ser visto aqui:Uma anedota cínica: O encontro de Metrócles e Crátes.
Portanto, não se trata de amor à primeira vista, mas há implícito na narrativa através de palavras bem específicas do vocabulário grego que examinaremos agora elementos que mostram um pouco do modo de vida de Crátes, isto é, a vida filosófica, mais especificamente da vida do filósofo cínico como também a relação íntima que há entre persuasão e amor se assim me é possível dizer.

 No início do relato Diógenes Laertios nos diz que Hypparchia foi “capturada” pelos discursos do filósofo cínico, e ele poderia dizer que foi seduzida, que foi encantada, mas não ela foi capturada. O verbo empregado é therao que significa: caçar, capturar, prender uma presa, laçar etc. Levando em conta que a escola cínica é associada aos cães (Por isso, Diógenes de Sínope é também chamado de “o cão” kynikós em grego) não me admira que Hypparchia fosse capturada, veja que o vocabulário do relato está ao menos na teoria e acordo com as bases fundamentais do modo de vida proposto pela escola filosófica apresentada (Na obra “vidas e doutrinas dos filósofos ilustres” obra da qual extraímos esta anedota sobre Hypparchia em cada livro Diógenes Laertios agrupa os principais filósofos das principais escolas do mundo antigo o sexto livro é dedicado aos cínicos e cada capitulo trata da vida de um filósofo. O capitulo sétimo do livro sexto apresenta a biografia de Hypparchia aqui traduzida). Mas isso pode ser explicado quando entendemos que os discursos de Crátes não são apenas palavras, mas um modo coerente que une as palavras com o modo de viver e é por isso que logo em seguida Diógenes Laertios escreve: “Ela amava os discursos e o modo de vida de Crátes”, Eros que é o termo mais usual para designar o amor no mundo grego expressa mais do que afeição o desejo, em outras palavras, não é apenas achar os discursos e o modo de vida de Crátes “bonito”, mas de desejar viver como ele vive. (O mito de Eros imortalizado no diálogo banquete escrito por Platão nos revela em detalhes a natureza de Eros ligada diretamente ao impulso de ser ou ter o que ainda não é, pois, Eros seria uma espécie de divindade intermediaria entre os homens e os deuses, sendo filho da Abundância (Poros) e da miséria (Pênia), é carente de tudo e ao mesmo tempo possui todos os recursos para atingir seus objetivos. No diálogo Platão coloca Eros como verdadeiro filósofo pois embora saiba alguma coisa está sempre carente de saber e por isso sempre deseja saber mais, por outro lado a natureza desejante de Eros implica necessariamente o interesse de se aproximar, de seguir de perto algo ou alguém, o amor é um querer assumir o outro para si.)  Eu traduzo por “modo de vida” a palavra grega bíos, bíos é, com efeito, tudo aquilo que está relacionado às condições do viver, diferente de zao (viver) que é a vida entendida como movimento, ação no sentido mais fundamental, por exemplo: dizemos que algo está vivo porque respira ou porque o coração está batendo. Bíos, por outro lado, carrega um sentido mais profundo, pois se refere às condições de existência, tanto éticas como ecológicas (quando aplicada a biologia, por exemplo). 

Portanto, o amor de Hypparchia não era um tipo de admiração passiva por alguém “brilhante” (Diógenes Laertios relata que Crátes era feio de rosto e que quando se exercitava na palestra fazendo ginástica provocava o riso Cf. DL VI, 5,91), mas uma inclinação para imitar ou seguir aquele modo de existir. E principalmente amar os discursos e o modo de vida significa em certo sentido amar a pessoa toda de Crátes para ser como ele, e ser um com ele. E  é preciso notar ainda que o desejo de ser como Crátes e de estar com ele era tão forte que mesmo Hypparchia sendo uma mulher atraente e ter do ponto de vista social bons pretendentes elas sequer lhes dava atenção ao contrário ela “Não dava atenção aos seus pretendentes, nem a riqueza, nem ao bom nascimento, nem a beleza dos mesmos” Estes três itens citados são importantes para a tradição cultural do grego antigo, digamos que seja ainda hoje. Os antigos gregos acreditavam que um homem feliz de fato era aquele que era rico, bem nascido (de boa família, ou família nobre) e belo (bonito, pinta etc.) No entanto, o cinismo despreza tudo isso, por considerar que todas estas coisas vêm e vão, importa para os cínicos e depois para os estóicos que são devedores do cinismo apenas a virtude, pois a virtude está acima da inveja, da vaidade e, é o que realmente faz do homem um homem.


Quando Hypparchia ameaça se matar e seus pais chamam Crátes para convencê-la a não se casar com ele temos outro dado interessante, porque os discursos que capturaram a jovem não a fez desistir?
Como, pois um filósofo tão eloqüente não foi capaz de dissuadir a jovem? Depois de “pant’epoíei”, de fazer de tudo, usar todos os meios que dispunha para fazê-la desistir, ele por fim percebe que não a persuadiu (peíthon) e tenta um último recurso, faz o seu último lance, vai para o tudo ou nada, ele tira a roupa na frente dela e diz que aquele manto surrado é tudo o que ele tem e que se ela realmente quer ser sua companheira (koinonón) ela vai ter que compartilhar (epitédeumáton) a maneira de viver. Vejam que para o grego ser companheiro é ter em comum, a própria phília (amizade) nos remete a ideia do “ter tudo em comum”.
Portanto, a ressalva feita por Crátes ao ver que não tinha como persuadi-la era essa, se quiser tudo bem, mas você vai ter que ser capaz de viver como eu vivo.
No fim, Hypparchia escolhe por Crátes e adota seu modo de viver usando apenas um vestido e seguindo-o aonde quer que fosse.


A escolha de Hypparchia é a escolha pela comunidade, por um amor que transcende toda a superficialidade que a atração física, a beleza ou o bom nascimento poderiam trazer ao primeiro olhar, ela viu além nos discursos do filósofo, viu certamente um modo de vida que mesmo difícil trazia consigo a semente da felicidade e desejando construir esta felicidade através da prática da virtude que é a causa de ser do cinismo, Hypparchia abraça um modo de vida compartilhado com seu marido.


Hypparchia não conheceu a banda americana Turtles, mas certamente repetiria o adágio: “Imagine me and you, I do (...) so happy together” (Imagine você e eu, Eu imagino tão felizes juntos).
Tendo tratado da escolha de Hypparchia e apresentado o quanto a sua escolha reforça que o namoro ou o casamento deve ser sempre uma comunidade que parte da atitude livre das duas pessoas tratarei na sequência da vida celibatária, isto é, da vida de solteiro distinguindo primeiramente o sentido ordinário e exercitado no mundo antigo e pagão do celibato adotado no cristianismo.

Pelo momento não há mais nada a dizer.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Inverno

O inverno se aproxima o inverno já vem
O frio do clima desvio na minha alma
O frio na minha alma é o anúncio da morte.

O inverno se aproxima,
Por que tu ó, sol se pôs para mim!
Por que tu, ó Lua escondestes entre as nuvens a sua face iluminada!
O inverno se aproxima e com ele a tua alma gelada
O inverno se aproxima e com ele os ventos do esquecimento

Ansiedade e medo duas palavras que traduzem o que sinto
São sinônimos da minha tristeza e traduzem a arritmia que me acossa.
O inverno nem chegou para mim dura uma eternidade
O inverno ainda não veio, mas é como se todo o frio me perseguisse.
Manhã sem sol e noite sem lua...
Manhã gelada de desespero
E noite fria de ventanias tempestuosas...

O inverno se aproxima e nos distanciamos
O inverno que ainda não chegou anuncia a sua partida
O frio pálido
As noites longas

O inverno chegou e eu não tinha reparado
São as noites em claro
Os dias sem vida

E a ansiedade de uma primavera longínqua...

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Recordação

Já não sinto o teu perfume
Já não vejo o brilho dos teus olhos
Mas ainda me lembro do aroma que saia dos teus cabelos
Das duas amêndoas que reluziam diante de mim.

Oque me resta é uma memória pálida
Uma imagem sem vida uma foto amarelada...
Oque me sobrou foi apenas o que volta ao meu coração
Sua imagem longínqua e distante...

Ah, se eu pudesse sentir o teu perfume mais uma vez!
Ah, se eu pudesse tocar a tua pele macia como o pêssego fresco
Olho para ti sem te ver
Sinto sua respiração sem te abraçar
Porque a imagem amarelada ganhou vida em minha memória quando se aproximou do meu coração.
No verão você é o sorriso do sol
Na primavera você é a flor que desabrocha
No outono você é suave como a brisa que se aproxima...
Mas é o inverno que se aproxima e nele o que você seria?
No inverno você é o calor que me falta
O fogo que me impulsiona
O sol que se esconde

A semente da esperança...

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Silêncio III

Volta o silêncio tagarela
Volta o som surdo no vazio
Meus olhos encontraram os teus
Minha boca nada podia exprimir

Volta o silêncio tagarela
Volta o som surdo no vazio
Meus olhos te viram
E minha boca nada conseguia exprimir

Ó silêncio! Perturbador da minha paz!
Ó silêncio! Sintoma da minha dor
Minha voz não quer sair
Minhas palavras ensurdeceram diante da violência do mundo!
O ruído tímido pode ser ouvido
É o gemido calado da minha alma

O meu coração foi silenciado
Meu espirito não tem voz não pode mais falar
Minha alma está muda de dor!

Ó silencio! Me traga paz! Não sofrimento!
Seja a cura e não a doença!
Ó silencio!
Ó silêncio
Só nas palavras escritas entre reticencias e aspas me é possível gritar...
Só nas palavras não ditas é que expresso a minha dor
Silêncio, maldição dos que são chamados a ser porta-voz...
Silêncio, ensurdecimento, opressão da palavra

Silêncio... palavra nadificada.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

O Cântico

Fui visto na rua a cantar
Não era um cântico de alegria
Não era um cântico de felicidade
Fui visto na rua a cantar
Um cântico e nada mais.

Eu canto para espantar a tristeza
Canto para que a minha voz seja a minha companheira
Andar sozinho exige o cântico
Andar sozinho exige coragem.

Fui visto na rua a cantar
Cantar a minha tristeza
Cantar o meu sofrimento
Fui visto na rua cantar
As noites mal dormidas
A dores incompreendidas
A solidão que me acolhe

Fui visto na rua a cantar e pensaram que eu estava alegre
Enganados pela harmonia do som não viram meus olhos tristes
Não viram minhas mãos tremulas de medo e nem o pânico no fundo dos meus olhos
Não viram que sou covarde ante a vida
E que tenho medo de existir, pois a existência é deveras dolorosa.

Um cântico foi ouvido
Um cântico triste e medonho
Sou o pássaro solitário
Que canta um canto de tristeza
Que canta o canto do pavor
Que canta o canto do abandono

Que canta o canto da solidão

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Sol

Ah, Sol! Luz da manhã para onde vai?
Vem trazer teu calor em forma de sorriso! Teu calor em forma de alegria!
Dissipa o frio da madrugada!
Seca as gotas geladas de orvalho que a noite outrora me trouxera.

Vem luz da manhã!
Venha iluminar a minha alma!
Encher o meu espírito!

Para que eu tal como a lua reflita a tua luz transmutada em beleza!

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Uma anedota cínica: O encontro de Metroclés e Crátes

Apresento uma tradução feita do capitulo 6 do livro VI da obra: "Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres" escrito por Diogénes Laertios por volta do século III d.c, trata-se de uma coletânea de anedotas sobre os primeiros filósofos e as principais escolas filosóficas do mundo antigo. A maioria das anedotas são sempre muito espirituosas. deixo aqui a tradução do paragrafo 94. O que estiver entre parênteses é nota explicativa e entre colchetes é o que está subentendido no texto grego. Segue a tradução abaixo:

Capitulo 6 - Metroclés

Metroclés de Maronéia, irmão de Hipparchia foi ouvinte das lições do peripatético Teofrastos (sucessor de Aristóteles no Liceu), e a sua saúde era tão debilitada pela fraqueza, que uma vez, enquanto se exercitava soltou um peido por meio do esforço que fizera e envergonhado trancou-se em casa desejando morrer de fome. Tomando conhecimento do fato Crátes foi vê-lo para exortá-lo e devorando propositalmente muitos tremoços (um tipo de cereal) foi persuadi-lo com argumentos de que nada havia feito de mau. Pois, seria um milagre se os gazes não respondessem (Responder aqui significa sair por onde deveria sair, ou seja, Estranho seria se os gazes não saíssem como peido) de acordo com a sua natureza.
Finalmente o próprio Crátes também peidou e por ter realizado o mesmo feito [de Metroclés]  conseguiu animá-lo. Daquele momento em diante passou a ouvi-lo (ouvir Crátes, ser seu discípulo) e tornou-se proficiente em Filosofia. DL VI, 6, 94.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Saudade



Ah, ausência! Minha consciência sente cada passo teu que se aproxima!
Meus sentidos sabem que tu se faz presente ante a minha mente.
Ausência, vazio, uma forma de não ser! Ausência o nada traduzido, experiência de solidão!

Saudade palavra que traduz a consciência da ausência
Imagem do vácuo
Símbolo do vazio

Saudade experiência da falta
Consciência do outro
Saudade não é dor nem prazer
É memória, memória viva, memória transposta.

Saudade caminho da ausência
Caminho consciente da falta
Desejo memorial, memória desejante

Ah, ausência! Quero o que não és!
Quero o que tu ocultas no teu ser!
Ah, ausência! Que o vazio seja preenchido
Que falta seja apagada
Que a solidão manifeste o outro.

Ah, saudade por um pouco fica e me trás à memória a imagem do que deixei para trás.



segunda-feira, 27 de maio de 2013

O remédio de Maimônides



O filósofo e médico judeu Maimônides (Moisés ben Maimôn  1137/1138- 1204) nos deixou um pequeno tratado apresentado como uma introdução à ética dos pais escrito em oito capítulos no qual o rabino Moisés ao se apropriar dos conceitos fundamentais da filosofia aristotélica: o conceito de mediania, de alma e as suas partes reflete sobre os meios de viver afastado do pecado, ponto culminante de toda tradição judaico-cristã.

Além de ser uma contribuição à experiência mística religiosa, penso que contribui também para a mística filosófica como uma forma de cura sui, ou seja, como um remédio ao modo das filosofias helenísticas (estoicismo, epicurismo, cinismo e ceticismo) para a alma.
Não pretendo abordar neste texto em particular a contribuição que este opúsculo faz à mística e experiência religiosa e ou filosófica, tentarei de modo livre falar dos aspectos que tornam o trabalho empreendido pelo filósofo judeu uma contribuição à filosofia como modo de vida e como tratamento para os males da alma.
Posso falar desta contribuição a partir da minha própria experiência, já que apliquei em mim recentemente o exercício proposto por Maimônides no opúsculo aliado ao remédio estóico da vida retirada para o cultivo do ócio filosófico. Porém antes vou explicar o Método utilizado por Maimônides e então ficará claro como o tratamento ou remédio funciona na prática que podemos chamar de exercícios espirituais da filosofia para fazermos jus ao estudo importante empreendido por Pierre Hadot e Michel Foucault.

Seguindo o caminho de Aristóteles, Maimônides entende que as doenças da alma são: “sua condição e de suas partes fazerem sempre coisas ruins e feias e executarem ações desprezíveis” (MAIMÔNIDES, 1992 p.19) em outras palavras a alma doente se afasta da virtude, afastada da virtude a alma doente torna o homem indigno, quero dizer tem a sua dignidade diminuída pelo vício/ pecado.
Dignidade aqui deve ser entendida como tudo aquilo que torna o homem apto a se relacionar com outras pessoas, uma vez que Maimônides seguindo Aristóteles não pode recusar a sociabilidade inerente à condição humana.

O tratamento proposto por Maimônides é a busca do equilíbrio moral através da mediania. A mediania, com efeito, é o meio-termo entre o excesso e a deficiência que na ética aristotélica é caracterizada como vício moral.
Deste modo, Rabino Moisés esclarece: “boas ações são aquelas que se equilibram no meio, entre dois extremos que são ruins; um deles é o excesso e outro, a deficiência. As virtudes são estados (características) da alma e disposições adquiridas no meio, entre duas condições ruins [da alma], uma das quais é excessiva e outra deficiente.” (MAIMÔNIDES, 1992, p.23) Sendo assim, Maimônides entende que uma vez que se conhece as disposições da alma é possível tratar seus males com um exercício que nada mais é que uma reeducação através do hábito: “quando o corpo se desvia do equilíbrio, olhamos para qual lado se inclina ao se desequilibrar e opomos o seu contrário até retornar o equilíbrio. Quando estiver equilibrado, removemos este contrabalanço e voltamos ao que mantém o corpo em equilíbrio. (MAIMÔNIDES, 1992, P.26)
Este é o método terapêutico de Maimônides para curar a alma, primeiro o individuo é levado a agir no outro extremo e depois pouco a pouco diminuir o excesso para que o equilíbrio seja alcançado.
Maimônides nos dá alguns exemplos práticos do qual vou me ater apenas ao da avareza que é um exemplo mais simples de entender, penso.
Segundo o filósofo: “podemos ver um homem cuja alma chegou a um estado em que ele é avarento consigo mesmo. (...) Assim, se quisermos curar esta pessoa doente, não a mandaríamos ser generosa. Isto seria como usar um método equilibrado para tratar alguém com febre excessiva, não o curaríamos de sua doença. De fato, este homem [com a alma avarenta] tem de ser levado a ser extravagante repetidamente até que a condição que o torna avarento seja removida de sua alma e ele quase adquirir uma disposição extravagante. Então faríamos com que ele parasse com as ações extravagantes e o mandaríamos executar ações generosas constantemente. (...) Mas não o faríamos repetir ações de avareza tanto quanto fizemo-lo repetir ações extravagantes. Esta sutileza é a regra da terapia, e é o seu segredo. (Op.cit. p.26)
Em outras palavras, Primeiro você executa ações contrárias à aquela que é a causa da doença da alma, para então pouco a pouco possa atingir o equilíbrio e por fim a virtude.
Maimônides chega a dizer que: “treinamos o homem ruim para ser muito bom, mais do que treinamos o muito bom para ser ruim. Esta é a regra para a cura dos hábitos morais, portanto, há que lembrá-la bem.” (op.cit. p.27)

Maimônides vai notar, tal como Aristóteles (Aristóteles enfatiza que atingir a mediania é algo extremamente difícil e que, portanto sempre tenderíamos ora para o excesso ora para a falta) que por causa da terapia tendemos um pouco para o excesso ou para a deficiência e lembra-nos de algumas práticas próprias dos místicos judeus que para conseguir manter uma constância no exercício da piedade inclinava-se para um extremo por meio de jejuns e abstinências variadas e o afastamento da vida social.
E como bom médico lembra que essas praticas são um tratamento para as disposições de caráter, um modo de exercitar a piedade através da austeridade de modo que a dignidade possa ser preservada.
“Se ele vissem que – devido à corrupção das pessoas da cidade -, seriam corrompidos através do contato e vendo suas ações e que o contato social com eles traria corrupção aos seus próprios hábitos morais, eles se retiravam a lugares ermos onde não havia homens ruins.” (op.cit.p. 27)
Deste modo podemos aproximar o tratamento de Maimônides à vida retirada, cara aos estóicos para o cultivo da filosofia tornando- os aptos à filantropia que é o amor pelo bem comum para a ética da Stóa é não muito diferente da experiência eremítica dos monges e profetas da cultura judaico-cristã.
Mas deixando de lado estas divagações que nos faria se perder na exposição da cura sui de Maimônides.
O filósofo como dizia, adverte que este exercício não precisa ser feito por quem não está doente e cita o exemplo dos ignorantes que vêem os que praticam estes exercícios com o fim de curar a alma, mas não sabem que se trata de um remédio e querem imitá-los mortificando seus corpos como se Deus contenta se com tal coisa. A metáfora empregada pelo rabino Moisés é a imagem do homem que vê o médico tratando uma pessoa mortalmente doente com um remédio e exigisse deste doente jejum para restabelecer a saúde e pensa que tal tratamento o fará ter ainda mais saúde, o que não acontece, pois, com efeito, quem está são e toma um remédio acaba adoecendo.
Percebe-se, portanto, que a busca pelo ponto de equilíbrio é uma atividade de instrução da alma para o bem, no âmbito moral para a prática da virtude, no âmbito antropológico para a realização da nossa humanidade, de modo que este exercício nos torna senão plenamente apto a vida social, ao menos o mais próximo de uma atitude humana.
O fim último de toda prática moral, da ação ética como parte integrante dos exercícios espirituais da filosofia não é muito diferente da experiência mística na vida religiosa.
É por isso que ele nos lembra: “De fato, o objetivo da Torá (lei de Moisés corresponde ao Pentateuco cristão) é que o homem seja natural, seguindo o caminho do meio. Ele deverá aderir ao meio quando come o que for seu para comer, quando bebe o que for seu para beber e quando tiver relações sexuais com que lhe for permitido manter relações sexuais.” (MAIMÔNIDES.Op.cit. p.28)
Veja que a ideia é que o homem seja natural, ou seja, exercite sua humanidade junto aos demais homens, respeitando se e respeitando os outros.
O que eu fiz comigo mesmo foi exatamente por em prática esse tratamento aliado ao remédio estóico, claro que ainda estou no inicio do tratamento, mas posso dizer que funciona, consegui neutralizar boa parte dos sintomas e tratá-los, com tempo quem sabe não irei eliminá-los por completo.

BIBLIOGRAFIA:

MAIMÔNIDES. Introdução à ética dos Pais trad: Alice Frank. São Paulo: Maayanot,1992




sexta-feira, 24 de maio de 2013

Persuasão II




Tudo o que tenho são palavras despojadas
Frases simples, objetivas.
Tudo o que tenho são palavras sinceras
Em frases que revelam minhas fraquezas, minha fragilidade

Não sou forte, nem tenho o dom de convencer
Não sei falar, não sei escrever
Não sou poeta, e nem filósofo, quem dera os ser!

Tudo o que tenho... tudo o que sou...
Palavras francas, gestos sincero, inocentes até...
Desejos de viver bem
Desejos de construir junto
Desejos de liberdade.

Tudo o que sou, tudo o que tenho...
Fraquezas e misérias... sou humano!
Tentativas entre erros e acertos... sou humano!
Perscruta meu coração e examina, se por acaso minto..
Esse é o meu único argumento...
Minhas únicas palavras...
É entrega sincera... é entrega generosa...
Confissão sem confidente
Persuasão que não convence
Fragilidade do meu discurso
Verdade...
Desculpa esfarrada...
Silêncio tagarela.


quinta-feira, 23 de maio de 2013

Misantropia II


A tristeza que me aflige me inclina ao confinamento
A dor de outrora é o exílio dos honestos
A metafísica do misantropo é simples.

Ele despreza os homens porque renegam sua humanidade
Ele sofre porque vê em cada ato injusto uma afronta a razão, ao bom senso.
Seu ódio é apenas tristeza manifesta e medo de se igualar a eles em faltas e crimes.
E por isso o misantropo é prisioneiro da tristeza.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

dividido



Há dois de mim
Duas faces
Dois lados lutando
Um é luz o outro é trevas
Um ama a vida o outro almeja a morte.

A guerra me devasta por dentro
Arma emboscadas a noite
Não tenho sentinelas nem vigias
Apenas desejo de paz.

Partido pelo destino
Dividido pelo amor
Repartido pelo passado
Feito em pedaços pelo futuro.

Quem pode fazer de mim unidade?
Quem pode restaurar a ordem de outrora?
Quem estirpa as faltas e perdoa os meus erros?
Quem me fará justiça?
Quem aplacará minha dor?

Tu podes me fazer um contigo.
Tu podes reequilibrar o caos
Corrige os meus caminhos e perdoa os meus pecados
Escute a minha oração e me faça justiça
Ameniza a minha dor
Pois enquanto pude te fui leal e fiel
Enquanto tive forças lutei por ti
Agora, peço humildemente que lute por mim.

Ainda estou dividido
Talvez haja esperança
Ordene a minha vontade
E tudo será endireitado.


Silêncio II



Outra noite acordado
Gritando em silêncio
Outra noite desperto
Mergulhado no escuro.

Pesadelo profundo
Culpa ácida corroe minha mente com angustia.
Uma casa cheia esvaziada de vida
Agregados que pensam que são uma família.
Orfandade pior não há que tendo os pais a viver como se não os tivesse.

Mergulhado no seu mundo
Preso no meu
Fugindo dos fantasmas
Tenho medo das palavras
Dos olhares
Julgam quando não querem julgar
Escolhem sem querer escolher
Matam-me, mas eu não morro.
Ilusão de quem sofre em silêncio
Fugitivo
É para o nosso bem, não é para o seu.
Meu bem é ter você por perto.

No escuro meditei e vi a verdade brilhar como uma luz tomada pelas sombras
Naquela noite tive a certeza dubitável do meu fracasso.
Minha vergonha
Meu excesso...
Punição divina
Castigo para o transgressor.

Raiva inexiste
Ódio muito menos
Existe apenas tristeza
Falta de força, fraqueza
Pois, resistindo, me machuco
Não quero lutar mais
Por isso para o exílio irei
Poupar-te de ver os olhos do derrotado
De ter pena das minhas misérias...

E outra vez no silêncio...
Outra noite acordado
Apenas o som da lua e das estrelas
Sozinho
Sem lágrimas, nem estas me acompanham
Um riso longínquo me vêm a memória
É o cochilo desejado meu silêncio neste monólogo.

Spes et laetitia (esperança e júbilo)

Por que ainda desejo teu abraço?
Por que  ainda quero olhar fundo nos teus olhos?
Por que ainda és esperança e júbilo para mim?

Porque o teu abraço me protege
Muralha santa contra os meus inimigos
Escudo que bloqueia meu sofrimento
Porta que se abre e me acolhe.

Porque teus olhos profundos me convidam para o mergulho
Prisão sem grades
Lança penetrante que perfura a minha alma
Janela que revela o novo mundo.

Eu ainda te espero
Quero alegrar-me junto de ti
És causa de alegria
Tens a semente da esperança
És remédio para alma e perfume agradável.

Não me sejas indiferente
Não ignores o que sinto
Oferece-me o teu beijo
Dá-me do teus carinhos
Rejubila-te com o meu júbilo
E ofereça-me o teu sorriso quando o meu se apagar.

Não te peço muito
Nem o que não podes oferecer
Peço apenas tua companhia
Complemento de humanidade
Alegria que dissipa a escuridão
Presença que expulsa a saudade
Esperança resistente que habita o meu coração.

És esperança...
És alegria...
Só tu podes ser o luzeiro que irá me orientar nas noites mais escuras e clarear clareiras escondidas.


terça-feira, 21 de maio de 2013

Perí Aletheias (Verdade)



Tudo o que eu tinha para te dizer está dito
Tudo o que eu podia lhe ensinar foi transmitido
Verdade que sai da minha boca
Descrição da realidade
Ser emergente, natureza naturada.

Tudo oque eu tinha para dizer o coração já disse
Cada argumento, silogismo das emoções
Cada frase, cada palavra, realidade fragmentada.

Tudo o que eu podia lhe ensinar te foi entregue
Ensinar é mostrar, com palavras ou com gestos
Ensinar é sendo o que se é; revelar o inaudível.
Em cada fragmento, em cada parte um todo.

Verdade escondida, natureza atrevida
Verdade revelada, realidade desnudada
Amor união das verdades
Discórdia desacordo das palavras
Poesia é caminho fabricado
Verdade é natureza expressada.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Resistência




Agüentar de pé
Seguir em frente
Até que haja calos
Até que não haja força!

Resistir, esticar, distender
Insistir, persistir, relutar até morrer...

Eu resisto a ti
Tu resistes a mim...

Agüento o tranco
Suporto o peso do mundo
Seco as lágrimas
Enxugo meu suor

Resisto a dor
Insisto no meu amor
Sou cativo da liberdade
Escravo da consciência

Resisto, sou forçado, impelido
Resisto, contra vontade...
Resisto, mas não quero, pois o que eu quero não me é lícito ter.